"As provas até a esta altura, que sublinham a propagação global e a transmissão comunitária da variante ómicron, não apoiam proibições selectivas de viagens impostas aos países da África Austral", afirma a organização numa declaração divulgada no seu portal na internet.
A UA sublinha que as intervenções no domínio da saúde pública para mitigar o risco de infecções e controlar a propagação da COVID-19 "devem ser direccionadas para limitar o impacto sobre as vidas e meios de subsistência, e informadas pela ciência e pelas provas".
"É necessário mais tempo e investigações para avaliar adequadamente as características epidemiológicas e clínicas da variante Ómicron", afirma a declaração.
A UA reconhece que o número de casos COVID-19 e as taxas de positividade dos testes aumentaram "acentuadamente" na província de Gauteng, na África do Sul, desde que a Ómicron aí foi inicialmente identificada, mas sublinha que "os primeiros dados clínicos de casos infectados indicam que isto não se traduziu num aumento significativo de casos graves de COVID-19 ou de mortes em hospitais até agora".
"Isto pode, contudo, dever-se ao perfil etário mais jovem dos casos e/ou ao intervalo de tempo entre o aumento do número de casos da COVID-19 e o aumento das mortes na COVID-19", reconhece também a UA.
As proibições de viagem para e de entrada de viajantes provenientes dos estados africanos da África Austral, incluindo Moçambique, que "limitam a livre circulação de pessoas e bens, têm um impacto negativo imediato e significativo na região", desde logo, no domínio da economia e "afectam negativamente as vidas e os meios de subsistência das populações em causa", aponta a declaração.
A limitação da capacidade de acesso a suprimentos médicos essenciais necessários para responder ao recrudescimento contínuo de casos na África do Sul é outra das consequências, e -- pior - restringem a capacidade dos investigadores e cientistas da África Austral "acederem aos reagentes necessários para monitorizar a propagação da variante Ómicron e para investigar e caracterizar o seu impacto na transmissibilidade, gravidade da doença e reacção às vacinas".
A UA considera finalmente que estes países, nomeadamente a África do Sul, estão a ser "penalizados" por "assegurarem a divulgação atempada e transparente de dados em conformidade com os regulamentos internacionais de saúde" e que estas proibições funcionam como um "desincentivo à partilha de informação no futuro, podendo constituir uma ameaça à segurança sanitária no continente e a nível global".
Como o Novo Jornal avançou no dia 30 de Novembro, Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul, também criticou severamente que alguns países do continente - Angola e Ruanda estão nesse lote - tenham imitado os países ocidentais que suspenderam as ligações aéreas com a África do Sul, Botsuana, Moçambique, Zimbabué e, entre outros Namíbia, "sem que exista uma justificação científica para isso".
Neste lote de países estão a União Europeia, os EUA, Reino Unido, Japão, Brasil, Austrália, entre muitos outros, incluindo Angola e Ruanda.
Como o Novo Jornal noticia aqui e aqui, a reacção a estas restrições foi imediata e severa por parte de diversos líderes africanos, fundamentalmente porque a ómicron, de acordo com os dados existentes e reconhecidos pela OMS-ONU, não apresenta riscos acrescidos aos que se conhecem da Delta, a variante que tomou o mundo desde há vários meses.