O impulso para a fasquia dos 90 USD ter sido ultrapassada foi a crescente tensão político-militar no leste da Europa, onde Rússia, o segundo maior produtor mundial, e a NATO medem forças em território ucraniano, mas o que retirou, ligeiramente, já hoje, chão ao crude nos mercados foi a ameaça da Reserva Federal dos EUA de fazer subir as taxas de juros e a valorização cambial do dólar.
A valorização ou desvalorização da moeda norte-americana é um dos elementos mais decisivos para o sobe e desde do barril nos mercados, porque, sendo a moeda "franca" onde este negócio assenta, os países importadores pagam mais ou menos por barril conforme as suas moedas nacionais valem mais ou menos USD.
Com esta nova configuração dos elementos decisivos no negócio global do petróleo, seja a questão da FED e a esperada subida das taxas de juros nos Estados Unidos, a valorização do dólar, e a tensão no leste europeu e no Médio Oriente, onde os rebeldes iemenitas voltaram a atacar os Emirados Árabes Unidos, o desequilíbrio surgiu contra o barril que hoje, 27, estava a valer, antes das 11:00, hora de Luanda, 89,57 USD, mas que, por volta das 11:30 já tinha voltado aos 90,14 USD.
Este cenário, que não deixa de ser periclitante para os exportadores, não parece meter medo à Arábia Saudita, o maior exportador mundial, que estima que nos próximos meses a procura mundial vai suportar uma nova e vigorosa escalada do preço do crude dos mercados.
Certo e seguro parece ser já que a pandemia da Covid-19, que nos últimos anos foi a grande responsável pela queda gigantesca no valor da matéria-prima, já não quem mais ordena e começa a diluir a sua influência no dia a dia dos mercados petrolíferos.
Outros dos factores considerados pelos analistas como decisivos é a aparente incapacidade dos produtores em aumentarem as suas quotas, mesmo no seio da OPEP+, onde alguns dos membros já mostraram não estarem sequer à altura de cumprirem com as metas estabelecidas no aumento de 400 mil barris por dia ao longo do mês de Janeiro, como é o caso de Angola, que ficou alguns milhares de barris abaixo do seu compromisso.
No início de Fevereiro a OPEP+, grupo que agrega os 13 países exportadores (OPEP) e 10 não-alinhados onde pontifica a Rússia, volta a reunir para realinhar o diapasão para a produção dos próximos meses, esperado os analistas que não ocorram grandes alterações ao que está em curso, ou seja, elevar a produção em 400 mil barris por dia mensalmente.
Para Angola, o crescente valor do barril é uma ajuda preciosa para as contas nacionais, onde o Executivo de João Lourenço gere um OGE elaborado com o barril a valer, em média, 59 USD, o que lhe garante um super avit de quase 30 USD, ao valor de hoje.
Mas, com o Governo a ter no petróleo ainda 95% do total das exportações nacionais, mais de 35% do PIB e pelo menos 60% das despesas do Executivo, a questão da decrescente produção, que já está abaixo dos 1,1 milhões de baris por dia - a uma distância gigante dos mais de 1,8 mbpd há pouco mais de uma década - é uma dor de cabeça permanente, pelo menos enquanto a almejada diversificação da economia, que deverá libertar o País da dependência do crude, não for uma realidade palpável.
O que diz o FMI
E é isso que o FMI, no relatório da 6ª revisão do seu programa de apoio financeiro, vem pedir ao Governo angolano, que aprofunde o processo de diversificação da economia nacional e modernize o sistema financeiro no que diz respeito ao sistema de supervisão e regulação.
O FMI já desembolsou, até agora, e desde 2018, 4,5 mil milhões USD para Angola, no âmbito deste programa de assistência financeira. E, como é costume na generalidade dos seus relatórios sobre os países intervencionados, depois dos elogios, larga as questões mais problemáticas, sendo disso exemplo a questão das reformas no sector financeiro, nomeadamente o seu sistema de regulação e supervisão, e na diversificação da economia, onde a instituição não mostra estar satisfeita.
Sublinhando o "substancial progresso nas reformas do sector financeiro", o FUndo dirige-se às autoridades angolanas afirmando a necessidade de "continuar os esforços para garantir a saúde do sector".
A questão da diversificação económica levou a instituição financeira mundial a formular uma recomendação clara: "Diversificar a economia através de um continuado programa de reformas profundas é essencial para conseguir crescimento inclusivo e a consolidação da estabilidade económica".
"A Rápida expansão do sector não-petrolífero exige a implementação de reforçadas reformas que devem dar solidez à governação, melhorar o ambiente de negócios e promover o investimento privado, abertura no comércio e ainda o desenvolvimento do capital humano e das infra-estruturas".
Garantir melhor acesso ao crédito para as pequenas empresas, agilizar administrativamente os processos de investimento privado, libertar o mercado no que diz respeito a preços é considerado pelo Fundo como fundamental para potenciar o crescimento da economia no seu todo.
A agricultura, as telecomunicações e o sector financeiro devem ter uma atenção redobrada do Governo de João Lourenço por serem, lembra o FMI, sectores-chave para garantir que Angola consegue deixar para trás a crise.