Países como a Somália, o Quénia, a Eritreia ou a Etiópia, no Corno de África, estão desde o início do ano sob ataque de biliões de gafanhotos-do-deserto naquela que as organizações das Nações Unidas já consideram a pior praga destes insectos em mais de 70 anos, mas os enxames já estão a avançar também sobre o Uganda, o Sudão, o Sudão do Sul e a Tanzânia, deixando um rasto de destruição em culturas agrícolas essenciais para cerca de 20 milhões de pessoas, que estão agora sob o risco da fome, numa região já de si esmagada por uma das mais graves e prolongadas secas do último século.

Para lidar com esta ameaça, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), uma das agências da ONU que está na linha da frente desta guerra contra a praga de gafanhotos na África Oriental, e os respectivos governos, tem recorrido aos insecticidas espalhados nas áreas afectadas por via aérea, mas nada parece travar o avanço dos enxames que os especialistas admitem que chegam a conter mais de 150 milhões de insectos, o que lhes confere um poder de destruição avassalador.

O pior é que o número de enxames não parece dar mostras de diminuir, avançando a um ritmo, por vezes, superior a 100 quilómetros por dia, o que retira capacidade às equipas no terreno para anteciparem as suas movimentações e, assim, melhor conter o seu avanço.

Mas essa lacuna está prestes a ser retirada da lista de dificuldades das equipas técnicas constituídas por especialistas de todo o mundo com a entrada em cena de uma arma secreta para lidar com a imprevisibilidade da direcção que os enxames tomam a cada momento, não só em África mas também na Ásia, onde estes já estão a causar sérios problemas no Paquistão, Índia e China, como o Novo Jornal tem vindo a noticiar no seu site em www.novojornal.co.ao.

Um supercomputador, como avança a ONU através do seu Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA), está a levar a esperança que parecia começar a faltar aos especialistas no terreno, porque vai permitir, a partir do Quénia, onde já está instalado, prever para onde e quando vão avançar os enxames, permitindo desenvolver sistemas de combate preventivos mais eficazes, ao mesmo tempo que passa a ser possível informar as comunidades localizadas no caminho da praga com maior probabilidade de sucesso e de forma atempada.

Com esta nova ferramenta, fornecida pelo Departamento para o Desenvolvimento de Informação sobre o Clima em África, (WISER), em colaboração com o Met Office, ambos britânicos, e o Centro Africano para as Políticas do Clima, as colheitas poderão, com mais possibilidade de êxito, ser defendidas pelos agricultores, porque estes são avisados com maior antecedência da chegada do "inimigo", o que vai diminuir de forma significativa o risco de insegurança alimentar para milhões de pessoas.

Este supercomputador, que foi instalado no Centro Regional para o Clima do Quénia, recorre a dados fornecidos por vários satélites, utiliza ainda dados armazenados sobre as movimentações dos enxames, e permite verificar a vegetação existente nas áreas onde se encontram, o que aos técnicos vai servir para prever se os enxames têm ou não "combustível" para continuar a sua marcha destruidora que, no caso dos maiores, pode ser semelhante ao que alimenta uma população de 35 mil pessoas em apenas um dia.

Esta supermáquina, explica ainda o UNOCHA, permite obter informação detalhada e ao minuto sobre as previsões meteorológicas, com especial importância dada aos ventos, um aliado dos gafanhotos nas suas movimentações, e ainda a pluviosidade, essencial para a renovação da vegetação de que se alimenta.

Até ao momento, em pouco mais de dois meses, os enxames de gafanhotos-do-deserto já destruíram centenas de milhares de hectares de culturas agrícolas e vegetação essencial para o gado e para a vida selvagem, tendo a FAO á feito um apelo aos doadores internacionais para contribuírem para um fundo de cerca de 120 milhões de dólares norte-americanos, considerado o mínimo para manter o combate a esta praga em África.