Segundo dados revelados pelo departamento de observação global do mercado do petróleo da S&P, entre Abril e Maio a OPEP ficou a produzir menos 170 mil barris diariamente, um efeito gerado pela necessidade do "cartel" reduzir a oferta num período de forte pressão internacional sobre as economias mundiais, desde logo a começar pela guerra comercial EUA-China.
Estes dados são ainda relevantes para se perceber a tendência global do crude porque surgem em contra-ciclo com a garantia da Arábia Saudita de que iria substituir a quebra na produção do Irão em resultado da aplicação integral das sanções dos EUA, permitindo perceber uma vontade dos associados da OPEP em manter a produção controlada.
E isso é, para Angola, essencial, porque em causa está o prolongamento ou do programa de cortes que desde o início de Janeiro último junta a OPEP e a Rússia (OPEP+) que está a enxugar os mercados diariamente em 1,2 milhões de barris por dia (mbpd).
E a Arábia Saudita é a chave para o que vai ser decidido sobre isso em finais de Junho, início de Julho, quando os países da OPEP+ se reunirem de novo em Viena de Áustria para analisar o actual plano e se o prolongam até ao final do ano.
A actual produção da OPEP, pouco mais de 30 mbpd, é a mais baixa desde 2015, e os sauditas, nesse alinhamento, com 9,7 mbpd, está igualmente a níveis de há mais de quatro anos.
Mas, em Viena de Áustria, a conversa definidora da posição a assumir pela OPEP+ vai ser mantida entre russos e sauditas e será se prolongam para a segunda metade de 2019 ou se este valor sofre alterações.
Para os interesses de Angola, na mesa das negociações, o que mais interessa é a manutenção da actual estratégia de cortes.
Até porque a queda na produção nacional de mais de 400 mil barris/dia - média dos últimos 10 anos - e a inevitável continuação da diminuição dos barris produzidos diariamente, que, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), deve bater no fundo em 2023, nos 1,29 mbpd faz de Angola um dos países contribuintes líquidos para a baixa da produção global, apesar dos esforços do Executivo para estancar a brecha com as reformas profundas no sector que foram já realizadas, desde a criação da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG) até às bonificações atribuídas às multinacionais que produzam a partir dos chamados campos marginais - com 300 mil ou menos barris.
Com as guerras comerciais em que os Estados Unidos estão envolvidos, a procura mundial por petróleo tem vindo a diminuir e o barril perdeu mais de 10 USD em menos de duas semanas entre finais de Maio e os primeiros dias de Junho, o que é outro elemento que vai estar em foco em Viena, onde os dois gigantes - Rússia e Arábia Saudita - mostram, pela primeira vez, ao mais alto nível, desde que em Novembro de 2016 teve início esta parceria, não estarem totalmente alinhados sobre o que é mais "adequado" para o futuro.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou recentemente que a vontade de Moscovo é manter a cooperação com a OPEP, porque isso é o que mais serve os interesses nacionais.
Mas a verdade é que a diferença sobre o que é o "preço justo" do barril de ouro negro está em cima da mesa e este tema está condenado a ser um dos principais tópicos do encontro de Viena, com a Rússia satisfeita com o barril acima dos 40 USD e a Arábia Saudita a carecer do barril a valer mais de 80 USD, muito mais consonante com a vontade angolana, o deverá ficar claro durante as conversações de Viena.