O Brent de Londres, que define o valor das exportações angolanas, marca hoje o barril de petróleo a 70,16 dólares, um valor a que já esteve este ano durante mais de uma semana, mas que já não acontecia desde 2015, ano em que se acentuou o descalabro global do crude, depois de anos a fio acima dos 100 USD, com o pico a ser atingido em 2008, quando chegou aos 147.
Para ficar acima da fasquia simbólica dos 70 USD por barril estão a contribuir vários factores.
O mais distante é a estratégia de cortes na produção de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) definida pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em finaisd de 2016 e efectivada a 01 de Janeiro do ano passado.
Esta estratégia ganhadora, para a qual Angola contribui com 78 mil bpd, foi prolongada já por duas vezes e está agora com calendári definido até 31 de Dezembro deste ano, altura em que o "cartel", e os seus aliados, que incluem a Rússia, o México e, entre outros, o Cazaquistão, crêem atingir o objectivo essencial que é equilibrar de forma consolidada o mercado global da oferta e da procura, para manter os preços na fasquia dos 60 para os 70 USD.
Mas outros factores têm contribuído para este ímpeto, como sejam, as continuadas quebras dos "stocks" das grandes economias consumidoras, como a dos EUA e a da China, e, nas duas últimas semanas, o que gerou a maior subida semana desde há quase um ano, estiveram a impulsionar o valor do barril notícias de que a Arábia Saudita, o maior produtor mundial, estaria a observar dificuldades na manutenção da sua produção estabilizada, com risco de acontecer uma disrupção.
A par desta questão, existe ainda a questão da guerra no Iémen, onde os guerrilheiros Houthis, que se opõem ao Governo suportado por Riade, obtiveram misseis de longo alcance que podem perigar a segurança na Arábia Saudita e dos seus aliados no Golfo Pérsico.
Mas também as mudanças na Casa Branca, onde o Presidente dos EUA nomeou John Bolton, um "falcão" com tendência belicista, para o cargo de Conselheiro Nacional de Segurança, o que está a ser visto pelos analistas como a abertura de uma nova "avenida" de possibilidades para aumentar a tensão entre Washington e Teerão, por causa do programa nuclear do Irão, com demonstrações claras de que Donald Trump quer abrir uma nova frente de batalha no Médio Oriente.
As contas angolanas
Face a este cenário de alta no sector petrolífero, Angola tem visto o rendimento obtido das exportações de crude subir e em Janeiro chegou quase aos mil milhões de dólares em receitas fiscais, o melhor registo desde Outubro de 2014, ano em que teve início a crise que o país atravessa e que se faz sentir com vigor, por exemplo, na dificuldade de obtenção de divisas e moeda estrangeiro.
Não é fácil para quem não domina a volatilidade dos mercados perceber até que ponto uma subida de alguns dólares no barril transaccionado nos mercados internacionais pode afectar a economia angolana, mas há uma soma simples de se fazer que deixa essa importância em destaque.
O barril de petróleo está hoje a passar os 70 dólares e se se tiver em conta que as exportações diárias de Angola rondam os 1,6 mbpd, e que o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018 foi elaborado com o barril a 50 USD, isso implica uma "almofada" circunstancial de 20 dólares norte-americanos por cada barril que o Executivo pode usar para acorrer a emergências.
Um dos exemplos disso mesmo foi dado recentemente, aquando da discussão do OGE na especialidade onde estava em causa aumentar as verbas disponíveis para a Educação e a Saúde e a CASA-CE avançou com a proposta de ir buscar essas verbas à diferença entre o valor de barril orçamentado e o valor a que este é vendido.
Na diferença entre os 50 orçamentados e os 70, existem cerca de 32 milhões de dólares por dia fora do OGE, embora aqui tenham de ser subtraídas as mais-valias dos investidores, normalmente as petrolíferas multinacionais que exploram blocos no off shore angolano, concessionadas pela estatal Sonangol.
E é esta diferença que constitui uma almofada que serve, normalmente, para aparar as quedas provocadas pelas crises e resolver urgências.
É neste palco de grande volatilidade, como se viu nestes últimos anos, onde, de um pico máximo histórico de 147 USD por barril em Julho de 2008, para os 29 dólares no início de 2016, os países exportadores e especialmente dependentes da matéria-prima, como é o caso de Angola, não conseguem manter as suas economias consolidadas, excepto se aproveitam - o que claramente não sucedeu em Angola, apesar das demonstrações de intenções nesse sentido - os momentos de bonança para diversificar as suas economias.
Face a essa, ainda, por concluir diversificação, com Angola a apontar na direcção da agricultura e, entre outros, por exemplo, do turismo como motores da economia, o que se passa nos palcos internacionais revela-se de extrema importância, como é o caso do esforço da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em conluio com a Rússia e outros 11 produtores não-membros do "cartel", para manter os preços em alta através de uma estratégia de cortes na produção de 1,8 mbpd iniciada a 01 de Janeiro do ano passado.
Para este esforço, Angola, membro da OPEP, contribui com um corte de 78 mil bpd, sendo que é um dos países que mais rapidamente ultrapassa a diminuição dos cortes com o valor acrescentado ao barril por essa via, o que se torna claro quando se tem em consideração que o barril vale hoje 70 USD e estava a menos de 30 em 2016.
O que está ao virar da esquina depois de 2018?
Quando os cortes na produção da OPEP+Rússia terminarem, em finais deste ano, se isso se confirmar, o que, por exemplo, o ministro dos Petróleos saudita Khalid al-Falih, estima que possa acontecer, visto que o excesso de produção face à procura nos últimos anos terminou e as reservas que essa realidade permitiu acumular estão a diminuir aos milhões de barris por semana nos EUA e na China, entre outras grandes economias globais, é que os países possam retomar, pelo menos, uma parte dessa produção perdida.
A OPEP, sinalizou ainda Khalid al-Falih, está a proceder a um aprofundado estudo sobre o que pode ser o balanço dos cortes e o que consistentemente será a realidade dos mercados para definir o próximo passo, sendo que isso possa corresponder a um relaxamento dos cortes.
O ano de 2019 é apontado pelo responsável saudita como indicativo para que essa diminuição nas restrições da produção dos membros da OPEP e dos aliados liderados pela Rússia venha a ter lugar de forma paulatina.
Ora, se isso acontecer como prevê o responsável saudita, que, recorde-se, gere a política energética do maior produtor global, deixando para trás por larga margem e potencial, os EUA (2º) e Rússia (3º), Angola poderá aumentar ainda mais as suas receitas, regrando uma maior folga nas suas contas.
Mas, como o Novo Jornal Online lembrava há dias, o país poderá debater-se muito em breve com o problema da deterioração do seu sector produtivo, abandono de blocos e plataformas em "stand by" porque as multinacionais desinvestiram em Angola face aos baixos preços do barril e a retoma da normalidade poderá ser demorada e muito cara, podendo isso desincentivar os investidores devido aos elevados custos de produção nacionais.