A aquisição desta participação nos dois blocos à petrolífera que integra o grupo Mitsubishi Corporation, a Angola Japan Oil Co (AJOCO) já estava a ser negociada há meses e, ainda segundo informou a petrolífera privada francesa, envolveu 80 milhões de dólares, podendo atingir os 105 milhões conforme a evolução do preço do crude.
Em causa estão, na quota agora adquirida pela Maurel & Prom (M&P), 4.600 barris por dia dos blocos 3/05 e 3/05A, explorados ainda pela Chevron, ENI e as angolanas SOMOIL (privada) e Sonangol, que é o operador através da Sonangol P&P..
Já com presença significativa em África, nomeadamente na Nigéria, Gabão e Tanzânia, a M&P entra agora em Angola onde pretende criar novas oportunidades para sustentar o seu crescimento, como avançou o seu director executivo Michel Hochard.
"Esta chegada a Angola é um marco importante para a estratégia de crescimento da Maurel & Prom e mostra que estamos prontos a reagir rapidamente face ao surgimento de novas oportunidades. Estamos muito satisfeitos por iniciar uma nova fase da nossa história com esta entrada em Angola", disse ainda este responsável da M&P.
O bloco 3/05 está em produção desde a década de 1980 e consiste em oito campos maduros (Bufalo, Cobo, Impala, Impala SE, Oombo, Pacassa, Palanca e Pambi), estando garantida a produção actual até 2025, mantendo-se em aberto a possibilidade de prolongamento.
O bloco 3/05A, que inclui dois campos, Caco e Gazela, e apresenta-se como um dos mais importantes potenciais depois da descoberta do campo de Punja, que foi considerado no sector como uma importante descoberta que ainda está em fase de preparação para ali arrancar a produção.
Esforço do Executivo para manter produção estabilizada
Recorde-se que o Governo, através de vários decretos presidenciais, tem em curso um esforço para rejuvenescer e impulsionar a capacidade produtiva nacional e os investimentos no petróleo e no gás natural de forma a atrair mais investimento externo para o sector petrolífero.
Isso passa também, como o garantem estas iniciativas legislativas, baixar as taxas aplicadas aos denominados campos marginais - com menos de 300 milhões de barris em reserva -, cortando de 20 para 10 por cento na produção petrolífera e de 50 para 25 por cento no rendimento desses mesmos campos.
Nestes decretos, já deste ano, é aindaconsiderada a questão dos campos onde a produção tem potencial para se prolongar para lá das datas previamente acordadas pela concessionária, desde que não existam colisões com novas áreas sob contrato de concessão..
Estas iniciativas são uma resposta clara ao que são, por exemplo, as preocupações mostradas pelo relatório da Agência Internacional de Energia, publicado no início de Março último, denominado "Oil 2018", onde a perspectiva de uma contínua e prolongada baixa na produção pode levar Angola a perder o seu actual estatuto de grande produtor, sendo mesmo actualmente o segundo maior produtor africano, logo a seguir à Nigéria.
Recorde-se que uma das razões que levou a agência de "rating" Fitch a retirar Angola de um Outlook negativo para estável a questão do aumento do preço do crude nos mercados internacionais, considerando a sua actual produção em volume, o que pode deixar de ter a mesma importância caso a quebra perspectivada pela AIE se confirma já nos próximos tempos.
No entanto, informações recentes divulgadas pelo Executivo, apontam paras que Angola tenha actualmente confirmadas reservas de 6 mil milhões de barris, o que permite manter a produção actual de cerca de 1,4 milhões de barris por dia apenas para os próximos 10 anos.
O Governo admite que 65% destas reservas estão localizadas em águas profundas, com custos de exploração mais caros.
Os dois blocos onde a M&P vai entrar em breve, depois de conformadas as dispoções legais, entrar, estão situados em aguas rasas, que é uma vantagem no que diz respeito aos custos de exploração e que garantem maior segurança no caso de uma reviravolta em baixa do valor do crude nos mercados internacionais.
A meta é manter a produção acima dos 1,4 milhões de barris por dia
Ainda esta semana, o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos garantiu esta semana que vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que até ao final da legislatura, em 2022, a produção nacional de petróleo não baixe dos 1,4 milhões de barris por dia.
Este posicionamento do ministro do sector, Diamantino Azevedo, manifestado no Sumbe, Kwanza Sul, durante as Jornadas Científicas e Técnicas sobre Metodologia da Classificação e Cálculos dos Recursos Minerais Sólidos e Hidrocarbonetos, ocorre numa altura em que organismos internacionais preponderantes para o sector petrolífero, como a Agência Internacional de Energia (AIE) manifestam profundas dúvidas sobre a manutenção dos actuais níveis da produção de petróleo em Angola.
Apesar de o horizonte de produção considerado bom pelo Executivo, 1,4 milhões de barris por dia (mbpd), estar muito longe dos máximos obtidos quando o preço do barril atingiu os 147 USD, em Junho de 2008, altura em que se apontava aos 1,9 mbpd, segundo a AIE, Angola deverá ver a sua capacidade exportadora reduzida a 1,29 mbpd em 2023.
Este declínio acentuado da produção nacional de crude resulta de diversos factores, segundo o relatório da AIE "Oil Report 2018", publicado em Março deste ano, nomeadamente, entre outros, a deterioração da infra-estrutura de produção, devido ao desinvestimento das multinacionais por causa da queda abrupta do valor do barrio em meados de 2014 ou ainda a perda de vitalidade dos blocos mais antigos pela chegada ao fim do seu tempo de vida útil.
Estas declarações de Diamantino Azevedo surgem numa altura em que o barril de crude em Londres (Brent) , onde é definido o valor das exportações angolanas, segue em baixa há já uma semana, caindo de quase 85 USD por barril para pouco mais de 75 a meio da manhã de hoje.