Sérgio Raimundo insistiu hoje em audiência de julgamento do caso dos 500 milhões USD, onde, para além de Valter Filipe estão ainda José Filomeno dos Santos, antigo presidente do Fundo Soberano (FSDEA) de Angola, Jorge Gaudens e António Samalia Bule, todos acusados de branqueamento de capitais, entre outros crimes, para que o antigo Chefe de Estado seja ouvido como declarante porque entende o causídico que é fundamental saber se foi o ex-Presidente que orientou, e como o fez, o ex-governador do Banco Central no contexto da transferência dos 500 milhões para um banco em Londres, Reino Unido.
Este pedido de Sérgio Raimundo foi de imediato recebido com a oposição do Ministério Público, sob o argumento de que o processo contém material de prova suficiente para permitir não chamar a declarar o antigo Presidente da República e pai de um dos principais arguidos, José Filomeno dos Santos "Zenu".
No caso de se confirmar que José Eduardo dos Santos estará neste julgamento como declarante, ser-lhe-á enviado um questionário por escrito ao qual este responderá pela mesma via, explicou Sérgio Raimundo, sublinhando que essa auscultação terá como finalidade confirmar aquilo que o seu constitinte diz que aconteceu.
Por exemplo, que executou ordens do Titular do Poder Executivo quando autorizou a saída dos 500 milhões USD para o Credit Suisse, em Londres.
Entretanto, já no decurso do julgamento, Valter Filipe teve um problema súbito de saúde e foi assistido por um médico e deixou o tribunal após ter sido dispensado pelo colectivo de juízes presidido por Cruz Pitra. O advogado de defesa já tinha alertado para os problemas de saúde do seu constituinte.
Entretanto, como viu o jornalista do NJOnline no local, José Filomeno dos Santos tentou, já na sala de audiência, retirar a máquina fotográfica a um fotografo que o tinha acabado de fotografado, tendo sido alertado por pessoal do tribunal para não agir dessa forma, acabando por pedir desculpa ao jornalista.
Recorde-se que o antigo presidente do Fundo Soberano (FSDEA), José Filomeno dos Santos "Zenu", e o ex-Governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Valter Filipe, começaram hoje a ser julgados no Tribunal Supremo (TS), em Luanda, acusados de branqueamento de capitais e peculato, no âmbito do conhecido caso dos 500 milhões USD transferidos ilegalmente do BNA para o estrangeiro.
A José Filomeno dos Santos e a Valter Filipe juntam-se ainda, na condição de arguidos, Jorge Gaudens e António Samalia Bule.
Zenu aparece neste julgamento pronunciado pelos crimes de peculato e branqueamento de capitais no seguimento da transferência dos 500 milhões USD para um banco em Londres, Reino Unidos, em Setembro de 2017, cuja finalidade era criar um fundo estratégico de 35 mil milhões USD que deveria viabilizar projectos estruturantes para a economia nacional, entre outras valias, nomeadamente a disponibilização de uma quantia avultada em moeda estrangeira - cerca de 300 milhões USD por semana - para responder às necessidades cambiais do país.
José Filomeno dos Santos, Jean-Claude Bastos de Morais, presidente da Quantum Global, uma empresa suíça que estava a gerir com Zenu o FDSEA, e Valter Filipe, estiveram cerca de um ano, até Março deste ano, em prisão preventiva.
O empresário Bastos de Morais, com dupla nacionalidade, suíça e angolana, após ter chegado a acordo com o FDSEA, deixou o país, logo após ter sido libertado, porque esse mesmo acordo consubstanciava a retirada de todas as queixas em tribunal contra si.