Numa entrevista à televisão pública, SABC, Jacob Zuma garante que, apesar da intensidade das pressões a que está a ser sujeito desde segunda-feira pelo Congresso Nacional Africano (ANC), partido que governa a África do Sul desde 1994, após o fim do apartheid, nunca lhe conseguiram explicar o porquê de o querem ver pelas costas.
Considerando "injusto" o que lhe está a acontecer, Zuma, sobre quem pende a ameaça do ANC de avançar na quinta-feira com uma moção de confiança, que se poderá traduzir em censura, insiste que não deixa a cadeira do poder.
Isto, depois de no Comité Nacional do ANC, órgão decisor do partido, ter ficado decido, ontem, que o Presidente da República tem de sair, deixando o cargo para o actual líder do partido, Cyril Ramaphosa.
Foi-lhe mesmo dado um prazo de 48 horas, que hoje caduca, para o efeito, sendo apontada quinta-feira para levar ao Parlamento uma moção de "desconfiança".
Este cenário pode, no entanto, revelar-se um prego com dois bicos, porque, como sublinham alguns analistas citados pela imprensa sul-africana, até ao momento, não existe nenhma contagem de espingardas dentro do grupo parlamentar do ANC que permita garantir a 100 por cento que Zuma não conta com apoios suficientes para derrotar a moção de censura/não-confiança.
A acontecer, o presidente do ANC, Ramaphosa, estaria em maus lençóis porque veria, assim, a moção atirada contra Zuma, virar-se contra si.
Ou seja, se o Presidente da República não ficar sem terreno, é Cyril Ramaphosa quem fica afastado da cadeira do poder e, provavelmente, ver-se-á desafiado por alguém da confiança de Zuma a ir a votos dentro do partido.
Os analistas advertem igualmente para a possibilidade de esta crise política poder resvalar para as ruas, o que poderia ser um tiro na solidez da democracia sul-africana, que é hoje, apesar de tudo, um farol para os países do continente africano em busca de consolidar a democracia.
Entretanto, a justiça do país ordenou buscas em casa de famílias de Zuma e da poderosa e milionária família Gupta, que há anos está sob suspeita de corromper o Presidente para obter facilidades em diversos casos.
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