Neste momento, os mercados reagem ao que já é conhecida como a crise energética europeia, que surgiu na forma de escasso fornecimento de gás natural quando o Inverno se aproxima sem que pareça haver solução para o problema, o que está a arrastar os preços do petróleo e do carvão de igual forma.
Mas em pano de fundo, o problema já vem de longe e nem sequer é apenas suportado pelo impacto da pandemia da Covid-19 no desinvestimento no sector por parte das majors que, nalguns locais do mundo, incluindo Angola, simplesmente tiraram o pé do acelerador na área das pesquisa por novas jazidas.
O problema vem muito detrás e já em 2016, como, de resto, o Novo Jornal noticiou na altura, a então PCA da Sonangol, Isabel dos Santos, suportada por um relatório abrasivo da consultora Wood McKenzie, lembrava que o declínio do investimento em pesquisa estava a gerar uma tempestade perfeita que conduziria a uma severa crise energética devido à diminuição da oferta.
Ness altura, em 2016, a Wood McKenzie divulgou um documento onde alertava para o facto de há 70 anos, desde 1947, não haver tão escasso investimento em pesquisa com sinais de que o problema iria agudizar-se. Problema esse que se iria traduzir em menos stocks, menos oferta e a natural escalada nos preços subsequente.
E assim foi, mas muito mais do que se esperaria, mesmo para esta consultora, porque não podia prever o surgimento, em 2020, da pandemia da Covid-19, que levou a um afundanço neste cenário de perda de capacidade, a ponto de, por exemplo, a própria OPEP+, que agrega a OPEP e 10 produtores liderados pela Rússia, desde 2017, com o objectivo de agir de forma a equilibrar os mercados em perda devido às sucessivas crises, não estar a conseguir cumprir com as suas próprias metas de aumento da oferta, sendo Angola um dos membros que contribui para esse afunilamento.
Angola, recorde-se, deixou praticamente de contar, como a Reuters noticiou em finais de 2020, com sondas em actividade no seu off shore quando, há alguns anos eram entre 5 e sete em actividade em simultâneo, o que levou a um forte declínio da produção nacional que passou de mais de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) em 2008 para os actuais 1,2 mbpd e em queda continuada, não só devido à falta de novas descobertas como também porque os seus principais campos estão a definhar de velhice.
Os mais optimistas no sector há muito que antecipavam este momento, com o barril de petróleo Brent a bater e ultrapassar os 80 USD.
Há muito que de forma escassamente científica se diz nos corredores da economia nacional que esta, pelo menos enquanto não ocorre a mirífica fuga à dependência do crude, só gera superavit suficiente para se fazer sentir no bolso das pessoas e nas contas-correntes das empresas com o barril de Brent acima dos 80 USD.
E isso já está conseguido O Brent, que sobe substancialmente há dias a fio, valia, na segunda-feira, 28, perto das 10:20 de Luanda, para contratos de Novembro, 80.31 USD, +0,90% que no fecho de segunda-feira, enquanto no WTI, em Nova Iorque, o barril valia 76.30 USD, +1.13% que no fecho da anterior sessão. Mas hoje, às 10:00, os gráficos mostravam que o Brent tinha recuado para os 78,45 USD, menos 0,81%, enquanto o WTI perdia 0,82%, para 74, 67 USD por barril.
Apesar desta correcção em baixa, a maior parte dos analistas considera inevitável que o barril chegue aos 90 e mais além, como, de resto, os oráculos de serviço, como a Goldman Sachs antecipa há largos meses, colocando mesmo como inevitável que o barril atinja os 100 USD, provavelmente ao longo de 2022.
Para já, o que está a gerar este remoinho é o afunilamento da oferta de crude por falta de investimento nos últimos anos nas áreas da pesquisa, como é disso exemplo Angola, que não está sequer a conseguir suprir a sua quota - apenas alguns milhares de barris - no seio da OPEP face ao declínio da produção nacional, e também do envelhecimento dos seus campos mais produtivos.
Face a uma crescente procura gerada no rasto da saída de cena da Covid-19, que provocou uma das mais pesadas crises globais em décadas, a OPEP+, que agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de 10 não-alinhados liderados pela Rússia, tem vindo a aumentar a produção, depois de pesados cortes para equilibrar o asfixiado mercado planetário pelo Sars CoV-2 em 2020, na ordem mensal dos 400 mil barris por dia a partir de Agosto e até final do ano.
Mas esse aumento tem-se revelado escasso para corresponder às necessidades, até porque alguns dos membros não estão a conseguir corresponder, como, já se disse, é o caso de Angola, mas também da Nigéria ou do Cazaquistão, sendo as causas muito semelhantes, falta de investimento em manutenção e na procura de novas jazidas, especialmente depois de 2014.
Face a este cenário, os países exportadores e, em especial, as economias mais petro-dependentes, têm mais que razões para sorrir, mas o tempo de manter essa satisfação visível tem os dias contados, pelo menos é o que pensam aqueles que lutam pela transição energética dos hidrocarbonetos para energias renováveis de forma a salvar o planeta do sufoco dos gases com efeito de estufa, como pode ler aqui.
O deve e o haver angolano
Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB, este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.
A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,2 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento / envelhecimento dos campos mais activos.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção tem vindo a perder viço especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.
Para já, com o barril quase nos 79 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de quase 41 USD em cima dos 38 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.
Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".