Desde que Qassem Soleimani, o mais importante líder militar do Irão, foi assassinado por mísseis disparados a partir de drones norte-americanos, na sexta-feira, em Bagdade, Iraque, na companhia de outros importantes lideres militares locais, o barril de crude em Londres - Brent - subiu, até ao fecho de segunda-feira, mais de 3%.
E, embora longe de ter passado o perigo de uma confrontação militar e estar ainda acesa a chama da "vingança severa" que o aiatola Ali Khamenei, líder supremo do Irão, fez após a morte de Soleimani, à medida que o tempo passa, o valor do petróleo está a diminuir, claramente a caminho da normalização, tendo já hoje chegado, cerca das 09:30 aos 68, 24 USD, menos 1% que o registo de ontem, segunda-feira, 06.
Entre as ameaças de um lado e do outro, com o Presidente dos EUA, Donald Trump a dizer mesmo que serão atacados dezenas de sítios estratégicos no Irão se este país ripostar, incluindo locais de interesse cultural - o mesmo que fizeram os jihadistas do estado islâmico -, depois de o Iraque - país onde ocorreu o assassinato - ter aprovado no Parlamento a saída das tropas estrangeiras do seu território - os EUA têm ali mais de 5 mil militares -, o que pensam aqueles que negoceiam com petróleo e têm poder de influenciar os gráficos dos mercados?
A financeira Goldman Sachs, por exemplo, fez saber que não acredita que a ligação entre as tensões militares no Médio Oriente é agora menos importante que há alguns anos e lembra que, apesar do risco ser sério, ainda não foi retirado um único barril de circulação, sublinhando os seus analistas que, com o actual já de si elevado "prémio de risco", só uma verdadeira "disrupção no fornecimento" poderia fazer o valor do barril subir ainda mais.
A Goldman Sachs, em nota citada pelo site oilprice, admite que a situação é efectivamente tensa e que o risco de confronto existe, mas aponta que ele já está absorvido nos actuais preços e que se o actual status quo se mantiver, verificar-se-á um retrocesso nos preços do barril no Brent e mesmo no WTI de Nova Iorque, porque esta casa financeira entende que os actuais valores - em torno dos 69 USD - estão muito acima do valor real do barril, que é, segundo a correlação entre oferta e procura, por volta dos 63 UD.
O que é que, então, poderia alterar este cenário e fazer com que o barril suba para além da fasquia dos 70 USD? A Goldman Sachs entende que uma guerra causadora de ruptura significativa do fornecimento no crude do Médio Oriente, porque esta região é responsável por cerca de 40 por cento de todo o petróleo consumido no mundo e, por exemplo, no Estreito de Ormuz, controlado pelo Irão, passa mais de 20% deste, o que o seu intempestivo bloqueio teria forçosamente consequências volumosas.
Para já, existe ainda outra frente que pode gerar o envolvimento de força militar, porque o Irão já anunciou que vai retomar sem limites o seu programa nuclear, com a produção ilimitada de urânio enriquecido, o que, recorde-se, é uma das condições que Israel - o mais próximo aliado dos EUA na região - já apontou como suficiente para justificar ataques preventivos de modo a garantir que Teerão nunca venha a possuir uma arsenal atómico eficaz e funcional.
Funeral do "soldado herói" leva milhões às ruas de Bagdade e de Teerão
O funeral do general Soleimani, que decorreu em duas etapas, a primeira em Bagdade, a capital do Iraque, onde foi abatido na sexta-feira por mísseis disparados por drones norte-americanos, e depois em Teerão, a capital do Irão e seu pais natal, levou milhões de pessoas às ruas, com vídeos a mostrar multidões a encher avenidas têm sido divulgados nas redes sociais, com sonoros gritos de revolta e ameaças aos Estados Unidos.
Durante estas cerimónias, segundo as agências, pelo menos 35 pessoas morreram e cerca de 50 ficaram feridas, na maior parte asfixiadas e espezinhadas pela multidão.
As cerimónias fúnebres na capital iraniana foram lideradas pelo líder supremo do Irão, aiatola Ali Khamenei - o regime iraniano é bicéfalo, sendo liderado por um Presidente eleito em eleições por sufrágio universal, embora tenha apenas o poder de controlar o executivo, enquanto o Chefe de Estado é o aiatola, sendo, por isso, uma mistura de democracia moderna com uma teocracia islâmica - que voltou a demonstrar o grande afecto que tinha pelo general Qassem Soleimani.
Nestas cerimónias, em vídeos divulgados por canais internacionais, como a Al Jazeera, uma das filhas de Soleimani reafirmou a vontade generalizada de vingar a morte do pai, como, alias, a generalidade dos ouvidos nas muitas reportagens realizadas em Teerão na segunda-feira, o que retira espaço para um recuo na prossecução da tal "vingança severa" prometida por Khamenei.
Entretanto, num dos actos de maior significado no pós-assassinato de Qassem Soleimani, o Parlamento do Iraque votou na segunda-feira uma moção que obriga as forças militares estrangeiras presentes no país a abandonar o território, o que abrange cerca de 5 mil militares dos EUA e mais de 3 mil oriundos do Canadá, Reino Unido, França...
Face a esta exigência, numa situação caricata, o Pentagono, organismo que coordena as forças armadas dos EUA, divulgou uma carta onde diz que vai ser cumprida a exigência do Parlamento iraquiano, com a saída da tropa que compõe a coligação internacional que ali está no contexto de combate ao estado islâmico e arquitectada no seio da NATO.
Mas, já hoje, os jornais e sites online norte-americanos divulgaram uma outra realidade, com a Casa Branca a ordenar ao Pentagono para voltar com a palavra atrás e dizer, afinal, que não existem planos para deixar o Iraque, mesmo que os lideres das milícias locais já tenham dito que se os militares estrangeiros não deixarem o país, serão consideradas forças de ocupação e tratadas como tal.
Donald Trump disse mesmo que os EUA vão aplicar pesadas sanções ao Iraque se esta decisão de expulsar as tropas norte-americanas for mantida.