E é isso que pode estar mesmo para acontecer em breve se a ameaça feita por Anton Siluanov, ministro das Finanças da Rússia, país que desde finais de 2016 se associou à OPEP, com mais outros 11 produtores, constituindo de forma ad hoc, a OPEP+, for concretizada e que é elevar a produção substancialmente face aos ganhos astronómicos que os EUA estão a obter para a sua indústria petrolífera à conta da contenção do "cartel".
Isto, porque graças às restrições que a OPEP+ observa desde o início de 2017, de forma intermitente, na produção, os EUA tem dado asas à sua produção, seja a tradicional, on shore e offshore, seja na produção alternativa, no chamado fracking, ou petróleo de xisto, aproveitando os preços altos que só são possíveis devido aos cortes do "cartel", e, especialmente devido a isso, porque a produção norte-americana tem um custo médio por barril elevado, sendo, por exemplo, no fracking, o breakeven de cerca de 70 dólares por barril.
Graças aos cortes da OPEP+, que, recorde-se, desde 01 de Janeiro de 2017, por largos períodos, tem subtraído 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) em média, estando actualmente, desde 01 de Janeiro deste ano, esse volume em mais de 1,2 mbpd, os EUA são agora os maiores produtores mundiais, ultrapassando a Arábia Saudita e a Rússia, com cerca de 12 mbpd extraídos em Fevereiro deste ano.
Face a este cenário, onde, segundo o ministro russo das Finanças, citado por alguns sites da especialidade, a partir de declarações iniciais à agência de notícias russa, TASS, o que a política de cortes da OPEP+ está a fazer é a dar espaço para gerar fortes ganhos à indústria do petróleo nos EUA, que está a ganhar cada vez mais quota de mercado e mercados anteriormente dominados pelos países do "cartel", o que pode estar para breve é um aumento tanto da Rússia, actualmente nos 10.5 mbpd, como da Arábia Saudita, excepcionalmente próximo dos 10 mbpd, para acabar com a boda do fracking norte-americano.
Alguém se lembra de 2014?
Mas este cenário já não é novo e, em 2014, ano em que começou a mais saliente crise económica e financeira de Angola em muitas décadas, e que o país ainda vive intensamente, devido ao abrupto declínio dos preços do crude, foi também para travar o crescendo da produção dos EUA e o fortalecimento da sua indústria petrolífera que a Arábia Saudita iniciou a política, que depois os outros membros seguiram, de "pump at will" (extrair à vontade), levando o barril para valores abaixo dos 30 USD.
Rapidamente, as economias petrodependentes, como a Angolana, mas também outras, como, inclusive, a saudita, entraram numa espiral ascendente da crise, o que levou a que em finais de 2016 os sauditas, que se uniram aos russos, propusessem uma política de cortes para acabar com a crise.
Se, por um lado, destruiu a indústria do fracking dos EUA - agora a recuperar devido aos preços acima dos 70 USD -, também deixou de rastos as economias dos membros da OPEP.
E o que pode estar agora a ser pensado é uma estratégia semelhante, logo quando o barril de crude , como é o caso do Brent de Londres, que define os preços das exportações angolanas, estava no final da sessão de ontem quase nos 72 USD, o valor mais alto de muitos meses, gerando uma sobejamente apreciada folga nas contas do Estado.
Segundo o que disse Siluanov, o ministro russo das Finanças, com o desmoronamento do fracking dos EUA, chegará também, admitem alguns analistas, o descalabro do actual preço do barril, que em três a quatro meses pode descer dos actuais 72 USD para 40 ou menos.
Com o calendário da OPEP+ para revisitar o acordo que está em vigor estabelecido para Junho próximo, a posição da Rússia, face a este pronunciamento do ministro das Finanças, poderá ser o de acabar com os cortes.
Se assim for, e apesar de os ministros da Energia saudita, Khalid al-Falih, e russo, Alexander Novak (ambos na foto), serem quem tem assumido as posições dos seus países - o que permite admitir que serão também eles agora a ter a última palavra -, o acordo existente, que permitiu, novamente, acabar com o excesso de produção mundial, poderá estar no último fôlego, e em breve o fantasma do petróleo barato poderá voltar a assombrar as contas dos países mais dependentes das exportações de crude, com Angola claramente na linha da frente dos potencialmente mais afectadas porque o petróleo ainda representa mais de 94% do total das suas exportações.
O único travão a esta possibilidade é que o interesse do ministro da Energia russo não coincida com o interesse do ministro das Finanças, acabando por ser o Presidente Putin a decidir, e uma solução deste género terá sempre de passar por conversações ao mais alto nível entre Moscovo e Riade.
A alimentar essa possibilidade estão as palavras recentes, citadas pelas agências, de Khalid al-Falih, o ministro saudita da Energia, que afirmou estar o seu país empenhado na prossecução dos acordos existentes sobre os cortes na produção actualmente em vigor, embora as notícias recentes de que os russos não estão a mostrar o mesmo empenho, com um incumprimento claro das metas estabelecidas nesse acordo, levante dúvidas sobre o que vai suceder quando o acordo for revisto em Junho.
Mas certo é que se a Rússia voltar a aumentar a produção, os sauditas vão ter de seguir esse passo porque, como lembram os analistas dos mercados petrolíferos, se o não fizesse, perderia importantes quotas de mercado para a Rússia em economias como a chinesa ou a indiana e então cumprir-se-á o presságio do ministro russo das Finanças, Anton Siluanov, e o barril valerá em breve 40 USD ou menos.
Isto, porque a produção mundial é actualmente superior à procura e os preços altos só são possíveis através da manipulação dos mercados via acordos alargados de corte na produção de blocos como a OPEP+, cuja produção atinge mais de 40 por cento do petróleo produzido diariamente em todo o mundo, que é de cerca de 83 milhões de barris.