Em cima da mesa, para os países exportadores agregados na OPEP+, estava a decisão de aumentar ou não 500 mil barris por dia a 01 de Fevereiro como estava previsto, ou, como foi sendo noticiado, manter a produção intocada para lidar com a resiliência da crise gerada pela pandemia da Covid-19 e com a forte pressão desta crise sobre o valor da matéria-prima da qual ainda muitos dos membros co "cartel", como Angola, dependem fortemente.

Em Dezembro, é importante lembrar, o "cartel" tinha decidido que a 01 de Janeiro, em vez de um aumento de uma só vez, como era o plano inicialmente desenhado, no início de 2020, de 2 milhões de barris por dia (mbpd), aumentaria a produção em 500 mil bpd e assim sucessivamente até chegar a 7,2 mbpd.

Mas na terça-feira, depois de praticamente dois dias de discussão, com Angola na condição de presidente rotativo da OPEP, os membros da OPEP+, que inclui Rússia e, entre outros, o Cazaquistão e o México, optaram por não agregar os esperados 500 mil barris/dia mas sim apenas 75 mil bpd, o que seria melhor que o definido em Dezembro, mas um golpe nas expectativas dos mercados, que ansiavam por algo mais influenciador para a valorização da matéria-prima.

Sauditas salvam o dia

E isso veio a suceder porque a Arábia Saudita, que é, de longe o maior exportador do mundo e, potencialmente, o maior produtor, decidiu, de forma unilateral, salvar o dia e retirar 1 mbpd à sua produção própria em Fevereiro e Março, o que, em síntese, conduz a um ganho de impulso no valor do barril significativo ao mesmo tempo que os associados mais carentes de produzir, apertados que estão nas suas contas públicas, como é o caso de Angola, da Nigéria, entre outros, conseguiram manter os mínimos exigíveis.

Ou seja, com este acordo, em Março, se não forem introduzidas quaisquer alterações - recorde-se que a OPEP+ tem acordado reunir todos os meses, nos primeiros dias -, em vez de a OPEP+ estar a enxugar a produção em 5,7 mbpd, como se pensava ir ser há uns meses, estará a retirar 7,05 mbpd, enquanto em Fevereiro se fixará nos 7,125 mbpd e este mês de Janeiro, não irá além dos 7,2 mbpd.

A primeira grande batalha no seio do cartel foi estancar a torneira que o acordo prévio, logo no arranque da crise pandémica, previa subir a produção de menos 7,7 mbpd para menos 5,7 mbpd no primeiro dia de 2021, estado agora a ir ainda mais longe, o que é música para os ouvidos dos mercados, havidos de boas notícias que permitam impulsionar os preços do barril, que esteve sob uma pressão histórica ao longo de quase todo o ano de 2020, soterrado pela crise da Covid-19.

Perante este cenário em constante mutação, como é próprio dos mercados petrolíferos, embora agora com mais solidez garantida, pelo menos até Março, o barril de Brent, vendido em Londres, que serve de referência para as exportações angolanas, estava hoje a valer, perto das 10:30 de Luanda, 53,85 USD, um valor que não se via nos gráficos desta referência desde 24 de Fevereiro de 2020.

O mesmo sucede no WTI de Nova Iorque, onde o barril chegou aos 50,10 USD, batendo igualmente um recorde de quase 11 meses.

Entretanto, segundo uma nota da Goldman Sachs, citada pela Reuters, sublinha que nem tudo são rosas, porque esta decisão da Arábia Saudita reflecte um receio fundado de que a procura está a cair devido ao aumento dos confinamentos pandémicos nas grandes economias globais, embora esta casa financeira mantenha a sua previsão para um valor médio do barril em 2021 para os 65 USD.

Angola a saborear o momento, mas pouco...

Este cenário de robusto crescimento do valor do crude, a manter-se, como tudo aponta que venha a suceder, é um momento extraordinário para Angola, apesar de os valores em questão não se compararem com aqueles que, no passado, a partir de 2008, levou o País a ser o maior produtor africano durante largos meses, com cerca de 1,8 mbpd, e a viver uma bonança difícil de repetir, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano.

A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.

Para já, com o barril da matéria-prima nos 53 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de 20 USD em cima dos 33 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.