João Loureço focou a atenção do seu curto discurso, como o dos restantes intervenientes, mostrando-se "chocado" com a disparidade entre os países mais ricos e os mais pobres, com os primeiros a administrar já terceiras doses para o Sars CoV-2 enquanto os segundos nem a primeira dose foi dada a esmagadora maioria das suas populações.
"É chocante constatar-se a disparidade existente entre umas nações e outras, no que respeita à disponibilidade de vacinas, pois estas diferenças permitem, em alguns casos, administrarem-se já terceiras doses, enquanto noutros, como ocorre em Africa, a larga maioria das populações não está vacinada sequer com a primeira dose", enfatizou o PR angolano.
O que o Chefe de Estado angolano defendeu, perante o mundo, nesta 76ª AGNA, que só poderá ser resolvido com a liberalização das patentes das vacinas de forma a que os países menos desenvolvidos, nomeadamente do continente africano, possam assumir essa tarefa gigantesca de providenciar a vacinação das suas populações em níveis semelhantes aos dos países mais ricos.
"Que sejam discutidas e aprovadas pelas Nações Unidas decisões favoráveis à liberalização do regime das patentes de produção de vacinas para que seja possível a sua fabricação por um número cada vez maior de países, tornando-as mais acessíveis para todos", disse.
Apontou como essencial que as vacinas sejam vistas oficialmente por todos como "um bem da humanidade" distribuído "equitativamente por todos" à escala mundial.
Descreveu a situação em Angola como sendo semelhante à do resto do mundo no que toca ao impacto devastador da pandemia da Covid-19, sublinhando que, apesar das dificuldades, foi possível agir "atempadamente" para evitar uma propagação catastrófica do novo coronavírus de forma a manter o sistema de saúde nacional operacional face a este desafio.
Assumiu que a economia nacional foi fortemente impactada pela pandemia e sublinhou de forma elogiosa a importância da reacção dos organismos internacionais no apoio aos países mais fragilizados para fazer face a esse mesmo impacto.
"A avaliação dos prejuízos que derivam da pandemia da Covid-19 para a economia nacional dão-nos resultados preocupantes para os quais temos vindo agora a procurar soluções que ajudem a mitigá-los para aliviar o sofrimento das populações", apontou.
Deixou, no entanto, uma ideia sobressair neste seu discurso sobre o tema da pandemia, apelando a uma "profunda reflexão" para criar um mecanismo de base eficaz para a "reconstrução das economias mais afectadas".
Sobre a instabilidade no Globo, João Lourenço lamentou a crescente vaga de golpes com apoio militar para proceder a alterações da ordem constitucional e derrubar governos eleitos democraticamente "mas incómodos", como foi o caso do Mali e da Guiné-Conacri, lamentando igualmente o "regresso do mercenarismo com recrutamento a partir de qualquer lado do mundo de profissionais sem exército" que são "pagos para matar e desestabilizar" governos em África sob comando à distância de "poderosas forças" que se mantêm no anonimato.
Isso, numa referência clara à República Centro-Africana onde estão comprovadamente centenas ou milhares de mercenários russos a apoiar o Presidente Faustin-Archange Toudéra.
Lembrou a sensibilidade especial que Angola, fruto do longo conflito armado que viveu, tem para as situações de conflito prevalecentes ainda em África e no mundo, sublinhando o caso dos Grandes Lagos, onde lidera a CIRGL, afirmando a permanente disponibilidade de Luanda para, no contexto do multilateralismo que defende, encontrar soluções, seja com os países vizinhos, seja no resto do mundo.
"A nossa sensibilidade para os problemas da paz e da guerra resultam do longo conflito interno que vivemos durante várias décadas, e que nos permite ter a noção clara da importância da busca de soluções para os diferendos pela via do diálogo e do entendimento entre as partes beligerantes", realçou, naquilo que pode ser lido como o princípio de uma iniciativa diplomática de Luanda para colocar o País num patamar de maior visibilidade no concerto das Nações.
E lamentou que a comunidade internacional esteja cada vez menos activa na condenação de golpes de Estado e na criação de condições para que estes não se repitam através de mecanismos profilácticos eficazes e não meras declarações críticas de circunstância.
E aproveitou para voltar a insistir na necessidade de libertar o Presidente deposto em Conacri: "Não podemos continuar a permitir que exemplos recentes como os da Guiné e outros prosperem em África e em outros continentes. Esta constitui uma grande oportunidade para os Chefes de Estado e de Governo aqui reunidos exigirem, em uníssono, a libertação imediata e incondicional do Presidente da República da Guiné, o Professor Alpha Condé".
Não deixou de chamar a atenção do mundo para os conflitos e situações de extrema violência que se mantém na região etíope de Tigray, em Moçambique, no Sahel africano ou na RDC...