Donald Trump deixou de poder contar com a Coreia do Norte para dispersar as atenções do mundo e dos norte-americanos depois do Japão e da Coreia do Sul lhe terem dito para nem pensar num ataque a Pyongyang.
E internamente já não consegue esconder o mal-estar generalizado, mesmo entre os elementos da sua equipa. Como é que os presidentes norte-americanos costumam resolver estes problemas? Com um conflito... É por isso que Donald Trump se prepara para abrir uma nova frente de batalha com o velho e útil inimigo: o Irão.
Depois de ter anunciado novas sanções contra o Irão, Donald Trump, como sabia que iria acontecer, viu o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani, ameaçar retomar o seu programa nuclear, cuja dimensão militar tinha sido interrompida depois do acordo assinado, ainda no tempo de Barack Obama, com a comunidade internacional.
Este acordo resultou no levantamento das sanções ao Irão, entre as quais se destaca a impossibilidade de vender petróleo nos mercados internacionais.
Rouhani foi claro ao afirmar que só precisa de uns dias para meter em marcha o programa nuclear do Irão se os Estados Unidos da América impuserem novas sanções ao seu país.
Apesar de aclamado pelo mudo como um dos grandes passos para a paz no Médio Oriente, o acordo assinado em 2015 entre Teerão e um grupo de países com os EUA à frente foi apontado por Trump como "o pior" acordo que já viu ser assinado e não perdeu tempo a voltar a colocar pressão sobre o Irão, desta feita por causa do desenvolvimento de mísseis balísticos.
O Irão não tem dúvidas de que o acordo de 2015 lhe permite melhorar a sua capacidade de defesa, os EUA dizem que não, porque uma resolução da ONU impede o desenvolvimento do seu arsenal balístico desde que tenha capacidade para transportar ogivas nucleares, coisa que Rouhani já garantiu a Trump não existir.
Mas o problema é que Trump precisa urgentemente de um inimigo para distrair o mundo que teima em estar atento ao desmoronar da sua administração, como foi o caso do denominado Conselho Industrial que, um a um, o vão deixando a falar sozinho.
A debandada acontece ultimamente por causa da sua, de Trump, defesa dos neofascistas que se manifestaram em Charlottesville e atacaram de forma letal um grupo de contramanifestantes de esquerda que se opõem ao regresso à ribalta de, por exemplo, grupos como os racistas do Ku Klux Klan.
Grupos estes que contam com apoio de membros da administração, como é o caso de Steve Bannon (na foto), um dos principais Conselheiros do Presidente norte-americano e que é conhecido pela suas posições radicais de direita fascista.
É perante este cenário, onde acabou por pontuar o ex-Presidente Obama, cuja posição lhe valeu um clamoroso sucesso de "likes" nas redes sociais ao criticar de forma clara o seu sucessor, que Donald Trump se vira agora para o Irão, embora essa movimentação esteja a ser vista pelo mundo, especialmente pela potências que com os EUA assinara o tratado nuclear com Teerão, como mais uma trumpalhada sem sentido.
Em causa, recorde-se, estão sanções aplicadas a um grupo de cerca de 30 dirigentes e chefias militares do Irão bem como a algumas empresas por causa dos lançamentos recentes de foguetes ou mísseis de longo alcance.
"O mundo já viu que com Trump a América ignorou acordos internacionais e, além de prejudicar o acordo nuclear, quebrou a sua palavra no acordo de Paris, no acordo com Cuba. Os EUA já não são um bom parceiro, nem fiáveis", disse Rouhani no Parlamento iraniano.
Depois da Síria, onde Trump foi acalmado pela Rússia de Putin, e da Coreia do Norte, onde ficou sem mobilidade estratégica por causa da posição clara antiguerra da Coreia do Sul, do Japão e da China, ao apertado Presidente americano só restavam dois alvos para produzir circo e distracção: a Venezuela e o Irão.
Aparentemente optou pelo Irão porque a Venezuela não possui algumas das características mínimas que permitam o sucesso da estratégia de distracção: não é um "inimigo" à altura e do ponto de vista mediático, não se compara ao Irão.
Isto, claro, porque o estado islâmico foi, entretanto, quase aniquilado pelo seu "amigo" Vladimir Putin e já não é mais que um monstro em fuga, sem valor suficiente para distrair os norte-americanos e o mudo do desastre em que se está a transformar a governação de Donald Trump.