Segundo a agência de notícias Lusa, o Ministério Público, que analisa neste documento a gestão da filha de José Eduardo dos Santos entre Junho de 2016 e Novembro de 2017, "aponta várias irregularidades entre as quais um esquema de gestão paralela e contratos celebrados com empresas a si ligadas, através das quais foram feitos pagamentos ilegais".

No despacho de acusação constam ainda Paula Oliveira, amiga e sócia (seis crimes), o seu antigo gestor e amigo Mário Leite da Silva (seis crimes), o seu ex-administrador financeiro na Sonangol Sarju Raikundalia (nove crimes) e a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) (dois crimes), refere a Lusa, citando o documento.

O despacho tem data de 11 de Janeiro, e, segundo o documento, os arguidos prejudicaram o Estado angolano num montante superior a 208 milhões de dólares, em "salários indevidamente pagos, vendas com prejuízo, fraude fiscal e pagamentos fraudulentos a empresas".

A Lusa diz que, segundo a acusação, no âmbito da sua gestão e aproveitando a condição de filha do Presidente (falecido em 2022), Isabel dos Santos "devidamente concertada com os arguidos Mário Silva, Sarju Raikundalia e Paula Oliveira, de forma meticulosa, criou um plano para defraudar vigorosamente o Estado angolano, persuadindo o Conselho de Administração a tomar decisões que os beneficiaram"".

"Segundo o Ministério Público, Isabel dos Santos começou por centralizar a gestão e administração dos negócios do grupo Sonangol, passando o Conselho de Administração (CA) e o Conselho Executivo a funcionar como uma única entidade, tendo levado consigo os consultores da PwC, BCG e VdA para montar um esquema de gestão paralela", escreve a Lusa, que acrescenta que "os acusados terão ludibriado o CA da Sonangol no sentido de deliberar pela contratação da Wise - cujo contrato com o Ministério das Finanças se encontrava caducado - apesar do conflito de interesses, tendo sido autorizados supostos pagamentos vencidos via Sonangol Limited (Londres) para esta empresa pelo banco Investec".

"Este, entretanto, após ter executado as ordens de pagamento encerrou as contas da Sonangol em Hong Kong por terem sido associadas a operações suspeitas de branqueamento de capitais, constrangimentos que obrigaram Isabel dos Santos a abrir, em 2017, contas bancárias tituladas pela Sonangol nos bancos Millenium BCP, BFA, BIC Angola e Eurobic, entidades onde também tinha interesses", avança a agência de notícias, citando o despacho de acusação.

"Face às suspeitas de fraude e para camuflar o negócio consigo mesma, facilitar a continuação do desvio dos dinheiros públicos, Isabel dos Santos e Mário Silva "engendram uma nova empresa", Ironsea, registada no Dubai, em 1 de Fevereiro de 2017, empresa esta que assumiu em Maio de 2017 a posição contratual da Wise", refere, acrescentando qee a acusação afirma que a Ironsea foi criada para "legitimar e canalizar os pagamentos indevidos provenientes da Sonangol com o único objectivo de apropriação indevida dos dinheiros públicos", mas não sem alguns obstáculos, já que a diretora geral da Sonangol Limited, Maria Júlia, se recusou a assinar o contrato de prestação de serviços "por questões legais e suspeita de fraude".

"Depois de exonerar a diretora, através de um despacho com efeitos retroativos, Isabel dos Santos nomeia uma sua familiar para o cargo, decidindo-se entretanto alterar a denominação da Ironsea para Matter, empresa pela qual passaria a subcontratação de vários consultores, entre as quais a PwC, também acusada no processo", continua a Lusa.

A Ironsea/Matter era apoiada por outras duas empresas tituladas por Isabel dos Santos, a Fidequity Fine e a Santoro, que receberam também quase 2 milhões de euros por supostos serviços, lê-se na acusação, citada pela Lusa, que junta que a Ironsea/Matter fcaturou em 2017 mais de 130 milhões de dólares (118,7 milhões de euros), inclusivamente depois de a administração liderada por Isabel dos Santos ser exonerada, em 15 de novembro desse ano, tendo sido emitidas faturas com datas adulteradas.

Antes da saída, Isabel dos Santos e os seus parceiros ordenaram também avultadas transferências bancárias a favor da Mater, pagamentos estes executados de "forma extraordinariamente célere e sem respeitar os procedimentos".

"Paula Oliveira, ante a iminência de encerramento das contas da Ironsea/Matter, terá ainda transferido cerca de 30 milhões de dólares (27,4 milhões de euros) para contas no Eurobic tituladas por duas empresas suas", segundo omMinistério Público, que refere que apesar de não fazerem parte da administração, tanto Mário Silva como Paula Oliveira e alguns dos consultores tomavam parte regularmente nas reuniões do CA, escreve por último a Lusa, citando o despacho de acusação.