A puxar o crude para cima nos mercados internacionais está a refocagem em Gaza dos receios de uma escalada na tensão regional com Israel de novo a apontar as baterias para Gaza, ameaçando, agora com "livre-trânsito" passado pelos Estados Unidos, invadir Rafah.
A cidade de Rafah, no sul do território, junto à fronteira com o Egipto, é o último bastião por destruir pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) e onde estão mais de 1,2 milhões de refugiados palestinianos, empurrados que foram pela invasão israelita que já dura há quase sete meses.
Até há bem pouco tempo, o Governo israelita tinha colocado em stand by o avanço sobre este último reduto em Gaza devido à pressão internacional, especialmente dos aliados europeus de Israel, porque o avanço das forças de Telavive resultará sempre em milhares de civis mortos.
Porém, com a recente troca de ataques entre o Irão e Israel, o foco israelita mudou e só depois de, alegadamente, os EUA terem dito a Benjamin Netanyhau, o primeiro-ministro israelita, que poderia atacar Rafah se aceitasse reduzir as brasas com o Irão, é que o foco voltou ao sul de Gaza.
Até não se sabe, nem nunca se saberá, se Israel travou os ímpetos contra o Irão por causa do "livre-trânsito" passado por Washington para Rafah ou se o poderio militar do Irão a isso os aconselhou, mas sabe-se que o impacto nos mercados petrolíferos foi imediato, como os EUA pretendiam.
Desde esse momento, pouco depois de 13 de Abril, aquando do ataque iraniano sobre Israel, em resposta ao míssil lançado por Israel sobre o consulado do Irão na Síria, matando vários generais de topo, que o barril tem estado a corrigir das elevadas subidas precedentes.
De tal modo assim foi que dos 92 USD a 05 de Abril, quando atingiu o topo da chaminé do ataque em Damasco, até ontem, segunda, 22, o barril perdeu mais de seis dólares, estando esta quarta. 24, a ganhar novos tons de verde nos mercados.
Perto das 09:30, hora de Luanda, desta tquarta-feira,24, o barril de Brent estava a valer 88, 55 UD, mais 0,15%, o que demonstra que a volatilidade no Médio Oriente é a razão principal, nas últimas semanas, para o sobe de desce da matéria-prima.
É tanto isso que os mercados ignoram simplesmente os dados que chegam das economias americana e chinesa ou até das novas ameaças que pendem sobre o conflito na Ucrânia com a nova avalanche de armas Made in USA a chegar ao campo de batalha.
Alguns analistas, como, por exemplo, o que a Reuters cita, sublinham que, apesar da forte tensão das últimas semanas no Médio Oriente, região de onde sai quase 35% do petróleo mundial, não ocorreu qualquer disrupção na oferta, o que resultou no arrefecimento do pânico, mas esse risco não pode ser considerado extinto, nota Sugandha Sachdeva, da SS WealthStreet.
A reviravolta na análise é uma permanente iminência, porque se Israel, como se antecipa, invadir Rafah e o número de civis mortos disparar, como é inevitável, não só a tensão vai engordar como os ataques dos rebeldes iemenitas Houthis sobre a navegação no Mar vermelho, de e para o Canal do Suez, ganhará novo fôlego, como é de antecipar uma revoada de ataques do Hezbollah sobre o norte de Israel a partir do sul do Líbano.
Todavia, este cenário, não é aconchegante para Angola, que, apesar da diminuição da importância do sector petrolífero para o seu crescimento, como pode ser revisto aqui, ainda não pode ser descartado como essencial.
E as contas a fazer são estas...
... porque, apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.
E ter o Brent nos 87 USD, embora ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, é claramente menos frutífero para os cofres nacionais que os 92 de há alguns dias, permitindo, contido, diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.
Entretanto, na Namíbia...
... a portuguesa Galp, que saiu do offshore angolano de vez há pouco mais de um ano, é a nova estrela do offshore namibiano, depois de ter anunciado, e ver disparado o seu valor em bolsa, que encontrou volumes generosos de crude no bloco onde detém 80% e que explora com o duas companhias namibianas, a NAMCOR (estatal) e a CUSTOS.
Segundo o comunicado da companhia portuguesa, citado pelo OIlPrice, a descoberta no poço Mopane, no offshore namibiano, contém mais de 10 mil milhões de barris de petróleo comercial, o que não faz da empresa um gigante como da Namíbia um player de respeito neste sector.
Com o reflorescer do offshore namibiano, a sul, a Namíbia, que tem igualmente potencial no seu on shore, como pode ser revisto nos links em baixo nesta página, onde os gigantes Shell e TotalEnergies já estão a investir biliões, a atenção das restantes majors enderão a focar-se neste novo el dorado do crude.
E isso, inevitavelmente, constitui um risco para Angola, que pode ver o seu plano de atracação de investimentos externos para o sector, pelo menos fragilizado.