Antes deste procedimento de contratação simplificada pelo critério material, apenas outro se podia vagamente comparar em dimensão, o que serviu para as obras de conclusão do Terminal Oceânico da Barra do Dande, de 700 milhões USD, metade do valor previsto no contrato adjudicado por José Eduardo dos Santos a uma empresa da sua filha Isabel (1.500 milhões de dólares), logo após as eleições gerais, num decreto depois revogado por João Lourenço.

Mas quer o actual procedimento, de 1, 027 mil milhões de euros, quer o anterior, de 700 milhões USD, vão contra as declarações feitas por João Lourenço quando criticou o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, que acusou de entregar "de bandeja" um projecto "de tão grande dimensão" a um empresário "sem concurso público".

Neste despacho 100/22, o Chefe de Estado aprova igualmente a minuta do contrato de empreitada.

Mas esta empreitada de obras públicas está planeada há já algum tempo, pois em Junho de 2021, o Presidente da República deu autorização para a assinatura de um memorando de entendimento entre o Ministério da Energia e Águas e o grupo português MCA, para a electrificação das mesmas comunas nas províncias de Malanje, Bié, Moxico, Lunda-Norte e Lunda-Sul, através de sistemas híbridos de geração fotovoltaica com sistema de armazenamento, com baterias de ião-lítio, e a expansão da rede eléctrica de novas redes de distribuição.

No despacho presidencial 83/21, o Chefe de Estado autorizava o ministro da Energia e Águas a assinar o acordo para a elaboração de estudos de viabilidade técnica, económica, financeira e ambiental, necessários para a electrificação de um total de 61 comunas, considerando que o Grupo MCA já tinha elaborado os estudos prévios.

"Havendo necessidade da celebração de um memorando de entendimento para a elaboração de estudos de viabilidade técnica, ambiental, legal e financeira para a electrificação das províncias de Malanje, Bié, Moxico, Lunda-Norte e Lunda Sul, através de sistemas híbridos de geração fotovoltaica, bem como assegurar o respectivo financiamento do projecto", o Presidente da República determina a celebração deste memorando de entendimento, lê-se no documento de 2021.

Em Fevereiro do mesmo ano, como o Novo jornal avançou na altura, João Lourenço aprovou uma despesa de 539,7 milhões de euros para a instalação de painéis solares nas localidades de Bailundo, Benguela, Biópio, Cuíto, Lucapa, Luena e Saurimo. Para tal, o Governo previa contrair dois empréstimos - um no valor de 580 milhões de euros, a um banco holandês, e outro de 80,8 milhões de euros, a um banco sul-africano.

O contrato foi entregue a um consórcio constituído pelas empresas Sun Africa LCC, M. Couto Alves-Vias, SA e M. Couto Alves, SA (grupo MCA)