Esta posição de Diamantino Azevedo surge como uma espécie de meio-termo quando os restantes membros da OPEP e da OPEP+, organismo ad hoc que agrega ao "cartel" países como a Rússia ou o Cazaquistão, entre outros, incluindo a Nigéria, o maior produtor africano, defendem um aprofundamento dos cortes como garante de controlo dos preços e como prevenção para um eventual excesso de produção em 2020 que possa fazer tombar o valor do barril nos mercados internacionais.
Isto, porque Angola prevê, como o governante adiantou antes de partir para Viena, aumentar a produção em 2020, em média, dos 1.390.000 barris por dia para 1.436.000, o que contrasta com, por exemplo, a exigência da Arábia Saudita de uma melhor "compliance" enre os membros no que diz respeito aos cortes assumidos proporcionalmente por cada um dos membros da organização.
O ministro dos Recursos Minerais e Petróleo pormenorizou que o entendimento do Executvo angolano é o de que é possível encontrar uma solução que permita um valor médio para o barril de crude que responda aos interesses dos países produtores/exportadores e os consumidores.
Admite, no entanto, que essa fórmula só pode ser conseguida através de um esforço dos países que integram a OPEP e a OPEP+, como tem acontecido nos últimos dois anos.
Para responder aos requisitos estabelecidos na decisão que antecedeu os cortes actualmente em vigor, Angola deveria estar a produzir 1,481 milhões de barris por dia (mbpd), quando o País apenas está a conseguir uma média de 1,390 mbpd, o que seria o contributo nacional para o corte em vigor desde 01 de Janeiro deste ano de 1,2 mbpd.
E é esse valor, de 1,2 mbpd, que Angola defende no âmbito das discussões que hoje começaram em Viena, primeiro na reunião da OPEP, e amanhã já alargada à OPEP+, mantendo estes valores, considerando Diamantino Azevedo, citado pela Angop, que "a continuidade dos cortes na produção vai beneficiar a economia angolana e não só, pelo facto de elevar os preços e proporcionar mais receitas cambiais".
A reunião de todas as expectativas
Esta reunião-chave da OPEP e da OPEP+ está a gerar forte expectativa nos mercados petrolíferos porque nos últimos dias surgiram notícias que apontam de forma clara para o aprofundamento dos cortes na produção.
Desde Janeiro de 2017 que a OPEP+ tem em curso cortes na produção, primeiro de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) e, desde Janeiro deste ano, de 1,2 mbpd, como forma de controlar em alta o preço do barril, que vive actualmente a pressão em sentido contrário da guerra comercial entre os EUA e a China, e ainda o excesso de oferta gerado pela crescente produção norte-americana, muito associada à indústria alternativa do fracking, ou petróleo de xisto.
Agora, quando arranca mais este ciclo de dois dias de trabalhos, onde estão alguns dos maiores produtores e exportadores mundiais, desde os gigantes Arábia Saudita e Rússia, aos grandes produtores do Médio Oriente, como o Iraque e o Irão, ou ainda as maiores reservas mundiais, como são as da Venezuela, mas também os "gigantes" africanos, a Nigéria e Angola, o que se espera é que sejam cumpridas as "ameaças" de novos cortes.
Cortes esses que têm por finalidade a subida dos preços, mas também impedir o excesso de oferta nos mercados em 2020, como alguns organismos mundiais esperam que aconteça, é o caso da Agência Internacional de Energia e da OPEP.
Este encontro, sublinhe-se, reveste-se de especial importância para Angola, bem como para todos os países que dependem significativamente das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas públicas, porque o atraso substancial na diversificação da economia, que o País ensaia já há vários anos, impõe o petróleo como factor determinante.
Para já, em cima da mesa, segundo fontes citadas pelas agências de notícias, está a possibilidade de um aumento dos cortes dos actuais 1,2 mbpd para 1,6 mbpd, mais 400 mil que o corte actualmente em vigor.
Hoje, o barril de Brent, vendido em Londres, praça onde é determinado o valor médio das exportações angolanas, estava, na abertura, a reflectir em baixa o contexto económico global, com o preço fixado nos 62.86 USD por barril, perto das 10:30, o que representa uma perda de 0,22% em relação ao fecho de ontem. Com o avançar do dia, o preço foi subindo, estando, a meio da tarde a registar uma subida importante, para 63.72 USD, mais 1.14% que no fecho de ontem, quarta-feira.
Esta reacção oscilante dos mercados resulta do facto de os cortes já estarem dados como certos e da ausência de sinais positivos oriundos das negociações que decorrem entre Washington e Pequim a propósito da guerra comercial entre os dois gigantes económicos que "infecta" a economia planetária e, por arrasto, a procura de petróleo.
Um dos factores determinantes para o sobe desce dos gráficos nos mercados petrolíferos são as declarações do Presidente dos EUA, Donald Trump, que ora diz que as negociações com a China estão a correr bem, ora estão a correr mal, servindo-lhe esse efeito, de facto, para controlar em baixa o valor do barril, uma condição essencial para o período eleitoral que vive - é candidato à reeleição em 2020 - onde o preço baixo dos combustíveis é historicamente determinante para o sentido de voto dos eleitores norte-americanos.