Donald Trump especificou mesmo que as forças dos EUA estacionadas no Médio Oriente, para onde acaba de enviar mais 3.500 militares, somando aos 15 mil que para ali foram desde Maio do ano passado, vão atacar 52 locais estratégicos do Irão caso os seus interesses na região sejam visados no contexto da vingança pela morte de Qassem Soleimani.
Estes 52 lugares, que Trump admite poderem incluir lugares sagrados do Islão e do xiismo, a maioria da população do país, representam simbolicamente os 52 norte-americanos feitos reféns em 1979, na sequência do assalto à embaixada em Teerão, num caso mundialmente conhecido que durou quase 450 dias para ser resolvido.
O líder supremo do Irão, Aiatola Ali Khamenei, logo que foi conhecido o assassinato do general Soleimani, através de um míssil lançado por um drone, na sexta-feira, na capital do Iraque, Bagdade, conjuntamente com mais um grupo de seis generais iraquianos, incluindo um importante líder de milícias locais apoiadas pelo Irão, jurou uma "vingança severa" contra os EUA, tendo reunido de imediato o conselho de segurança nacional iraniano para definir a estratégia a seguir.
Com esta declaração, e num contexto de grande tensão regional, com o perigo iminente de um conflito generalizado, onde Teerão já fez saber que algumas cidades israelitas podem ser alvejadas no âmbito da tal "vingança severa", o Governo iraniano acaba de anunciar que se retira do acordo nuclear de 2015, o que significa que vai voltar a enriquecer urânio de forma ilimitada para combustível de futuras armas nucleares.
Recorde-se que os EUA, por decisão de Donald Trump, deixaram unilateralmente esse mesmo acordo, assinado pelo ex-Presidente Barack Obama, deixando os restantes signatários - União Europeia, China e Rússia - em maus lençóis e num esforço continuado para manter o Irão a cumprir as suas disposições, que passavam por suspender o programa nuclear e o fim das sanções norte-americanas.
OS EUA não só saíram do acordo como retomaram em força as sanções económicas contra o Irão, que passam, sobretudo, pela proibição de exportar a sua enorme produção de petróleo, gerando uma severa crise económica no país, já de si empobrecido por décadas de sanções de Washington.
Uma das ideias reforçadas por vários comentadores iranianos ouvidos por televisões como a Al Jazeera ou a BBC é que a lição perversa que os EUA acabam de dar ao Irão é a de que vale a pena prosseguir com o programa nuclear porque, como se viu com a Coreia do Norte, só com a posse desta arma se ganha o respeito da comunidade internacional e dos EUA em particular.
Neste momento, face a estes desenvolvimentos, o mundo está suspenso do que se vai seguir, porque, depois de o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, er jurado vingança, essa vai seguramente suceder, só não se sabendo que dimensão vai ter.
E, ainda mais importante, que resposta vai ser dada pelos EUA e pelos seus aliados regionais, desde logo Israel e a Arábia Saudita, com os primeiros a garantir que jamais vão permitir a Teerão alcançar a arma nuclear.
Numa mensagem publicadas nas redes sociais, Trump lembrou que a morte de Qassem Soleimani não visou o início de uma guerra mas sim acabar com a possibilidade de surgir um conflito de grandes proporções porque este general estaria, diz o Presidente dos EUA, estava a planear um grande ataque contra os norte-americanos.
"Que isto sirva de aviso. Que o Irão Perceba que se atacar norte-americanos ou bens dos EUA, nos atacaremos com força de volta em 52 locais importantes no país, incluindo sítios de relevo para a sua cultura, de forma dura e muito rápida", diz Trump no Twitter, numa toada de calara agressividade que contrasta com o que dissera antes e que ia no sentido de garantir que não desejava uma guerra aberta com o Irão.
Mas essa garantia de que não deseja uma guerra com o Irão, agora que está a ser alvo de um grave processo de destituição no Congresso, cujo processo está a avançar para uma fase de grande melindre, e quando este visa uma reeleição nas eleições de Novembro próximo, começa a ser questionada.
Isto, porque o The New York Times noticiou que o próprio Pentagono, a estrutura administrativa que gere toda a Defesa norte-americana, ficou chocado com a ordem directa de Trump para assassinar o general Qassem Soleimani, visto que se tratava de uma das mais proeminentes figuras da hierarquia iraniana. (Ver aqui quem foi este homem).
Isto, porque, não só seria difícil evitar uma guerra com o Irão matando esta figura da nomenclatura iraniana, como existiriam dúvidas sobre a sua intenção de planear ataques aos EUA e ainda porque Soleimani tinha colaborado com os Estados Unidos no combate ao estado islâmico no Iraque e na Síria, sendo considerado um dos principais responsáveis pela irradicação deste grupo terrorista.
Entretanto, o Iraque, país onde ocorreu o assassinato de Soleimani, acaba de votar, no Parlamento, o fim da parceria militar com os EUA e ordenou a expulsão de todos os militares que Washington mantém no país.
Este é um dos desenvolvimentos mais inesperados deste caso, porque põe fim a uma presença alargada de tropas norte-americanas no país desde 2003, aquando da invasão que levou ao fim do regime de Sadam Hussein.