Para já, de acordo com uma mensagem publicada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "tudo está bem" e a análise às consequências destes ataques do Irão às instalações dos EUA no Iraque "está a ser conduzida" pelo Pentagono, voltando a avisar que os EUA "têm, de longe, o mais poderoso equipamento militar em todo o mundo", deixando no ar uma promessa de voltar a falar no assunto nas próximas horas, mas amortecendo, para já, a possibilidade de uma contra-resposta.
Mas há já uma vítima desta resposta do Irão ao assassinato na passada sexta-feira do general Soleimani, na capital iraquiana, através de mísseis lançados por drones quando este deixava o aeroporto de Bagdade numa caravana de automóveis na companhia de outros destacados lideres militares locais: o petróleo.
O barril de crude vendido em Londres, onde o Brent local determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, subiu mais de 1% na abertura de hoje, admitindo os analistas que se os EUA, tal como Trump garantiu nos últimos dias, contra-atacarem o Irão, tendo mesmo indicado que seriam atingidos 52 locais estratégicos naquele país, o preço da matéria-prima poderá disparar para valores recorde de vários anos.
Entretanto, nesta já esperada escalada das tensões no Médio Oriente, cuja importância estratégica é determinada essencialmente pelo volume de petróleo ali produzido e exportado para a economia mundial, mais de 40 por cento, o regime de Teerão, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, explicou que o Irão está a aplicar as medidas "proporcionais" em autodefesa, ao abrigo da Carta das Nações Unidas.
Zarif acrescentou, igualmente no Twitter, que é já claramente a rede social que serve de plataforma aos novos comunicados de guerra, que o Irão não procura uma escalada neste conflito, mas "seguramente" irá defender-se "contra todo o tipo de agressão".
E a ameaça especifica os locais onde as retaliações vão ocorrer se o Irão for bombardeado: Israel, Emirados Árabes Unidos e os próprios EUA.
Entretanto, o facto de os ataques desta madrugada às bases dos EUA no Iraque não terem, segundo fontes do Pentagono - o órgão de comando central das Forças Armadas dos EUA - citadas pelos media norte-americanos, feito vítimas, pode estar criado o cenário mínimo necessário para uma descida dos ânimos, visto que Teerão já terá pelo menos uma parte da sua vingança concretizada e os EUA não registaram vítimas avultadas nesse acto.
No entanto, outras possibilidades analisadas parecem menos encaminhadas para um regresso à paz na região, porque, depois de o Iraque, através do seu Parlamento, ter ordenado a saída do país de todas as forças militares estrangeiras, o Irão pode ter aqui uma abertura para apostar na escalada deste conflito através do envolvimento doutros países da região contra a presença norte-americana nesta estratégica geografia do mundo.
Face à possibilidade de esta ser uma acção - levada a cabo pela Guarda da Revolução, na qual Qassem Soleimani era o principal líder - forjada como desafio para Donald Trump, testando claramente a sua vontade de ir para uma guerra aberta com o Irão e, eventualmente, outros países na região, a declaração que residente dos EUA prometeu para hoje, terá, certamente, inserida a chave para descodificar o que Washington tem planeado e o que vai fazer.
O próprio aiatola Ali Khamenei disse, numa declaração ao país que decorreu nas últimas horas, transmitida em directo pela Al Jazeera, afirmou que a ideia mais sólida entre os decisores de topo no Irão é que os EUA não vão "nunca" deixar de ser os "maiores inimigos" de Teerão porque "essa é a sua natureza" e o seu comportamento "não depende de o Irão ter este ou aquele tipo de comportamento, mais ou menos conservador".
Isto, porque há quem defenda que o assassinato de Qassem Soleimani foi uma jogada de risco, mas de risco assumido, por parte da Administração Trump, num momento em que o Presidente enfrenta um processo melindroso de destituição - impeachment - e as eleições, nas quais pretende conseguir a reeleição, são já em Novembro, factos que, nos EUA, os Presidentes concorrentes a um segundo mandato têm usado amiúde para se livrarem, ou desviarem as atenções, de problemas complexos de política interna ou mesmo na justiça.
Entretanto, igualmente um dado importante para se perceber o ponto em que este jogo está, o Irão voltou em pleno ao seu programa nuclear, com Israel e os EUA a garantirem que Teerão nunca irá dispor de uma bomba atómica,
Para já, os movimentos das peças neste complexo e altamente volátil tabuleiro de xadrez do Médio Oriente estão nas mãos de Trump e do líder supremo do Irão, Ali Khamenei, os "mestres" com capacidade para ditar muito do que vai ser o mundo nos tempos mais próximos.