O que Donald Trump quer deixar claro no seu comentário na rede social Twitter, onde, desde o início do seu mandato, executa a sua Presidência, é que a Rússia, que já garantiu que vai abater os mísseis norte-americanos e atacar as bases de lançamento, é que Moscovo não tem como parar o ataque porque os seus mísseis são mais inteligentes que a linha de defesa que Moscovo transferiu para o território sírio.
Para já, a guerra trava-se por mensagens enviadas de um lado para o outro: Washington, ameaçador, promete descarregar a sua fúria sobre o país de Bashar al-Assad, a quem acusa de ter atacado civis com armas químicas no passado Sábado, e Moscovo, mais contido, embora não menos ameaçador, pede que seja averiguada a veracidade das informações sobre a morte de civis com armas químicas antes de qualquer acção militar, mas garante, ao mesmo tempo que, não abaterá os mísseis norte-americanos, como atacará as bases de onde estes partirem, quase sempre navios de guerra colocados no Mediterrâneo.
O último episódio, que deixou quase todos os analistas sem dúvidas de que o ataque terá lugar nas próximas horas, foi o desafiador tweet de Trump a dizer que os mísseis, " que a Rússia prometeu destruir", estão a chegar à Síria, mas já ontem, as autoridades aeronáuticas europeias tinham emitido um alerta a todas as companhias aéreas para redobrarem os cuidados com os seus aviões com rotas sobre a região.
A pressão exercida por Donald Trump é exercida sobre uma figura secundária da diplomacia de Moscovo, o embaixador russo no Líbano, Alexander Zasipkyn, que foi quem disse que os mísseis dos EUA seriam abatidos e as bases de lançamento atacadas.
Resta agora perceber se estas garantias forem dadas por uma autoridade militar ou política com estatuto elevado no Kremlin, se manterá a ameaça americana.
Para já, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, com relativa ironia, respondeu a TRump, dizendo apenas que "mísseis inteligentes deviam ser usados contra grupos terroristas e não contra governos legítimos".
A situação na Síria nunca foi tão frágil e todo o Médio Oriente pode implodir neste contexto de ameaças mútuas, visto que também a França e o Reino Unido já admitiram juntar os seus mísseis aos de Trump e a Arábia Saudita, eterna rival do Irão, que está ao lado do Presidente sírio, também admite entrar na coligação ocidental para atacar a Síria. Para lidar com esta crise, Trump cancelou mesmo uma deslocação oficial à América do Sul.
Entretanto, enquanto negam de forma inequívoca a existência de qualquer ataque químico perpetrado pelo regime de Damasco, Bashar al-Assad e os russos garantem tudo fazer para permitir ao organismo internacional responsável pela destruição das armas químicas possa ir ao local, com uma equipa de técnicos, averiguar se existem ou não provas de tal ataque e quem este, a confirmar-se, por detrás deste.
Os aliados da Síria garantem que, a ter existido, foi plantado pelos grupos terroristas que estão a ser derrotadas pelo exército de Assad e procuram, desta forma, forçar uma intervenção ocidental que impeça a sua derrota total em Douma, na província de Ghouta, um dos últimos bastiões dos grupos jihadistas que actuam na Síria desde o início do conflito, em 2011, que já provocou a morte a mais de 500 mil pessoas, 350 mil civis, e milhões de deslocados.
E um dos argumentos mais recorrentes dos russos é produzido em forma de pergunta: "Que justificação teria o Exército sírio para usar armas químicas quando está a derrotar os grupos terroristas em todas as frentes, como é o caso de Douma, onde foram já quase todos expulsos?".