Foi morto ainda um civil, elevando para 54 o balanço das vítimas mortais deste ataque, que ocorreu na região de Menaka e surge pouco mais de uma semana após a morte do líder histórico e inspirador do movimento radical islâmico do daesh, ou "estado islâmico", na Síria e no Iraque.
A reivindicação foi feita através da Amaq, a sua agência de notícias que nos últimos anos tem sido o principal veículo de comunicação entre este movimento que aterrorizou o mundo nos últimos cinco anos e o exterior, embora, como resumem as agências de notícias ocidentais, não tenha sido divulgado nenhum tipo de prova do feito reivindicado.
No entanto, se este ataque foi mesmo organizado pelo daesh, o poderio militar envolvido pode ser visto como um sinal de vitalidade dos jihadistas islâmicos porque, como referem as autoridades malianas, o aquartelamento atingido sofreu um poderoso ataque de morteiros pesados e um grupo de muitos homens com equipamento ligeiro que rapidamente desapareceu nas margens do Rio Níger.
Após estes movimentos de ataque e fuga, os jihadistas atacaram o que restava do aquartelamento com motorizadas ocupadas por dois homens que disparavam indiscriminadamente, a ponto de apenas 20 dos militares presentes se salvaram.
Este é um dos muitos ataques com estas características levados a cabo nos últimos dois meses por grupos afiliados no "estado islâmico" no Mali, mas com actividade que abrange ainda o Nìger, o Burqina Faso, Chade ou a Mauritânia, apesar de alguns países ocidentais, numa missão sob bandeira da ONU mas liderados pela França, antiga potência colonial, terem criado uma força militar para procurar controlar a actividade jihadista nesta vasta região do Sahel, sem grande sucesso, para já.
Baghdadi morto, mas daesh já tem novo líder...
Abdullah Qardash, um antigo oficial das Forças Armadas de Sadam Hussein, no Iraque, é o novo líder do daesh, o que surge sem grande surpresa entre os serviços secretos ocidentais porque este já era o braço-direito de Abu Bakr al-Baghdadi há muito tempo.
Qardash era, antes de assumir o cargo de Bahdadi, o homem por detrás do afinado planeamento de toda a actividade deste grupo radical, que, no entanto, sofreu pesadas e sucessivas derrotas entre 2017 e 2018, que o levaram quase ao desaparecimento, embora tenham mantido as suas células adormecidas a actuar em esporádicas situações no Ocidente e no norte de África.
Alguns analistas acreditam que o "estado islâmico" tende agora a levar a cabo novos ataques através de jihadistas solitários na Europa e ataques semelhantes ao que ocorreu agora no Mali ara dizer ao mundo que se mantém ectivo e ainda constitui uma ameaça.
Recorde-se que Abu Bakr al Baghdadi, que há anos mantinha o mundo sob ameaça dos seus radicais a partir do território gigantesco que ocupou entre a Síria e o Iraque a que chamou "califado", morreu a 26 de Outibro fazendo-se explodir quando era perseguido por forças especiais norte-americanas no norte da Síria, que contaram com o apoio local do YPG.
O anúncio foi feito por Donald Trump via redes sociais, afirmando que algo de "muito grande" tinha acabado de acontecer, sem, no entanto, explicar, mas escassas horas depois o mundo ficava a saber que Abu Bakr al Baghdadi estava morto.
A organização radical islâmica que em 2014 anunciou a criação do Califado, responsável por milhares de mortes em todo o mundo, mas com a maior parte registada nos territórios do norte da Síria e do Iraque, especialmente entre as populações não-islâmicas, como os Yazidis ou parte dos curdos do Médio Oriente, foi quase totalmente derrotada entre 2014 e 2018, com uma frente composta por russos, norte-americanos e os essenciais combatentes curdos do YPG, que no terreno fizeram o combate corpo a corpo com os jihadistas de al Baghdadi.
No entanto, o "estado islâmico" manteve até hoje um território do tamanho de alguns países europeus sob um relativo controlo, embora sem capacidade de acção terrorista, excepto através de algumas células adormecidas na Europa e nos EUA.
Com esta morte do seu líder, os analistas que estão a ser ouvidos pelos media internacionais, como a televisão do Qatar, Al Jazeera, apontaram como quase impossível o ressurgimento do daesh sob qualquer forma depois do desaparecimento da sua inspiração original que era al Baghdadi, mas o sinal agora dado no Mali parece contrariar esta perspectiva, bem como a rápida indicação do seu sucessor.
Recorde-se que Abu Bakr al Baghdadi fundou o daesh depois de ter abandonado a Al Qaeda do Iraque, conseguindo, a partir do seu "califado", espalhar o terror em todo o mundo, sem esquecer África, como é o caso do Mali e da Nigéria, onde grupos locais como o Boko Haram, que lhe juraram fidelidade, fazendo o continente entrar na lista do terror do estado islâmico.
Com o estatuto de homem mais procurado do mundo, apesar da fragilidade actual do seu "califado", Abu Bakr al Baghdadi acabou detonando o colete com explosivos que vestia quando se encontrava, explicaram as chefias militares dos EUA, num túnel sem saída, perseguido pelos militares das forças especiais americanas.
Esta foi a mais mediática operação conduzida pelos EUA desde 2011, quando a 02 de Maio, numa operação similar, abateram o líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, no Paquistão.
Esta operação foi entretanto co-reivindicada pelas forças curdas do YPG, que são as milícias de protecção do povo curdo, até aqui aliados oficiais dos EUA no combate ao daesh mas considerados terroristas pela Turquia, que na semana passada lançou uma invasão no norte da Síria para os desalojar de uma parte do território sírio.
O YPG mantém ainda hoje milhares de radicais do daesh nas suas cadeias e a invasão turca chegou, antes de ter sido interrompida pela interposição da Rússia e dos EUA, a permitir que algumas centenas conseguissem fugir.
No entanto, agora, sem o seu líder inspirador, este movimento, que foi um dos mais mortíferos de sempre, poderá ter chegado ao fim, embora seja expectável que em breve, como sucedeu com o anúncio do surgimento do daesh após o fim da Al Qaeda, possa surgir um outro movimento com os mesmos objectivos.