Esta valorização da matéria-prima é um balão de oxigénio importante para as contas do Estado angolano porque ainda é responsável por mais de 94% das exportações nacionais, por mais de 50% do PIB e por mais de 60% do financiamento das despesas do Executivo de João Lourenço.
Por detrás destas valorização, que se soma a pelo menos um mês de subidas quase constantes, está um aumento significativo da procura no continente asiático, com a China a puxar a locomotiva da economia continental, e ainda devido a uma diminuição importante nos stocks norte-americanos, o que denota igualmente um maior consumo na maior economia mundial.
Como a Reuters nota, esta subida tem ainda razão de ser na desvalorização do dólar norte-americano face ás outras moedas com peso internacional, como o Euro europeu ou o iene japonês, porque, comummente, sempre que esta oscilação ocorre, decorre um correspondente ganho no preço do crude que é maioritariamente negociado em dólares.
OPEP+ volta a sentar experts à mesa
Um sinal muito importante sobre o que serão os próximos dias nos mercados petrolíferos deverá sair da reunião virtual de quarta-feira do Comité Ministerial Conjunto de Monitorização (JMMC) da OPEP+, a organização que junta os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de não-alinhados liderados pela Rússia, enquanto os ministros dos 23 países vão estar, igualmente por videoconferência, reunidos a 04 de Janeiro.
O objectivo destes encontros é estudar os mercados e a forma como as últimas decisões foram absorvidas por estes, nomeadamente a questão da injecção de mais 500 mil barris por dia a partir de 01 de Janeiro, depois de ter sido alterado o calendário normal que seria aumentar a produção em 2 milhões de barris por dia (mbpd) logo no arranque de 2021.
O programa de cortes para equilibrar os mercados fortemente fustigados pela pandemia, em vigor desde o início deste ano, com menos 7,7 mbpd a entrar nos mercados, previa que a 01 de Janeiro, estes diminuíssem para 5,7 mbpd, mas, devido ao prolongar dos efeitos nefastos da Covid-19, os membros da OPEP+, por proposta do JMMC, aceitaram que seja apenas aumentada a produção em 500 mbp até final de Março.
Apesar de esta medida não ter reunido consenso total, os membros da OPEP+ aceitaram segui-la mas com a condição de análises pontuais de forma a constatar se a medida pode ser retirada face ao esperado declínio da pandemia e o consequente retomar da normalidade nas grandes economias consumidoras de petróleo.
Angola na encruzilhada dos mercados
Estas movimentações da OPEP+ têm um efeito directo na produção nacional apesar de Angola estar numa encruzilhada histórica na sua indústria petrolífera, com acentuadas quedas anuais, muito porque as multinacionais têm estado a suspender os investimentos, desde 2014 mas com maior ênfase desde a explosão da pandemia da Covid-19, não só diminuindo a produção como efeito directo, mas, ainda mais importante, com estes efeitos a projectarem-se para o futuro devido à diminuição da pesquisa e dos efeitos substanciais na infra-estrutura produtiva por menor empenho na manutenção dos equipamentos.
Com a produção limitada a menos de 1,3 mbpd, devido ao impacto do desinvestimento, a pandemia, segundo alguns analistas pode mesmo estar a camuflar os problemas estruturais da indústria petrolífera nacional, porque, como avançava em Março de 2019 a Agência Internacional de Energia, Angola deveria estar a produzir em 2023 apenas 1,29 mbpd devido ao desinvestimento estrutural das "majors", mas com o surgimento da pandemia, esse impacto foi, forçosamente, antecipado.
Com o OGE 2021 elaborado com um preço de referência para o barril nos 39 USD, os actuais quase 51 representam um volumoso superavit que permite ao Executivo gerir com maior folga os seus compromissos fundamentais, desde logo os internacionais relacionados com os compromissos da dívida.
O crude é ainda responsável por mais de 50% do PIB nacional, cerca de 94% das exportações e mais de 60 por cento das receitas do Executivo, o que não deixa margem para dúvidas sobre a dependência que Angola mantém, há décadas, da matéria-prima e do sofrimento gerado a cada oscilação negativa nos mercados internacionais, como foi o melhor exemplo a crise pandémica que estalou no início de 2020.
Um dos sinais mais importantes notados pelos analistas dos mercados nestes últimos dias foi a opção de compra de futuros pelos gestores dos hedge fund norte-americanos, o que já sucede há cerca de quatro semanas consecutivas, cujos oráculos raramente falham nas previsões de fazem no médio e longo prazo, desde que não sejam surpreendidos por um "cisne negro" como foi o caso da pandemia da Covid-19.
A ajudar a esta festa estão ainda os mais recentes dados lançados pela Agência Internacional de Energia que estima que a produção nos EUA vá declinar em mais de 240 mil barris por dia em 2021.