E os Estados Unidos, que, apesar de serem o maior produtor da actualidade, é igualmente o maior consumidor, estão a encharcar os mercados com os seus excedentes, que não são poucos, apesar de o consumo interno estar igualmente em níveis volumosos.

Alias, termina esta sexta-feira, 14, uma das melhores semanas de 2024 para o negócio do petróleo, embora não sendo, nem de perto nem de longe, aquela em que o barril atingiu os valores mais altos do ano, com subidas substantivas em todos os seus cinco dias.

E por detrás desta "boda", que tão bem calha nas contas angolanas, está uma crescente, sólida e optimista procura global por energias fósseis, destacando-se destas os derivados do petróleo. Como o atestam os números das exportações de gasolina e gasóleo russos.

No entanto, estas novidades no sector exportador russo estão assentes no final da proibição interna de exportar esses derivados depois de há cerca de dois meses várias das suas refinarias terem sido atacadas e danificadas por drones ucranianos no contexto da sua guerra com Moscovo.

Só esta semana, terminando o Brent acima dos 83 USD por barril, se não ocorrer uma situação inesperada no final do dia, antes do fecho da sessão, tanto o Brent como o norte-americano WTI subiram mais de 4%, uma subida que só foi igualada no início de Abril.

E a OPEP e a Goldman Sachs estão a coincidir, nas suas mais recentes análises, na ideia de que 2024 vai assistir a uma crescente demanda por energia, com especial ênfase nos Estados Unidos, como reforça aquela casa financeira.

Alias, como nota a Reuters, a AIE atira agora o seu Outlook para 2029 nos 106 milhões de barris por dia (mbpd), mais de 3 mbpd acima do consumo registado no mundo por esta altura.

E é assim que, perto das 14:30 desta sexta-feira, 14, hora de Luanda, o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava a valer 83,25 USD, mais 0,59% que no fecho da anterior sessão.

O que é uma boa notícia para as contas angolanas

... apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 83 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.