As forças francesas presentes no Burquina Faso enquadram-se num acordo assinado em 2018 entre Paris e Ouagadougou e o objectivo era o combate aos jihadistas radicais islâmicos que há vários anos espalam o terror no norte e centro deste país do Sahel.

Desde que mudou o poder em Ouagadougou, depois de um golpe de Estado militar que o capitão Traoré encabeçou a 30 de Setembro de 2022, as relações com a antiga potência colonial caíram a pique ao mesmo tempo que, tal como sucede no vizinho Mali, é a Federação Russa que parece estar a conquistar a confiança destes governos, que acusam Paris de inépcia no seu desempenho militar.

Esta despromoção de Paris junto das suas antigas colónias, que se alarga também à República Centro-Africana, Níger, entre outros, é acompanhada de uma crescente influência de Moscovo, que aposta na sua empresa de soldados da fortuna, o Grupo Wagner, para levar a cabo as acções de combate e resposta à actividade terrorista dos grupos afiliados no "estado islâmico" e na al qaeda do Magrebe que atormentam com extrema violência as populações civis há anos.

Segundo a AFP, citada pela RFI, exuste um documento que comprova que Ouagadougou se retira unilateralmente do acordo com a França de 2018, o que obriga à saída dos militares franceses do país.

Face a este extremar de posições entre os dois países, o verniz pode estalar a qualquer momento, porque o Presidente francês não aceitou de imediato a ordem dada pelo Governo actualmente no comando em Ouagadougou, mesmo tratando-se de um Governo golpista, tendo Macron, ainda segundo os media franceses, pedido para que o capitão Ibrahim Traoré não se deixe "manipular pelos amigos russos".

Isto tudo, depois do primeiro-ministro de transição burquinense, Apollinaire Kyélem de Tembela, ter estado recentemente em Moscovo e depois de ter recebido na capital do país o embaixador da Federação Russa, o que expressa claramente o caminho estreito que Moscovo e Ouagadougou estão a trilhar, o que é obviamente incompatível com a tradicional influência de Paris neste país africano.

Macron disse mesmo que ia aguardar por esclarecimentos de Ibrahim Traoré, por sua influque admitiu que o que se está a passar no Burquina Faso possa ter a ver com o que se passa na Ucrânia, e que se trata de uma manobra russa para aprofundar a sua influência neste país do Sahel, há vários anos sob pressão jihadista.

Este é o segundo país da região a exigir a saída de militares franceses, depois do Mali, o que é claramente uma fase descendente do poder de Paris na FranceAfrique, uma expressão que serve comummente para definir a geografia francófona em África sob o chapéu protector militar e economicamente de Paris.

Tanto no Burquina como no Mali, sucedem-se as manifestações nas ruas das capitais, com milhares de pessoas, quase em exclusivo jovens, a exigir a saída de França e a apoiar a proximidade com Moscovo, empunhando bandeiras da Federação Russa.