Apesar deste acordo com o Irão, assinado em 2015, pelo então inquilino da Casa Branca, Barack Obama, e os restantes membros do denominado grupo dos 5+1, que agrega os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - França, China, Rússia e Reino Unido - mais a Alemanha, não depender apenas dos EUA, Teerão já veio garantir que também o abandona se Trump cumprir a sua ameaça.
E se o Irão deixar o acordo, isso significa o restabelecimento do seu programa nuclear, que, apesar do Governo iraniano garantir que tem fins pacíficos - a produção de energia limpa -, poucos acreditam que não vise, em última análise, a produção de armamento nuclear.
Entretanto, Israel, o maior inimigo do Irão na região, já disse que só espera um sinal dos EUA que imediatamente integrará uma coligação retaliadora para atacar o Irão, que é a maior potência não nuclear - Israel é uma potência nuclear - do Médio Oriente, configurando uma espécie de tempestade perfeita para lançar o caos na região com impactos globais, a começar pela brutal e esperada escalada no preço do petróleo.
"Se os Estados Unidos se retirarem do acordo nuclear, nós também não ficaremos", disse um conselheiro do Líder Supremo do Irão, Ali Khamenei (na foto da foto), cujo poder se situa claramente acima do Presidente Hassan Rouhani, bastante mais moderado.
Com a quase totalidade dos países signatários contra uma eventual decisão de Trump pela saída, a pressão sobre a Casa Branca tem sido forte, mas a recente ida do Presidente francês, Emmanuel Macron, foi absorvida localmente como um apoio ao Presidente norte-americano, com ambos a concordarem numa reformulação do acordo, alegando que este tem uma data limite - 2025 - curta e não garante o fim do programa de Teerão.
O próprio Macron admite que o fim do acordo pode resultar numa guerra alargada no Médio Oriente quando, em visita à Austrália, afirmou que se Trump sair, vai ser "necessário preparar um acordo mais abrangente porque ninguém quer a guerra na região".
E o mesmo pensa o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que apelou directamente a Trump para não apagar o actual acordo porque existe "risco real" de uma perigosa guerra no Médio Oriente.
Desde que assumiu o poder, há pouco mais de um ano, Donald Trump tem sido exímio a criar situações que deixam o mundo em suspenso, como foi disso exemplo a situação com a Coreia do Norte, que, durante 2017, quase todo esse ano, manteve pendente uma possibilidade de guerra nuclear, com ameaças directas de um lado e do outro.
A crise na Península Coreana terminou, para já, com um possível acordo de desnuclearização no horizonte, estando previsto para as próximas semanas um encontro entre Donald Trump e o seu homólogo norte-coreano, Kim Jong-un.
Todavia, com o Irão, devido à influência de Israel, com quem quaisquer tréguas com o Irão está fora dos radares, parece existir um risco maior, até porque o factor religioso-cultural poderá determinar um desfecho diferente do que está a ocorrer na Península Coreana.
Isto, porque é multisecular o ódio que "une" a maioria sunita (com destaque para a Arábia Saudita) e a minoria xiita, que tem no Irão o seu pilar mais sólido, e que mutuamente se têm massacrado ao longo dos séculos.
Este caso entre o Irão e os EUA (5+1) está mesmo a levar a uma aproximação estratégica entre a Arábia Saudita e Israel, o que pode significar uma aliança circunstancial contra Teerão.
Mas o desfecho só deverá ser conhecido a 12 deste mês, quando Trump dirá se deixa ou permanece no acordo sobre o programa nuclear do Irão, ou ainda se fica, mas com condições, podendo estas ser ou não aceitáveis do ponto de vista iraniano.