Este alerta de Tedros Adhanom Ghebreyesus surgiu na última conferência de imprensa realizada na sexta-feira para fazer um balanço da distribuição das vacinas já registadas e aprovadas, sendo uma síntese das múltiplas chamadas de atenção que tem vindo a ser feitas, como o Novo Jornal noticiou já em Dezembro, para a possibilidade de a Covid-19 se poder transformar numa "doença dos pobres", como a malária ou o dengue, com África na linha da frente desse risco.
Apesar de a OMS, bem como outras organizações multilaterais, e mesmo a União Africana, através do seu Centro de Controlo de Doenças (CDC Africa, em inglês), estarem a desenvolver esforços, nomeadamente através da COVAX, o mecanismo global de partilha de vacinas, para que o continente tenha acesso em tempo útil ao medicamento que promete derrotar a pandemia do Sars CoV-2.
Tedros Adhanom Ghebreyesus disse nesta conferência de imprensa que chegou o momento de os países, tal como o Papa Francisco já tinha pedido, deixarem de proceder de forma egoísta e unilateral e pensarem em gerar estratégias que permitam, de facto, garantir que a pandemia da Covid-19 seja combatida de igual modo em todo o mundo sem deixar ninguém para trás como está, de faco, a suceder agora.
O objectivo da OMS agora descrito por Tedros Ghebreyesus está ao alcance e facilitado depois de a OMS ter recolhido 6 mil milhões USD dos 7 mil milhões pedidos para que em 2021 possa ser financiada uma distribuição democrática das vacinas por 92 países de rendimento baixo ou médio que não têm como garantir per se o acesso aos antídotos para a crise sanitária e económica gerada pelo novo coronavírus.
Isto, porque o que se está a ver actualmente é que os países ricos, dos EUA a Israel, da União Europeia à Austrália, as campanhas de vacinação estão a decorrer e nos países pobres, como a quase totalidade dos 55 países do continente africano, ainda nem sequer estão criadas as condições mínimas para assegurar a conservação das principais vacinas, como as da Pfizer ou da Moderna, que exigem menos 70 graus para manterem a qualidade.
A melhor possibilidade para inverter este quadro está nas vacinas produzidas com tecnologias menos exigentes na sua conservação, como as chinesas ou ainda as da AstraZeneca-Oxford, ou ainda na vacina russa, mas que, por razões pouco claras ainda, não estão a ser ou encomendadas ou produzidas em quantidade suficiente, sendo bem mais baratas e adequadas ao uso em países mais quentes e menos preparados logisticamente.