Numa carta divulgada na cidade de Abeokuta, capital do estado de Ogun, sudoeste nigeriano, o homem que dirigiu a Nigéria entre 1976 e 1979, e depois em 1999 e 2007, quando deu início a um período de histórica estabilidade na democracia do mais populoso e rico país do continente africano, Obasanjo pede ao ainda Presidente Muhammadu Buari que intervenha no sentido de impedir o colapso do Estado.

Na missiva, Olusegun Obasanjo pede que os responsáveis pelo Governo central para agirem o quanto antes no sentido de travar aquilo a que chama o "perigo existencial que está ao virar da esquina" e que é resultado daquilo a que chama de manipulação do processo eleitoral cuja votação ainda não terminou, sendo apenas conhecidos resultados parciais em alguns estados, sendo um deles o de Lagos, onde ganhou o surpreendente Peter Obi, que corre por um pequeno partido, Trabalhista, mas com forte implantação na juventude.

Uma das razões para esta iniciativa do velho Presidente, agora com 85 anos, resulta de indícios de que estão a ser manipuladas as contagens de votos com recurso a expedientes injustificados como a anulação da passagem dos resultados electronicamente de modo a que estes sejam enviados em correio pessoal, abrindo todo um espaço para a dúvida e a efectiva alteração da verdade eleitoral.

Nesta longa carta, o também general na reforma avisa que, se nada for feito, com uma exigida intervenção musculada do Presidente Buari, a Nigéria "vai pegar fogo".

Esta carta surge dois dias depois do fecho das urnas mas num ambiente que já era de enorme tensão antes da ida às urnas, no Sábado, devido à crise económica galopante, ao episódio caricato do desaparecimento do dinheiro físico de circulação devido à uma mal calculada troca de notas velhas por novas e ainda ao clima de insegurança que atravessa o país a mãos com os jihadistas do Boko Haram no nordeste, das guerrilhas económicas do Delta do Níger, onde se produz a maior parte do crude nigeriano, dos rebeldes independentistas do Biafra, e ainda dos grupos de marginais que atormentam o centro noroeste do país (ver links de notícias em baixo, nesta página).

Até agora, apesar da surpresa de Lagos, é Bola Tinubo, do partido no poder, o Congresso de Todos os Progressistas, que lidera as contagens em 31 dos 36 estados do país, onde concorre com Peter Obi, apoiado pelo Partido Trabalhista, com forte implantação entre os jovens, e que é a novidade nesta disputa, até porque se vier a ganhar, será a primeira vez em décadas que o Presidente da Nigéria não sai das fileiras dos dois gigantes da política nacional, e Atiku Abubacar, do Partido Democrático Popular.

Segundo uma contagem da Reuters, citada pelo US.News, Tinubo leva vantagem até esta terça-feira, com 35%, à frente em 31 estados, Atiku Abubakar segue atrás, com 29%, enquanto Peter Obi trava um combate contra estes resultados, que o deixam bastante atrás.

Para evitar uma segunda volta, que, a ocorrer, terá lugar a 11 de Março, a par das estaduais, um dos candidatos tem de ter um quarto dos votos em pelo menos 24 dos 36 estados, o que parece estar dentro das possibilidades de Bola Tinubo.

Estavam registados para votar 93 milhões de eleitores entre os 220 milhões de habitantes da Nigéria.