O "cartel", que agrega os 13 Países Exportadores (OPEP) e os 10 não-alinhados circunstancialmente associados e encabeçados pela Rússia, não vai aumentar a produção além do programado, voltando a deixar os nervos dos Estados Unidos, e das outras grandes economias ocidentais, à flor da pele, porque acusam a Arábia Saudita e a Rússia de estarem estrategicamente unidos de forma a manterem, artificialmente, a produção aquém das necessidades.

Mas essa não tem sido a explicação dos membros da OPEP+, criada em 2017 para impedir flutuações incontroladas do valor do barril nos mercados e melhor enfrentar as sucessivas crises, optando por afirmar que não vão além destes valores no aumento da produção porque é a melhor forma de manter os mercados equilibrados.

Mas há outras razões, menos claras, que é a incapacidade dos países exportadores aliados na OPEP+ de elevarem as respectivas produções devido à deterioração das suas infra-estruturas produtivas, desgastadas por longos anos de desinvestimento, como é disso exemplo Angola, cuja produção tem vindo a cair há mais de uma década, mas com especial vigor desde 2014, quando o barril caiu abruptamente da fasquia dos 100 USD para menos de 30 dois anos depois, no início de 2016.

Apesar de ter vindo a recuperar ligeiramente, depois de outro tombo no início de 2020, com o advento da pandemia do Sars CoV-2, só com a ameaça e depois a concretização da invasão russa da Ucrânia, a 24 de Fevereiro deste anos, é que o barril voltou a passar os 100 USD, tendo mesmo, a 09 de Março, ficado a escassos 7 dólares dos máximos de sempre, em Julho de 2008, quando chegou aos 147 USD por barril.

O barril de Brent, que serve de referência para as ramas exportadas por Angola, estava a valer 112,3 USD, perto das 09:30 de hoje, hora de Luanda, com poucas oscilações nas duas últimas semanas, voltando a estar sujeito às pressões "normais" para o sobe e desce diário, agora que a Rússia e a Ucrânia, aparentemente, encontraram, na Turquia, sob os auspícios do Presidente Recep Erdogan, os trilhos da paz.

Nas últimas 48 horas, por exemplo, o barril perdeu dois dólares com o anúncio de um quase cessar-fogo russo-ucraniano mas ganhou outros tantos com os dados divulgados pelo Instituo Americano do Petróleo (API, sigla em inglês), que apontam para uma queda substancial, mais de 3 milhões de barris, numa semana, nas reservas dos EUA, acrescentando que em 2021 os stocks se esvaíram em 80 milhões de barris desde o início de 2021.

Porém, o sinal mais forte para sustentar em alta o valor da matéria-prima veio do ministro saudita da Energia, Abdulaziz bin Salman, que avisou as economias ocidentais que a OPEP+ não se deixa influenciar por questões políticas e esse elemento fica sempre à porta das reuniões do "cartel" que visa, disse, o "bem comum que passa por manter os preços estabilizados" e a organização protegida de pressões externas.

Mas, como pano de fundo para estes conturbados momentos, estão ainda as fortes sanções aplicadas pelos países ocidentais à Rússia, o maior pacote de sanções alguma vez importo a um só país, devido à invasão da Ucrânia, o que está a perturbar fortemente os mercados e a economia planetária considerando que a Rússia, além de ser a 11ª economia mundial, é um dos três maiores produtores/exportadores de crude e de gás natural, além de, com a vizinha Ucrânia, estar entre os maiores produtores de cereais, o que está a gerar acrescidos riscos de insegurança alimentar por todo o mundo mas com especial incidência em África, Médio Oriente e na Ásia menos economicamente robusta.

Embora a Arábia Saudita tenha estado contra a Rússia na ONU, aprovando as resoluções condenatórias de Moscovo devido ao conflito com a Ucrânia, Abdulaziz bin Salman apressou-se, agora, a vir a público, em entrevista à NBC, explicar que as questões da geopolítica não entram na OPEP+, o que aproxima claramente Riade a Moscovo e lança um sério aviso aos mercados e às economias europeias e norte-americana de que os tempos difíceis estão para durar e que existe um interesse geral em acabar com o conflito no leste europeu.

Os sauditas parecem igualmente estar decididos em esvaziar a sua participação na guerra do Iémen, anunciando nas últimas horas uma saída gradual das operações naquele país da Península Arábica, depois dos rebeldes Houthis, terem quase inviabilizado o Grande Prémio de Fórmula 1 na passada semana com mais um ataque por míssil e drones a grandes depósitos de crude na região de Jeddah.

Enquanto membro da OPEP e da OPEP+, Angola, através do Ministério dos Petróleos, raramente anuncia a sua posição nestas reuniões e quando o faz é para os media estatais de forma a manter a informação controlada, mas o País tem todo o interesse em que a organização consolide esta política de manutenção do programa de aumento gradual da produção por duas razões.

Primeiro, porque Angola perdeu uma grande parte da sua capacidade produtiva devido aos desinvestimentos das majors a operar no País, especialmente desde 2014, o que levou a uma perda substantiva da produção, que está hoje abaixo de 1,1 milhões de barris por dia, não conseguindo sequer cumprir com as quotas estabelecidas inter pares, e em segundo, porque é um dos países que mais dependem das exportações de crude, que são ainda 95% do total das exportações nacionais, mais de 35% do PIB e cerca de 60% das despesas de funcionamento do Estado.

O petróleo é ainda a fonte, quase única, das verbas essenciais para que o País ultrapasse a actual crise económica, invista na diversificação da sua economia, e mantenha equilibrada a sua balança de pagamentos, assim como cumprir com os compromissos da dívida, ao mesmo tempo que cria almofadas sociais, como é disso exemplo a dispendiosa manutenção da subsidiação dos combustíveis, e o esforço de controlo dos preços dos bens essenciais.