Em Março, os EUA e os seus aliados, da União Europeia ao Japão e à Austrália, tomaram a decisão de libertar milhões de barris das suas reservas estratégicas - só Washington prometeu libertar 180 milhões de barris em seis meses, 1 milhão por dia - de forma a inverter a forte ascensão da matéria-prima nos mercados por causa da guerra na Ucrânia.
O conflito, que já vai no 47º dia desde que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia, levou os países ocidentais a aplicar um pacote de sanções a Moscovo, as mais pesadas sanções jamais atiradas contra um único país, o que gerou um ciclo de forte valorização do crude nos mercados internacionais.
Isto, porque a Rússia é um dos maiores produtores do mundo (3º) e o 2º maior exportador mundial, sendo que as sanções incidem sobre a sua capacidade de exportar energia, pelo menos nos EUA, e na Europa o crescendo de punições à economia russa tende a integrar igualmente o sector energético no pacote sancionatório.
No entanto, esta queda impactante no valor do barril de petróleo resulta igualmente dos novos confinamentos na China, que acabou de colocar mais de 27 milhões de pessoas fechadas em casa na cidade de Xangai, a 2ªa maior do país, bem como nos dados mais recentes da segunda maior economia mundial, que não são tão famosos como se esperava.
Face a este cenário, o barril de Brent estava hoje, perto das 14:30 a valer 99,21 USD, menos 3,48% que no fecho de sexta-feira.
A Reuters, citando um especialista, Giovanni Staunovo, da UBS, um dos maiores bancos de investimento do mundo, avança que a libertação de parte das reservas estratégicas dos EUA e dos seus aliados, deverá "aliviar a pressão dos mercados nos próximos meses, reduzindo as possibilidade de novos aumentos nos preços".
Tudo, porque enquanto os EUA vão inundar os mercados com 180 milhões de barris das suas reservas nos próximos seis meses, a Agência Internacional de Energia, através dos sues membros, vai colocar 60 milhões de barris no mesmo período, o que permite tapar claramente o défice que se vinha registando na oferta, primeiro com a saída da crise pandémica da Covid-19, e depois por causa da guerra na Ucrânia.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 4 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia, 10 milhões, incluindo deslocados internos, são a parte visível deste desastre humanitário.