O crude começou, ainda em Dezembro, uma escalada que permitiu, semanalmente, bater recordes sucessivos de múltiplos meses, apenas porque existiam promessas de aprovação, pelos reguladores europeu e norte-americano do medicamento, de um conjunto de vacinas para combater o Sars CoV-2, gerando um optimismo que não se via desde finais de 2019.

Esse optimismo foi ainda reforçado, substancialmente reforçado, já no início de Janeiro, com a decisão da OPEP+, organização que agrega o "cartel" dos Exportadores de Petróleo (OPEP) e sete - no início eram 10 - não alinhados liderados pela Rússia, no sentido de manter os cortes, invertendo o que estava decido até aí, ao mesmo tempo que a Arábia Saudita anunciava que iria acrescentar um milhão de barris por dia (mbpd) a esses cortes por sua livre iniciativa.

Mas, quando já nada fazia pensar que o cenário iria sofrer uma nova reviravolta, eis que se começa a perceber que as campanhas de vacinação estão a decorrer mas mais lentamente do que o esperado. E para agravar ainda mais o contexto, a China, a segunda maior economia do mundo e o maior importador planetário da matéria-prima, acaba de bater um recorde de Julho em número de novos casos da Covid-19, quando o país estava praticamente limpo do novo coronavírus.

Só nas últimas 24 horas foram detectados 103 novos casos na China, sendo que, destes, 85 são de contágio local, num crescendo sólido nos últimos dias, sendo que, por exemplo, na província de Hebei, em torno de Pequim, está a decorrer um novo surto que já levou a que a capital, Shijiazhuang, com 11 milhões de habitantes, está sob confinamento e os seus 11 milhões de habitantes vão ser todos testados.

O cenário na China vem acompanhando, de resto, o que se passa no resto do mundo, onde, por exemplo, na Europa estão de volta os confinamentos mais severos, ou nos EUA, que não está a conseguir estancar a tragédia traduzida por cada vez mais mortos e casos...

E é este o pano de fundo para que o barril de Brent estivesse hoje a perder 0,95%, perto das 10:00 de Luanda, para os 55,43 USD.

A atenuar estas perdas está apenas a perspectiva de que o Joe Biden, quando a 20 deste mês assumir o poder nos EUA, vai avançar de imediato com um novo programa de estímulo à economia de milhares de milhões de dólares.

Para Angola nem tudo é mau, mas podia ser melhor...

Este cenário de robusto crescimento do valor do crude, apesar de menos expressivo hoje, a manter-se, como tudo aponta que venha a suceder com o avanço e a consolidação das campanhas de vacinação, é um momento extraordinário para Angola, apesar de os valores em questão não se compararem com aqueles que, no passado, a partir de 2008, levou o País a ser o maior produtor africano durante largos meses, com cerca de 1,8 mbpd, e a viver uma bonança difícil de repetir, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano.

A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.

Para já, com o barril da matéria-prima nos 53 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de 20 USD em cima dos 33 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.