"Como proteger algo cuja existência se desconhece?". A pergunta serve de ponto de partida para o Grande Censo do Elefante (GEC na sigla inglesa), iniciativa que surgiu em 2014 no Botswana com o objectivo de contabilizar a população de paquidermes que povoa as savanas de África.
O escrutínio, extensivo a 20 países e realizado por via aérea, chegou em Outubro do ano passado a Angola, que dados preliminares apontavam como umas das maiores reservas de elefantes do continente.
"Estava esperançoso que o país tivesse escapado à matança, mas os resultados são alarmantes: Com cerca de 3.400 elefantes no Sul [área de maior concentração],as taxas de devastação nacionais estão entre as maiores de África", lamenta Mike Chase, investigador responsável pelo Censo.
Em entrevista à National Geographic, o também fundador da organização não-governamental Elefantes Sem Fronteiras avisou que os efeitos da caça furtiva no país têm ultrapassado até as piores previsões.
"Angola está a perder 10% de elefantes a cada ano, uma taxa de mortalidade superior a de qualquer outro país incluído no GEC", contabiliza o especialista, já com um milhão de metros quadrados de savava africana escrutinados.
Segundo o especialista, a "razia angolana" explica-se também a partir da análise dos países vizinhos. "Já não resta nada para caçarem no sudeste da Zâmbia, a Namíbia está relativamente bem protegida e no Botswana há uma política de tolerância zero em relação à caça. Além disso, os caçadores sabem que Angola tem uma capacidade limitada para gerir a sua vida selvagem".
Governo angolano "não tinha consciência da extensão do problema"
Sem esconder o "choque total" com a realidade angolana - "considerando as elevadas taxas de elefantes que regressaram ao país partir do Botswana, depois da guerra" - Mike Chase adianta que os números surpreenderam o próprio Executivo.
"Senti uma preocupação genuína do Governo, que não tinha consciência da extensão do problema e manifestou a intenção de fazer tudo ao seu alcance para ultrapassar o problema".
O investigador recorda que um dos grandes objectivos do GEC é precisamente esse: Sensibilizar os Estados para a sua situação.
No caso de Angola, Mike Chase adianta que o país "tem a possibilidade de criar o maior habitat de elefantes do continente, algo importante para salvar vidas, porque a perda do habitat é uma das ameaças" à sua sobrevivência.
"Acredito que uma história poderosa de esperança pode nascer destas descobertas desencorajantes. Por isso, espero que os 3.400 elefantes contabilizados no ano passado no país cresçam para 6.000", sublinha o investigador, antes do apelo final ao reforço da fiscalização: "É mais fácil matar do que salvar um elefante".
A evidência levou o Ministério do Ambiente a proibir, recentemente, a venda de marfim em todo o país.