A subida vertiginosa e em escassas horas do valor do barril de crude na passada sexta-feira, só comparável ao que sucedeu a 14 de Setembro do ano passado, quando foram lançados misseis contra a infra-estrutura petrolífera da Arábia Saudita, teve como "combustível" a morte de Qassem Soleimani, um dos heróis militares do Irão, através de um míssil disparado por um drone, em Bagdade, capital do Iraque, por ordem do Presidente dos EUA, Donald Trump.
Logo de seguida, o líder supremo do Irão, aiatola Ali Khamenei, prometeu vingança e os mercados do petróleo, especialmente o Brent de Londres e o WTI, em Nova Iorque, dispararam, mantendo-se em valores entre os 68,5 e os 69,3 de segunda-feira até ontem, quarta-feira, quando a prometida vingança do Irão pela morte do seu "mártir", começou a ser executada, com o ataque de misseis a duas bases norte-americanas no Iraque.
Sem fazer vítimas, segundo Washington, com mais de 80 mortos registados entre as forças dos EUA, segundo Teerão, este ataque levou Donald Trump a anunciar para o fim da tarde de quarta-feira, em Angola, uma declaração formal sobre as explosões nas bases norte-americanas no Iraque.
Apesar de manter o tom dramático e arrogante sobre o poderio inigualável das armas dos EUA, prometendo destruir o Irão em caso de provocação continuada, a verdade é que Donald Trump acabou por optar por um tom muito mais moderado que nos dias anteriores, anunciando o envolvimento da NATO nas operações futuras no Médio Oriente - uma cedência formal à intermediação -, admitindo disponibilidade para apoiar o desenvolvimento do Irão se Teerão "mudar o seu comportamento" e sugerir a "elaboração de um novo acordo nuclear".
Este discurso baixou consideravelmente a tensão vigente até ontem, quarta-feira, e isso reflectiu-se de imediato nos mercados internacionais do petróleo, com uma queda abrupta verificada já hoje, abrindo, por exemplo, a pouco mais de 65,5 USD por barril em Londres.
No entanto, apesar de os valores de hoje serem já de si inferiores aos que se verificavam antes da morte de Qassem Soleimani, estes reflectem já uma ligeira subida em relação ao fecho de ontem, porque, entretanto, foram disparados vários roquetes sobre a denominada "Zona Verde" da capital iraquiana, onde se situa a embaixada dos EUA em Bagdade, o que fez aumentar ligeiramente o risco de um novo recrudescimento dos ânimos entre Teerão e Washington.
Apesar de, para já, a resposta do Irão, oficial, ter sido abaixo do que se esperava, com "apenas" o ataque às duas bases dos EUA no Iraque, e o tom mais conciliatório de Donald Trump, a sucessão de roquetes lançados sobre locais com presença militar e diplomática dos Estados Unidos no Médio Oriente, ou mesmo em África, como aconteceu entretanto numa base que este país tem no Quénia, com vários militares mortos e aviões destruídos, segundo analistas citados pelos media internacionais, podem fazer inverter o quadro de aparente arrefecimento dos ânimos.
Outro indicador que vai contra os interesses económicos dos países exportadores de crude. Especialmente aqueles que atravessam crises mais profundas, como é o caso de Angola, é que, apesar desta sucessão de episódios de violência no Médio Oriente, a J.P. Morgan, uma das mais relevantes casas financeiras do mundo, manteve, segundo a Reuters, a sua perspectiva para 2020 de um barril com preço médio de 64,5 USD.
O petróleo é uma das matérias-primas mais sensíveis ao surgimento de tensões políticas, económicas e militares, seja no Médio Oriente, onde é produzido quase 50% de todo o crude consumido no mundo, ou em qualquer dos países com produções relevantes, como está a suceder actualmente na Líbia, ou na Venezuela, entre tantos outros.
E é isso que explica que no espaço de apenas dois dias, quando não de apenas algumas horas, as perspectivas sobre o comportamento desta matéria-prima estratégica mudem de forma radical, o que, por vezes, dá a aparência de incoerência por parte dos media que noticiam estes episódios diariamente, mas que traduz apenas a rapidez com que a realidade evolui nos tempos que correm.