Desde a conquista a Paz, em 2002, e até 2015, Angola gastou 120 mil milhões de dólares com a reconstrução nacional, assinala o diário norte-americano New York Times, num artigo dedicado ao "boom da corrupção no país".
Segundo o jornal, que cita dados do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, o pico da factura das obras públicas surgiu em 2014, com um encargo de 15,8 mil milhões de dólares.
Foi também a partir desse ano que, sob impulso da queda do preço do barril do petróleo e consequentes apertos da crise, os "buracos" dos investimentos públicos começaram a ser destapados e as críticas ao Governo começaram a disparar. "Até mesmo no seio do poder", assinala o New York Times, que, em Luanda e no Huambo, recolheu vários testemunhos sobre a corrupção no país, alicerçada no "boom" dos projectos de construção reconstrução.
"Foi como abrir a janela e deitar dinheiro fora", analisou o antigo primeiro-ministro Lopo do Nascimento, enquanto o seu sucessor na chefia do Governo angolano, Marcolino Moco, repudiou a banalização dos desvios.
"Não sou santo, mas não posso aceitar a vulgarização da corrupção", disse ao jornal americano o ex-governante, hoje uma das vozes mais críticas do partido no poder.
De acordo com Marcolino Moco, que foi primeiro-ministro entre 1992 e 1996, a corrupção beneficiou da concentração de poderes do Presidente da República, igualmente chefe do Executivo.
Essa circunstância, segundo o também antigo secretário-geral e membro do comité central do MPLA, potenciou a corrupção no círculo próximo de José Eduardo dos Santos.