Em conferência de imprensa realizada em Banjul, capital da Gâmbia, o ministro da Justiça gambiano, Aboubacarr Tambedou, divulgou detalhes de um relatório de mais de mil páginas preparado por uma comissão de investigação focada nas actividades financeiras de organizações públicas e privadas sob o Regime de Jammeh, exilado na Guiné Equatorial, desde 2017.
"Os escassos recursos disponíveis no país eram administrados por e para capricho do ex-presidente Jammeh, sem se preocupar com as estruturas e as regras estabelecidas", indica o documento citado pela agência de notícias espanhola EFE, acrescentando que o ex-líder deste país africano "nunca fez distinções sobre se o projecto era para seu benefício pessoal ou público".
Entre as revelações mais importantes, o relatório explica que Jammeh acumulou mais de 300 activos imobiliários - muitos registados em seu nome ou de empresas nas quais possuía acções, além de pelo menos 89 contas bancárias também associadas de alguma forma à sua pessoa.
Segundo a comissão de investigação, dinheiro público pertencente aos cofres do Estado foi depositado directamente nessas contas bancárias, das quais Jammeh fez uso pessoal supostamente ajudado por altos funcionários do Governo e por empresários, 17 deles já acusados de peculato (uso indevido de bens ou de dinheiros públicos).
Ainda de acordo com as conclusões deste órgão de investigação, o ex-presidente terá desviado mais de 317 milhões de euros em várias moedas (euros, dólares, libras esterlinas e dalesis gambianos).
Jammeh, que governou a pequena nação da África Ocidental entre 1994 e Janeiro de 2017, é acusado de matar jornalistas, torturar e matar opositores políticos e promover a generalização dos abusos de direitos humanos no país durante mais de duas décadas.
A Comissão de Verdade, Reconciliação e Reparação da Gâmbia (TRRC)foi criada em outubro de 2018 com o objectivo de documentar a natureza, as causas e o alcance dos crimes e abusos, assim como de facilitar a concessão de reparações a um número elevado de vítimas do anterior regime gambiano.
Jammeh, derrotado em eleições realizadas em Dezembro de 2016, encontra-se exilado na Guiné Equatorial desde Janeiro de 2017, depois de ceder às pressões diplomáticas internacionais para transferir o poder ao vencedor desse escrutínio e actual Presidente, Adama Barrow.
Adama Barrow comprometeu-se a bater-se pela extradição de Yahya Jammeh para enfrentar a justiça do seu país, caso venha a ser esta a recomendação da TRRC.