O presumível organizador da morte de Michael Sharp e Zaida Catalan é Constantin Tshidime, o chefe da aldeia de Moyo Musuila, situada nas proximidades da área onde foram encontrados os dois corpos dos funcionários da ONU, não longe de Kananga, capital do Kasai.
O Grande Kasai, que agrega o Kasai Central e Oriental, foi palco de uma das mais atrozes guerrilhas africanas em 2016/2017, tendo feito milhares de mortos e feridos, milhões de deslocados internos, sendo o impacto externo sentido de forma especialmente vigorosa em Angola devido aos mais de 35 mil refugiados acolhidos na Lunda Norte, que fugiram da morte que os esperava do outro lado da fronteira.
A detenção do mandante da morte dos dois elementos da ONU foi anunciada antes do final do ano, como, alias, era exigido pelas Nações Unidas, que exigiram, não só para este caso como também para todo o conflito no Kasai, um apurado inquérito para determinar a origem e os objectivos da devastação ocorrida no Kasai, cuja fronteira com Angola abrange grande parte do norte do país.
De acordo com a imprensa congolesa de hoje, a par do chefe de aldeia detido, a julgamento, no Tribunal Militar de Kananga, deverão ir também todos os envolvidos no duplo homicídio.
Se ocorrer a condenação deste suspeito, ficará, no entanto, por revelar, como a comunidade internacional exigiu, quais as razões para a abrupta ocorrência da violência que varreu os Kasai, apurar o que esteve por detrás de pelo menos 3 000 mortos e 1,3 milhões de desalojados, centenas de aldeias queimadas e o impacto directo que esta teve no processo eleitoral em curso na RDC, comos sucessivos adiamentos das eleições gerais que vão determinar a saída do poder do ainda Presidente Joseph Kabila.
Uma das suspeitas que existia e foi assumida por figuras importantes da sociedade congolesa, como o conhecido empresário Sindika Dokolo, que acusaram Kabila de ter estado por detrás do que aconteceu no Kasai como forma de protelar a realização de eleições.
As eleições na RDC deveriam ter tido lugar em Dezembro de 2016 mas, apesar de violentas manifestações em Kinshasa, com mais de 150 mortos, que as exgiam, foram adiadas, no âmbito de um acordo negociado com ajuda dos bispos católicos, para 2017 e, mais uma vez alegando falta de condições de logística e financeiras, foram novamente proteladas para 2018.
A oposição já ameaçou com novas manifestações mas a ONU e a maior parte da comunidade internacional optou por dar uma última oportunidade ao regime de Kabila para organizar as eleições gerais em 2018.
Devido ao potencial de desestabilização em todo o continente, mas com especial destaque para a região dos Grandes Lagos, e devido aos mais de 2 000 kms que possuiu em comum com o vizinho do norte, o processo eleitoral na RDC vai ser um dos pontos mais quentes da agenda política africana para Angola no ano que agora entra.