As dúvidas sobre o estado de saúde de Donald Trump vão da possibilidade de ser tudo ficcionado para tirar proveito da situação, como admite o cineasta Michael Moore, conhecido pelos documentários onde expõe muitas das mais graves mentiras engendradas por quem detém o poder, até às criadas pela sua própria equipa médica que, tanto garante que ele está a ser tratado com um medicamento usado apenas em situações extremamente graves da Covid-19, como avançam que terá alta ainda hoje, segunda-feira, 05.
Donald Trump foi diagnosticado com a Covid-19 na noite de quinta-feira, pouco depois de ter realizado o primeiro debate com o seu principal adversário, o democrata Joe Biden (este testou negativo já por três vezes), que não lhe correu bem, como dizem os inquéritos de opinião, e quando as sondagens o colocam vários pontos atrás do antigo vice-Presidente de Barack Obama, as últimas a pelo menos 7%, quando falta menos de um mês para as eleições.
Depois de diagnosticado com a "praga chinesa", como o próprio chama à pandemia da Covid-19, por ter surgido em Wuhan, uma cidade do centro da China, em Dezembro do ano passado, mesmo que não existam casos de infecção no gigante asiático há mais de cinco semanas, estando o país praticamente livre da pandemia, Trump ainda se dirigiu aos norte-americanos dizendo que estava bem disposto e que não deixaria a Casa Branca.
Mas, logo a seguir, foi internado no hospital Walter Reed, onde está a ser acompanhado ao minuto por uma vasta equipa de médicos, embora, como os media norte-americanos têm enfatizado, com relatórios contraditórios sobre a saúde do Presidente dos EUA, desde logo porque dizem ter administrado um medicamento - um esteróide denominado Dexametasona - apenas usado em casos de gravidade confirmada e a necessitar de assistência mecânica para respirar (ventilador), depois ainda que está a ser tratado com um conhecido antiviral, o Remdesivir e ainda outros químicos num cocktail experimental.
Entretanto, neste mesmo curto espaço de tempo, Donald Trump já se passeou de carro por Washington, quando se multiplicam os casos positivos entre o pessoal da Casa Branca, sendo que o Presidente é um confirmado septuagenário com excesso de peso, sendo mesmo considerado obeso, condições que o colocam claramente entre os pacientes de elevado risco, estando ainda subjacente a esta sucessão de informações contraditórias o facto de o corticóide esteróide em questão exigir ambiente hospitalar adequado para a sua administração, e nunca durante menos de uma semana, segundo várias fontes.
As dúvidas
Apesar de serem repetidamente anunciadas melhorias no seu estado de saúde, por vezes com intervalos de poucas horas, seja a equipa do hospital onde está internado, seja da sua equipa da Casa Branca, ora está a receber oxigénio, ora não precisa desse apoio suplementar, mas nada se sabe se os sintomas normalmente considerados mais sérios em resultado da infecção pelo novo coronavírus, como sejam as pneumonias, estão ou não entre os efeitos da Covid-19 em Donald Trump.
Os norte-americanos, quando falta cerca de um mês para a ida às urnas, onde Trump se vai bater com Biden para um segundo mandato, estão, segundo a generalidade dos relatos nos media do país, sem poder garantir a 100% se o seu Presidente está ou não doente com gravidade ou até se está, de todo, doente, porque as dúvidas surgiram de imediato e alguns pesos-pesados da sociedade norte-americana, como o conhecido cineasta Michael Moore, mostram fortes dúvidas sobre se se trata ou não de um esquema criado para lidar com as suas dificuldades na campanha, onde vai atrás do adversário em todas as sondagens.
O cineasta acha que Trump e os seus conselheiros eleitorais procuram, através da encenação da doença, um impulso extra para as sondagens e, logo a seguir, criar condições para adiar o pleito eleitoral para conseguir recuperar do atraso que leva nas intenções de voto.
Isto tudo tem sido relatado à medida em que o próprio Trump, via Twitter, tem mostrado fotografias suas a trabalhar no hospital, que não vai deixar de ser Presidente e que os seus fãs, que se aglomeram à porta da unidade hospitalar militar Walter Reed, iriam poder vê-lo, como, de facto, sucedeu quando este se passeou de carro entre os seus apoiantes que o aplaudiram na rua.
Poder passado a Pence?
Uma das questões em cima da mesa e que mais inquietações está a causar é se esta situação pode resvalar para uma crise política de amplitude, como seja a necessidade de passar o poder para o vice-Presidente Mike Pence, o que só sucedeu duas vezes nas história dos EUA.
Uma das consequências que o mundo já está a experienciar é no sector energético, com os preços do petróleo num sobe e desce à medida que se vai sabendo da evolução do seu estado de saúde.
Na passada quinta-feira à, o mundo ficou a saber que Donald Trump estava infectado com o novo coronavírus, e a reacção dos mercados energéticos não se fez tardar, com um tombo de quase dois por cento logo na sexta-feira, mantendo-se em baixo até ao fecho da semana, aguardando que o fim-de-semana pudesse trazer novidades sobre as perspectivas clínicas do Presidente norte-americano.
Em cima da mesa estava a possibilidade de Donald Trump ser obrigado ou não a passar o poder para o seu Vice-Presidente, Mike Pence, o que só aconteceu duas vezes na história dos EUA, com Donald Reagan e George Bush, nas décadas de 1980 e 1990.
E é bem conhecida a aversão que os mercados petrolíferos têm a qualquer sinal de crise política, o que os levou a reagir em baixa, embora, neste caso, com maior moderação visto que as eleições estão marcadas para 03 de Novembro e nos EUA, uma democracia com pergaminhos, as datas das eleições são amovíveis, o que significa que qualquer crise seria de pouca monta e com espaço temporal encurtado.
Mas isso não impediu que, depois de no Domingo a equipa médica de Donald Trump ter admitido como forte possibilidade ele deixar o hospital já hoje, segunda-feira, os mercados terem reagido em alta na abertura da semana, recuperando das perdas de quinta e sexta-feira, tendo nesses dias tombado quase 4% devido à doença de Trump.
Para já, a única certeza que os analistas têm é que esta recuperação nos mercados está directamente ligada à melhoria, pelo menos segundo garantem os seus médicos, da saúde de Donald Trump.
Efeitos na campanha
Vai ou não haver efeitos pesados na campanha para a corrida de Novembro à Casa Branca? Um deles é já evidente: Trump , de 74 anos, não poderá voltar a dizer que a sua condição física "excepcional" lhe confere vantagens sobre Biden, de 77, a quem não se cansou, na campanha até agora feita, nem no debate entre os dois, de sublinhar que chamar velho e cansado e fragilizado, exigindo mesmo um teste ao consumo de drogas porque acreditava que o democrata já mal conseguia caminhar, quando mais aguentar a pedalada exigida pela campanha eleitoral.
E se deixar o hospital poderá voltar à rua, nos próximos dias, mantendo o risco de ser ainda portador do vírus? A estas perguntas, só o tempo dará resposta.
Mas os analistas admitem que esse poderá ser o "A de trunfo" na sua manga, que é dizer que já está com saúde sólida mas que não pode ir para a rua fazer campanha porque ainda se mantém o risco de contágio, o que pode enquadrar uma razão para pedir um adiamento das eleições.
Isto tem especial importância porque o atraso que leva para Joe Biden ainda pode ser recuperado, mas o seu maior inimigo neste momento é mesmo o calendário...
Por outro lado, os seus adversários poderão ter mais tempo para diluir o efeito "sentimental" da doença e reforçar a ideia de que o Presidente foi vítima da sua irresponsabilidade porque sempre fez questão de minimizar a importância da doença, gozando mesmo com Biden por andar sempre com uma "máscara gigante"...
E estão ainda frescas na memória as ridículas afirmações que fez sobre lavagens aos pulmões com lixívia e outros detergentes para matar o vírus.
Uma sondagem recente avança que, nesse sentido, que o Presidente republicano foi vítima da desvalorização da infecção e baixou a guarda.
Por outro lado, Biden está a ser uma das maiores vítimas colaterais da infecção de Trump. Deixou de ter a atenção dos media e as suas iniciativas de campanha não estão a ter o acompanhamento que seria natural nesta fase da campanha, porque o foco está todo no mais famoso doente do mundo por Covid-19 da actualidade.
As eleições podem ser adiadas?
Não. Essa parece ser a resposta mais comum, porque existe uma lei, que data de 1845, que diz que as eleições nos UA se realizam na primeira segunda-feira de Novembro a cada 4 anos, o que este ao calha a 03 desse mês.
Mas ainda porque, no caso de ser colocada a possibilidade com a actual situação sanitária de Donald Trump, apenas a votação nesse sentido do Congresso e dos Representantes permitiria alterar essa mesma lei de 1845, o que é altamente improvável, visto que, se os republicanos dominam o Congresso, a Câmara dos Representantes está nas mãos dos democratas, e só se isso também interessar a Joe Biden - o que parece, para já, improvável - é que esse adiamento seria possível.
E então, o que poderia levar os democratas a aceitar o adiamento? Simples, se as sondagens mostrarem que os eleitores poderão castigar Joe Biden se Trump conseguir construir a ideia do coitadinho que está doente e os seus adversários querem tirar proveito da sua debilidade.
O que, para já, ainda não parece sero caso e o que mais se aproxima é que os eleitores vejam na sua infecção pela Covid-19 um resultado directo da sua irresponsabilidade.
O que a Constituição garante é que o mandato de Donald Trump, suceda o que suceder com o calendário eleitoral, termina a 21 de Janeiro de 2021, e, a partir daí, o seu poder fica reduzido a zero, tendo de ser escolhido quem vai dirigir o país entre os lideres do Congresso e da Câmara dos Representantes.