A cidade de Jeddah vai ser o palco deste encontro onde os responsáveis pelo sector dos países presentes vão aproveitar para analisar a evolução conseguida desde que em Janeiro do ano passado foi aplicado o plano de cortes de 1,8 milhões de barris por dia (mbpd).

Este plano, que foi delineado ao longo de várias reuniões entre a OPEP e um grupo alargado de países não-membros, com destaque para a Rússia, o México e o Cazaquistão, realizadas em 2016, e aplicado a 01 de Janeiro de 2017, tinha como objectivo essencial equilibrar os mercados, na altura com um claro excedente de oferta face à procura, o que levou o barril a descer para os 28 USD em 2016.

Para este esforço concertado, Angola está a contribuir com uma baixa na produção de 78 mil bpd, embora, segundo os últimos dados oficiais, a produção, desde então, tenha caído substancialmente mais que isso devido à deterioração de equipamentos e abandono de poços pelas multinacionais, fruto do desinvestimento natural quando os preços estão muito baixos.

A produção prevista por alguns organismos internacionais deve cair para 1,58 mbp este mês e, num cenário bem pior, a Agência Internacional de Energia prevê que nos próximos cinco anos esta queda chegue aos 1,29 mbpd.

Com o barril, no mercado que interessa Angola, o Brent londrino, a atingir hoje os 74,02 USD, o mais elevado desde Novembro de 2014, ano em que começou a crise economica em Angola, no seio da organização de produtores começa a surgir uma intensa discussão sobre a validade da continuação dos cortes, porque os excedentes existentes no mercado foram, efectivamente, enxugados desde o início dos cortes, embora a alta nos preços tenha também como razão as sucessivas crises internacionais, a última das quais na Síria.

A posição que Angola vai defender neste encontro de Jeddah não é conhecida, mas a maior parte dos analistas começa a interrogar-se se os actuais preços são do interesse da OPEP e da Rússia porque estão a permitir o regresso em força da produção do petróleo de xisto nos EUA, cuja rentabilidade só é assegurada com o barril a valer mais de 70 USD, podendo inundar o mercado e destruir a estratégia da OPEP.

Embora as agências especializadas já tenham avançado com a notícia de que o calendário de cortes, previstos até ao fim deste ano, não esteja na agenda deste encontro, a quantidade de crude diminuído poderá ser revisto em alta para controlar a indústria do "fracking" norte-americano.

Alias, a quebra continuada nas reservas norte-americanas, na ordem dos milhões de barris por semana, é um dos sinais mais evidentes de que foi restabelecido o equilíbrio entre a oferta e a procura, que era o principal objectivo dos acordos que uniram a Rússia ao cartel petrolífero.

Para Angola, que tem a sua produção em constante queda, apesar de esporádicas flutuações, a manutenção dos acordos de cortes surge como a melhor opção, visto que o país não teria, mesmo que quisesse, capacidade para aumentar a extracção de crude.

E ainda por cima, para as multinacionais, com o actual preço do barril nos mercados, a tentação de investir começa a regressar mas para locais do mundo onde o custo de produção é menor, como é o caso do Médio Oriente, em claro prejuízo dos produtores africanos, como Angola, o da Venezuela, cujos blocos em águas profundas elevam o custo por barril extraído a valores muito superiores aos do "on shore" da Arábia Saudita.

Vantagens e desvantagens para Angola

A exploração e extracção de petróleo no Médio Oriente, onde a Arábia Saudita lidera o topo da lista não só local mas mundial dos países que mais crude extraem em todo o mundo, é substancialmente mais barata que em países como Angola ou a Venezuela, o que permite aos produtores árabes aguentar melhor as crises globais mas também atrair os investimentos das grandes multinacionais em épocas baixas, em detrimento das regiões onde a produção é mais cara.

Excepto se as crises forem dentro das fronteiras do próprio Médio Oriente, onde aquilo que são vantagens, como o Novo Jornal Online explicava a 17 de Março, se podem transformar em desvantagens e as desvantagens para países como Angola passam num piscar de olhos a vantagens competitivas.

Para já, Angola e a Venezuela são as duas grandes vítimas, mesmo que o objectivo não fosse esse, das políticas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), à qual Angola aderiu em 2007, especialmente devido à sua política, determinada pela Arábia Saudita, de "extrair à vontade e em força" nos meses anteriores à crise de 2014.

Se Riade optou por esta política de "pump at will" para lidar com o agigantar da produção do petróleo de xisto, ou "fracking" norte-americano, para cuja indústria só faz sentido se o barril estiver acima dos 65/70 USD, devido ao seu elevado "breakeven", a verdade é que, no médio e longo termo, como agora se está a verificar, entre as vítimas desta estratégia está Angola... e em lugar de destaque.

No médio e longo prazo, o país vai sofrer severas consequências dos vários anos a fio de preços baixos ou moderados porque isso induziu claramente a um desinvestimento no sector e à deterioração natural dos equipamentos, exigindo agora não só tempo, que podem ser anos, mas também um forte investimento que as multinacionais podem não estar disponível a fazer porque têm como alternativa mais barata o Médio Oriente, onde é mais rápido e fácil recuperar o dinheiro.

A opinião e as contas das petrolíferas podem mudar e as suas atenções voltarem a focar-se em Angola se as coisas aquecerem mesmo no Médio Oriente e a produção dos gigantes locais, como o Irão, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos ou o Iraque, forem severamente atingidas.