Tanto um eventual ataque dos EUA ao Irão, que o Presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a admitir que pode acontecer em breve mas que será uma espécie de guerra relâmpago "sem tropas no terreno", como o conflito comercial que opõe Washington e Pequim, têm potencial suficiente para levar, como cada vez mais analistas defendem, o petróleo a fortes oscilações, mas é a questão explosiva das sanções da Casa Branca à economia do gigante asiático que mais preocupa neste momento o planeta económico e financeiro.
Recorde-se que Trump, desde que entrou na Casa Branca, não tem parado de acusar a China de estar a roubar anualmente os EUA em 500 mil milhões de dólares devido às facilidades que os seus antecessores, especialmente Barack Obama, concederam a Pequim, permitindo a entrada de produtos Made in China quase sem taxas enquanto Pequim dificulta o acesso de bens Made in USA na economia chinesa, através de tarifas abusivas e avultados apoios estatais às empresas privadas chinesas, proporcionando mais valias competitivas que distorcem os mercados e a verdade económica.
Foi por isso que Donald Trump, através dos seus famosos decretos executivos, aplicou tarifas aos bens oriundos da China que já ultrapassam os 250 mil milhões de USD, ao que correspondeu um contra-ataque de Pequim que já deixou para trás a barreira dos 50 mil milhões de dólares.
Esta troca de "mimos" entre as duas maiores economias planetárias tem vindo a gerar também um impacto negativo nas restantes economias, e, consequentemente, uma baixa na procura de petróleo.
Realidade que tem mantido o preço do barril sob forte pressão, tendo este, recorde-se, sofrido fortes oscilações nos últimos dois meses, com, por exemplo, uma queda dos 59,14 USD a 28 de Maio para os 51,14 a 12 de Junho - que já vinha de uma queda de 10 USD em 10 dias, de 85 para 75 (+ ou -), a maior desde 2014 em tão curto período -, embora tenha recuperado entretanto, cotando hoje a 65,33 USD por barril, cerca das 09:00, em Londres, onde o Brent local serve de referência para o preço médio das ramas exportadas por Angola, Cabinda (66,04 USD/barril, Nemba 64,09 e Dália, a mais valiosa e que estava hoje a valer 66,84 USD por barril.
G20, o momento-chave
As reuniões periódicas do G20, grupo que agrega as 20 maiores economias mundiais, que tem a próxima já a arrancar amanhã, em Osaka, no Japão, e que termina no Sábado, 29, são sempre momentos importantes para se perceber a evolução das maiores economias e que interesses estão em cima da mesa, nem que seja porque tão elitista encontro junta 80 por cento da economia planetária.
E este não foge à regra, por uma razão essencial: o mundo aguarda ansiosamente o resultado do encontro que está marcado para Sábado, na agenda paralela, entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping, com a questão da guerra comercial entre os dois gigantes mundiais como ponto único, embora seja notório um tom de optimismo quando ao resultado desse decisivo encontro, pelo menos é isso que as bolas mundiais pressentem e estão hoje, por isso, em alta.
Para já, embora os encontros entre Trump e Xi sejam sempre repletos de sorrisos e elogios do americano ao chinês, a verdade é que impasse tem sido a marca d"água dos seus apertos de mão, com uma diferença desta feita, especialmente depois de o inquilino da Casa Branca ter apontada as "armas" à Huawei, o gigante das telecomunicações chinês.
Ambos já perceberam que só têm a perder com este estado de coisas, Jinping com a China a apresentar dados económicos que mostram uma economia a abrandar foremente e Trump com a pressão acrescida de o seu núcleo duro de apoiantes-eleitores estarem nos estados com vocação agrícola onde o impacto desta guerra EUA-China tem sido devastador. E em 2020 há eleições presidenciais nos Estados Unidos.
É por isso que alguns analistas admitem existir dados que permitem adivinhar progressos importantes nesta fase das negociações, embora um hipotético falhanço seja, sem sombra de dúvida, uma machadada violenta no sector petrolífero e, para países mais dele dependentes como Angola, os resultados tendem a ser ainda mais agravados.
Por exemplo, o Bank of America Merrill Lynch, uma das casas financeiras mais importantes do mundo, citado pela Bloomberg, admite que se os dois países não chegam a um acordo sólido e a guerra ganha intensidade, como será inevitável sem um acordo, o barril de petróleo observará uma queda dramática para os 35 dólares no Brent de Londres e os 30 no WTI de Nova Iorque.
A explicação por detrás deste tremendo prognóstico é que Donald Trump tem em cima da mesa uma ameaça de aumentar em 300 mil milhões USD o valor das tarifas extra sobre as importações da China, o que resultará num cenário em que tudo o que a China exporta para os EUA, actualmente a rondar os 500 mil milhões USD - nem um parafuso fabricado na China entrará na economia norte-americana sem uma brutal taxa extra em cima - será poupado a este castigo.
Ora, face a este cenário, a resposta chinesa será igualmente brutal, e, como se trata das duas maiores economias mundiais, as que mais importam matérias-primas, incluindo petróleo, e que, com a sua pujança, influenciam tudo o resto, incluindo os mercados petrolíferos, naturalmente o impacto no preço do barril será sempre muito elevado, mesmo que os 30 USD por barril admitidos pelo Bank of America possam ser ligeiramente exagerados.
Por exemplo, uma das medidas imediatas da China, no caso de descarrilamento das negociações em Osaka, entre Trump e Jinping, poderá ser deixar o yuan desvalorizar para defender as exportações - uma contramedida para minimizar o aumento de tarifas nos EUA - no que resultará que o petróleo, que é vendido em dólares - mesmo que em alguns casos a compra esteja a ser, de facto, em moeda chinesa, como é o caso do crude importado de Angola - se revele demasiado custoso a partir desse momento.
E com a China a importar menos petróleo, a comprar menos um pouco de tudo o resto, com a economia global a deprimir, com a Índia e a Europa a serem directamente afectadas, o petróleo actualmente disponível será substancialmente excessivo, com a evidente e inevitável queda no seu valor nos mercados internacionais, o que se revelaria trágico para as contas angolanas, o que, alias, é um dos alertas de perigo incluídos no último relatório de análise do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao programa de assistência técnica e financeira que mantém com Angola.
Sendo que este cenário é o pessimista, o mais pessimista, alias, o mais optimista passa por um acordo que permita a Washington e Pequim fazer os "canhões" regressar e estabelecer a partir dai um mapa com as coordenadas para uma retirada paulatina mas sólida das tarifas que um e outro lado impuseram.
Com esse desfecho positivo, o petróleo tende a reagir com uma imediata alta que, com o tempo poderá, segundo os analistas, sofrer ligeiras oscilações, mas numa contínua ascensão devido aos outros problemas, como a questão do latente conflito Irão-EUA, por causa do acordo nuclear do qual Trump saiu unilateralmente o ano passado, embora tenha sido uma das grandes conquistas dos EUA no consulado do seu antecessor Barack Obama.