Esta teoria da conspiração, segundo noticia hoje o The Guardian, está a crescer nas redes sociais chinesas de forma gradual e sólida nas últimas duas semanas, suportada nas últimas horas por um vídeo onde Robert Redfield, o director do Centro de Controlo para a Prevenção de Doenças (CDC), responde a uma questão de forma vaga.
Algumas mortes que possam ter sido atribuídas à gripe (influenza) podem, na verdade, ser resultado do Covid-19? Esta foi a pergunta. A resposta que gerou a oportunidade nos internautas chineses, com os media estatais chineses a insuflar essa possibilidade, foi: "Alguns casos foram, de facto, diagnosticados dessa forma nos Estados Unidos".
E foi esta resposta, vaga, que deu nova tracção à já conhecida teoria da conspiração sobre uma origem externa, nos EUA, do novo coronavírus, que a versão oficial de Pequim ainda é que teve origem num mercado alimentar de Wuhan em Dezembro do ano passado.
Um dos comentários mais repetidos no Weibo vai no sentido da defesa da ideia de que os EUA admitiram finalmente que entre os que morreram anteriormente de gripe eram, afinal, casos de coronavírus, o que resulta na conclusão de que os EUA são a origem da pandemia.
Seguem-se exigências de pedidos de desculpa de Washington a China como sendo ali que tudo teve início mas é a China que está a carregar com a culpa.
Esta teoria da conspiração, como avança ainda o The Guardian, tem os seus alicerces nas declarações feitas por um reputado investigador chinês, Zhong Nanshan, a 27 de Fevereiro, onde defende que a origem deste novo coronavírus pode ser externa.
"Pode não ter tido origem na China", disse Sanshan, explicando posteriormente que nada garante que o local onde uma doença foi descoberta é o seu local de origem, de ser ali a fonte primária.
Embora o investigador, que ganhou nome aquando da epidemia de SARS, em 2002, tenha igualmente afirmado que também nada garante que não seja Wuhan o berço da pandemia, os seus comentários iniciais foram replicados com insistência pelos media estatais chineses e ainda por diplomatas da rede externa chinesa, como o embaixador na África do Sul, que defendeu a mesma ideia, colocando dúvidas de que o vírus seja "Made in China".
E a Xinhua, a principal agência de notícias chinesa, escrever mesmo, há duas semanas, num editorial, que a "epidemia foi reportada em primeiro lugar na China mas isso não quer, necessariamente, dizer que foi na China que teve origem", sublinhando que a própria OMS entende que o Covid-19 é um fenómeno global com a fonte inicial por determinar.
Esta estratégica "inseminação" da ideia de origem externa da doença nas redes sociais é uma clara resposta de Pequim ao aproveitamento que alguns países, especialmente os EUA, estão a fazer para fragilizar a China e a sua influência no mundo, denominando de forma oficiosa a paternidade do vírus ao chamar-lhe "o vírus chinês" e ao ligar a este a crise económica e financeira que acompanha a expansão da pandemia.