João Lourenço não deixará de fazer a radiografia da violência nos Grandes Lagos, na condição de líder da Conferência Internacional para esta região (CIRGL), de defender o multilateralismo como ferramenta de construção do futuro e a importância de África nesse mesmo advir ou ainda de apontar o potencial de Angola para os investidores internacionais. Também nâo vai esquecer a pandemia e os seus tentáculos.
A intervenção do Presidente angolano foi agendada para o final da manhã, a seguir aos discursos dos seus homólogos da África do Sul, Botsuana e Cuba.
A República Centro-Africana, onde se empenhou pessoalmente na busca de uma solução para o conflito interno neste pequeno país da África Central mas uma gigante dor de cabeça para as organizações sub-regionais e a própria União Africana, deve merecer uma atenção especial do Chefe de Estado angolano.
A pandemia da Covid-19, que há um ano, na 75º AG, realizada por videoconferência, mereceu do PR um foco especial, elogiando a forma como o mundo, no âmbito do G20, correspondeu aos anseios dos países mais pobres para poderem fazer face à crise económica gerada no seu rasto, também merecerá lugar no seu discurso, provavelmente agora focado na questão do esforço de imunização.
João Lourenço deverá enfatizar a questão da escassa vacinação em África e a necessidade de encontrar ferramentas que permitam ultrapassar mais esse fosso entre o mundo mais desenvolvido e o menos apto, como é o caso do continente africano.
Não deixará ainda de sublinhar a fase especial que Angola atravessa devido à prolongada crise económica exponenciada pela pandemia e assente na queda do valor do petróleo nos últimos anos, enfatizando as reformas introduzidas no País para abrir caminho a um futuro mais risonho.
João Lourenço poderá ainda este ano recuperar um tema que lhe é caro, que é a urgência de garantir um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU para o continente africano, apontando essa necessidade como a única forma de levar este órgão fulcral das Nações Unidas a reflectir a nova realidade planetária, distinta daquela que esteve na génese da criação da sua criação logo após a II Guerra Mundial, que terminou em 1945.
O fim do bloqueio a Cuba pode voltar a integrar o discurso do Presidente angolano, como fez na 74ª AG, em 2019, notando então que se trata de uma situação injusta e contrária ao Direito Internacional, embora nessa altura se estivesse no rescaldo ainda da visita histórica do então Presidente dos EUA, Barack Obama, que tinha como seu vice o actual inquilino da Casa Branca, Joe Biden.
Tratando-se de um discurso que deverá ter entre 10 e 15 minutos, escasso para abarcar todos os temas relevantes, o Chefe de Estado angolano não deverá perder, todavia, a oportunidade de evidenciar o seu programa político de combate à corrupção, a criação de legislação específica para melhorar o ambiente de negócios em Angola e o que foi feito nestes quaro anos de mandato para melhorar a economia nacional, nomeadamente na procura de aumentar a produção interna.
No que toca ao mundo além continente africano, como tem sido usual, o PR deverá salientar a defesa de solução pacífica e através do diálogo nos conflitos que polvilham o planeta, podendo mesmo fazer referência às regiões do Médio Oriente e da Ásia.
Mas, seguramente, João Lourenço não vai perder mais esta oportunidade para valorizar o potencial nacional para os investidores estrangeiros, podendo mesmo deixar uma linhas da sua intervenção para apontar alguns dos principais sectores onde esse investimento oferece mais vantagens a quem neles apostar agora.