Conta o El Pais que "a Odebrecht, através da Klienfeld, empresa sem actividade utilizada pela construtora para comprar as vontades de políticos e altos funcionários, transferiu um total de quatro milhões de euros entre 2008 e 2009 para uma conta na Banca Privada d'Andorra (BPA) do economista Edson N'Dalu Leite de Morais, filho do ex-ministro das Finanças, José Pedro de Morais.
O jornal, que terá tido acesso a um relatório da Unidad Inteligencia Financiera de Andorra (UIFAND) que põe em causa que Leite de Morais, "um empresário com interesses em Angola e no Brasil, seja o verdadeiro dono desses fundos". E o próprio terá sustentado que a sua conta foi usada para "pagar a terceiros".
O El Pais avança que, dessa conta, foram transferidos, em 2009, 101 mil euros para José Pedro de Morais, ex-governador do Banco Nacional de Angola e ministro das Finanças entre 2002 e 2008.
"Esse ex-membro do Governo do ex-presidente José Eduardo dos Santos recebeu o dinheiro em duas contas americanas do Bank of America e Eurobank", escreve o jornal, que afirma ter tentado, sem sucesso, entrar em contato com Leite de Morais e José Pedro de Morais.
A conta do "suposto economista" terá também sido utilizada para "pagar um catamarã, no valor de 178 mil euros, um camião (257.000), um Mercedes Benz (132.000), um camião Ford F550 (85.000), motos de água e moto-quatro.
O jornal espanhol continua, explicando que Leite de Morais enviou um total de 557 mil euros, em Outubro de 2009, para a Intrepid Southeast, uma empresa da Flórida dedicada à venda de barcos, tendo transferido 422.500 euros, em Julho de 2010, para outra empresa de venda de iates de Miami.
"Os pagamentos foram solicitados através de transferências internas, um sistema que não deixa rastos. E o dinheiro viajou da conta BPA da empresa instrumental da Odebrecht para a de Leite de Morais, que encobriu o seu nome na sombra da empresa Panamenha Barton International S.A", escreve o diário.
"A conta do empresário angolano em Andorra foi alimentada pelos quatro milhões que o gigante brasileiro da construção lhe transferiu através de Klienfeld, um comerciante constituída na ilha caribenha de Antígua e Barbuda", lê-se na peça, que cita o tal relatório que chegou às mãos dos jornalistas do El Pais: "Esta é a assinatura da construtora brasileira que costumava pagar subornos".
Os investigadores que assinam o relatório sustentam que "não é possível saber quem é o verdadeiro dono dos fundos do Leite de Morais" e enquadram as suas compras de produtos de luxo "num sistema de integração de fundos", escreve o jornal, que avança que a Procuradoria-Geral de Andorra solicitou ao juiz investigador do caso Odebrecht que apreendesse as contas de Leite de Morais no BPA por um suposto crime de lavagem de dinheiro.
Ainda segundo o jornal, que sustenta a sua investigação no relatório da UIFAND, outra das teias usadas pela gigante da construção brasileira para "untar as mãos" de políticos angolanos foi - segundo os pesquisadores - a conta BPA de Rosa Paulo Francisco Francisco Bento.
"As investigações não conseguiram comprovar a origem do dinheiro dessa empresária angolana que se apresentou como presidente da empresa Narda Consultores", revela o diário espanhol.
Como o seu compatriota Leite de Morais, Rosa Paulo Francisco Bento foi apresentada pela Odebrecht ao banco andorrano, e justificou os seus fundos como sendo honorários por actuar como intermediária comercial entre a construtora e as autoridades angolanas, escreve ainda o jornal, que revela que a mulher disse ao BPA que receberia o dinheiro através de transferências internas, um sistema que não deixa rasto.
"O beneficiário intermediava negócios entre o Governo [de Angola] e a Odebrecht para ter acesso ao Sr. António Paulo Kassoma [primeiro Ministro de Angola entre 2008 e 2010], com quem trabalhou em consultorias anteriores", revela o relatório citado pelo El Pais, que termina dizendo que o Ministério Público andorrano pediu ao juiz responsável pela investigação da Odebrecht que bloqueie os fundos detidos por Rosa Paulo Francisco Francisco Bento no principado dos Pirenéus de Francisco Bento por um suposto crime de lavagem de dinheiro.