A malária matou 409 mil pessoas no ano passado e a principal ameaça na luta contra a doença é o deficit de financiamento. O relatório da OMS refere que em 2019 foram angariados 3.000 milhões de dólares, quando a meta era de 5,6 mil milhões.
O director da OMS, Tedros Ghebreyesus afirmou que "é chegada a hora de os líderes de África e do mundo enfrentarem mais uma vez o desafio da malária, assim como fizeram quando lançaram as bases para o progresso alcançado desde o início deste século."
Em 2000, os líderes africanos assinaram a Declaração de Abuja, prometendo reduzir as mortes por malária no continente para metade ao longo de um período de 10 anos. O compromisso político, juntamente com inovações médicas e um aumento no financiamento criaram um período de sucesso sem precedentes no controle da doença, refere o relatório da OMS, acrescentando que 1,5 mil milhões de casos e 7,6 milhões de mortes foram evitados desde 2000.
No continente americano, a incidência de casos caiu 40% entre 2000 e 2019, passando de 1,5 milhões para 900 mil.
Brasil, Colômbia e Venezuela continuam responsáveis por 86% de todas as notificações na região.
No ano passado foram notificados 229 milhões de casos em todo o mundo, uma estimativa que praticamente não muda há quatro anos. 90% desses casos foram registados em África.
Desde 2000, a região reduziu o número de mortes em 44%, de 680 mil para 384 mil, mas o progresso diminuiu nos últimos anos.
Angola e Moçambique estão na lista das nações mais afectadas. Moçambique representa 4% do total de casos e mortes em todo o mundo, enquanto Angola reúne 3%.
De acordo com o relatório, a maioria das campanhas de prevenção conseguiu avançar este ano sem grandes atrasos, apesar da pandemia, mas basta uma interrupção de 10% no acesso ao tratamento na África Subsaariana para levar a 19 mil mortes adicionais. Interrupções de 25% e 50% na mesma região podem resultar entre 46 mil e 100 mil mortes a mais.
Segundo a directora-regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, "apesar do impacto arrasador que a Covid-19 teve nas economias africanas, os parceiros internacionais e os países precisam fazer mais para garantir recursos e expandir os programas que fazem uma diferença na vida das pessoas."
De acordo com o relatório, 21 países eliminaram a malária nas últimas duas décadas.
Na região do sudeste asiático do Rio Mekong, que inclui Laos e Vietnam, continuam a registar-se grandes ganhos e o objectivo é erradicar a doença até 2030.
Apesar desses avanços, muitos países com alto índice estão a ficar para trás na luta contra a malária. De acordo com as projecções da OMS, a meta de 2020 para reduções na incidência de casos não será cumprida por 37% e a meta de redução de mortalidade por 22%.
Em Angola, no primeiro semestre deste ano, foram registadas 5.767 mortes por malária, uma média de 32 óbitos por dia. Apesar de ser a principal causa de mortes nos hospitais públicos, o Estado cortou, nos últimos dois anos, 45% da verba destinada à doença.
Os números são da Direcção Nacional da Saúde Pública (DNSP) do Ministério da Saúde (MINSA). De acordo com o relatório, nos primeiros seis meses deste ano, as autoridades sanitárias diagnosticaram perto de 4,2 milhões de casos.
Comparativamente ao mesmo período de 2019, houve um aumento de mais de 163 mil casos e 1.163 óbitos. No primeiro semestre de 2019, tinham sido notificados pouco mais de quatro milhões de casos, que resultaram em 4.604 mortes.
No ano passado, segundo o relatório da DNSP, o País teve um registo de quase 7,1 milhões de casos, que resultaram em quase oito mil mortes. Luanda, com mais de um milhão, foi a província mais afectada, seguida do Uíge (755 mil) e do Bié (705 mil).
Os casos registados em 2019, segundo o documento, foram os mais altos dos últimos anos. Por exemplo, em 2018, o País notificou 5,9 milhões de casos, enquanto, em 2017, foram 4,5 milhões. Se, por um lado, tem havido aumento, por outro, a mortalidade tem tido queda. Em 2019, de acordo com o MINSA, morreram 7.923 pessoas, e, em 2018, quase 12 mil. Ou seja, em 2019, Angola teve uma redução de 3.891 óbitos em relação a 2018, número que representa uma queda de 33%.