Há muito que a hipocrisia ocidental está à mostra, com sucessivas notícias sobre o aumento da compra de petróleo russo pelos EUA, apesar do embargo total que lhe decretou, mesmo que através de terceiros, para disfarçar, e os países europeus que, ao mesmo tempo que estão a comprar gás e crude russos massivamente para atestar as suas reservas antes da data anunciada para o início do embargo, começam a mostrar brechas gigantes na sua coesão interna quanto à forma como lidar com o empenhado esforço da presidente da Comissão Europeia, Ursula Leyen, para cortar as compras europeias a Moscovo.
Depois de a semana passada ter chegado ao fim com a matéria-prima sob forte pressão, esta semana mostra-se a jeito para ser um período revigorante para o sector, o que é sempre uma boa notícia para as economias mais petrodependentes, como é o caso da angolana, que tem no crude mais de 95% das suas exportações, 35% do PIB e perto de 60% das receitas fiscais.
E é assim que, depois de a 08 de Setembro, o barril de Brent, que serve de referência para as exportações nacionais, ter batido nos 87 USD, registando a maior queda em sete meses, eis que esta segunda-feira, 12, a medida internacional - equivalente a 159 litros -, estava, perto das11:00, hora de Luanda, a valer quase 94 USD (93,91) mais 1,120%.
Este ganho, pouco expressivo em números, mas importante como mudança de ciclo de perdas para um período que se adivinha de ganhos, tem como propulsor a ausência de avanços nas negociações entre o Irão e os EUA sobre o acordo nuclear, que, quando chegar a bom porto, vai permitir a chegada aos mercados de mais, pelo menos, no imediato, 1,5 milhões de barris por dia exportados por Teerão, presentemente embargado sob sanções ocidentais, mas também à aparente falta de coerência ocidental na forma como lida com o embargo a energia Made in Russia.
A ajudar está ainda a decisão tomada pela OPEP+, cartel que 2017 junta os países da OPEP e 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, que na sua reunião mensal de 05 de Setembro tomou a decisão extraordinária de cortar a produção em 100 mil barris por dia.
Com o fornecimento a afunilar e os dados da economia global a melhorar, os analistas do sector estimam que o petróleo vá observar um período de grandes ganhos, estando claramente na linha de novamente subir além da fasquia dos 100 USD...
E se a decisão do G7, o grupo das sete maiores economias industrializadas do mundo, de impor um preço máximo para a venda de crude russo, então, segundo alguns analistas, é muito provável que o barril volte a disparar porque Moscovo já ameaçou que vai fechar a torneira a 100% de gás e petróleo para todos os países que alinharem na pretensão do G7, grupo liderado pelos EUA.
Em sentido contrário, a China pode surgir como contra-vapor, porque as suas rígidas políticas de Covid-Zero estão a apertar a sua economia, reduzir o seu crescimento e impor restrições à importação da matéria-prima.
Como pano de fundo, a forte pressão inflacionista nas economias ocidentais, a recessão à vista nos EUA, o perigo de colapso da indústria alemã face ao risco de ficar sem gás russo, e o desemprego galopante, são ameaças ao negócio global do crude que pode impactar fortemente na economia angolana e criar dificuldades ao Governo de João Lourenço que agora vai iniciar a legislatura, depois da tomada de posse marcada para esta quinta-feira, 15.
Para os países africanos que integram esta poderosa organização, que controla 50% do crude extraído diariamente em todo o mundo - perto de 100 milhões de barris por dia, com oscilações ligeiras face ao sobe e desce dos mercados, ou gigantes (para perto de 80 milhões), como ocorreu com a pandemia da Covid-19, em 2020 -, a manutenção do barril acima de 100 USD há quase seis meses é uma lufada de ar fresco para as suas asfixiadas economias, especialmente a angolana, que atravessa uma das mais sérias ameaças à sua estabilidade social sem que se veja como possível uma rápida diversificação da economia para evitar estas tremuras sócio-económicas.