A contribuição angolana para o financiamento das legislativas na Guiné-Bissau vai ser concedida sob a forma de donativo, divulgou o embaixador angolano em Bissau.

António Rosa, citado pela imprensa guineense, justificou o donativo com a necessidade de ajudar a Guiné-Bissau a sair da crise institucional em que se encontra há vários anos, bem como no quadro da resposta normal entre dois países com laços de amizade e cooperação sólidos e antigos.

Estas eleições respondem ao acordado em Conacri entre, sob intermediação da CEDEAO, e do qual fazem parte os partidos da oposição, o Governo e a sociedade civil, e para cujo sucesso, adiantou o diplomata angolano, Luanda não podia "ficar indiferente".

A Guiné-Bissau atravessa há mais de três anos uma crise institucional grave devido a severos desentendimentos entre o Presidente da República, José Mário Vaz, e a direcção do PAIGC, partido que ganhou as eleições, tendo indicado o seu presidente, Domingos Simões Pereira para primeiro-ministro, tendo este acabado demitido pelo Chefe de Estado.

A Guiné-Bissau é um país praticamente paralisado devido à crise política e institucional em que se encontra e que, nesta última etapa, resultou da demissão do líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, do cargo de primeiro-ministro, em Agosto de 2015.

José Mário Vaz é igualmente militante do PAIGC, mantendo com o presidente do partudo um braço de ferro que, segundo alguns analistas, não resultou numa crise mais aguda porque houve uma intervenção atempada por parte da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), organização regional que está apostada em não permitir novos golpes antidemocráticos nos Estados membros, situações que abundam no passado guineense desde a sua independência, em 1973.

Este contributo angolano para as eleições é importante porque o processo eleitoral assite a alguns atrasos que podem fazer perigar o calendário definido, nomeadamente no recenseamento eleitoral, que deveria estar já concluído e isso não se verifica, sendo parte da responsabilidade dos países que se apresentaram como doadores para esta processo.

Angola e a crise guineense

Angola e a Guiné-Bissau têm mantido relações estreitas ao longo dos anos, mas com altos e baixos.

UM dos pontos mais baixos aconteceu em 2012, quando as autoridades de Bissau expulsaram a MISSANG, a missão militar angolana na Guiné que tinha como objectivo ajudar a normalizar o sector da Defesa naquele país, constituída por toneladas de material militar, incluindo veículos, e cerca de duas centenas de militares.

A retirada tensa dos militares angolanos foi possível sem sobressaltos de maior devido à supervisão assegurada pela CEDEAO, depois de um processo alto complexo onde as Forças Armadas guineenses terem acusado os angolanos de se estarem a armar com material bélico relevante sem que para isso houvesse justificação e que estaria a ser usado para pressionar a instituição militar do país ou mesmo para as submeter.

As chefias militares guineenses chegaram a admitir a possibilidade de os angolanos estarem no país para promover uma alteração inconstitucional em conluio com a União Africana, o que levou a uma suspensão abrupta de toda a cooperação militar entre Luanda e Bissau, que viria a ser retomada posteriormente.

Isto, depois de Angola ter investido mais de 15 milhões de dólares na recuperação de infra-estruturas militares na Guiné-Bissau.