John Nkengasong, em conferência de imprensa por videoconferência, desde a sede deste organismo pan-africano em Adis Abeba, Etiópia, sublinhou que o continente africano, como as coisas estão hoje, poderá permanecer ate ao segundo trimestre de 2021 sem as desejadas campanhas de vacinação que já foram iniciadas este mês em países como o Reino Unido, com a vacina da Pfizer/BioNTech, ou a Rússia, com a sua Sputnik V.
Se isso suceder, será, apontou, uma tremenda injustiça para as mais de 1,2 mil milhões de pessoas que habitam o continente, ainda por cima quando se assiste ao surgimento de uma segunda vaga de contaminações em África.
Angola, recorde-se, segundo o Ministério da Saúde, estima que a vacina comece a ser administrada ainda no primeiro trimestre de 2021, embora os preparativos para o efeito ainda estejam a ser delineados.
Segundo o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda, citado pela Lusa, o País está a criar condições para ter as primeiras vacinas ainda dentro do primeiro trimestre, até Março, estando em curso a preparação para criar a necessária cadeia de frio.
Ainda nas mesmas declarações, Mufinda adiantou que, depois de recebidas as primeiras doses, sem explicar de que vacina, a prioridade definida pelo ministério, será para os grupos de risco, dos profissionais de saúde aos hipertensos, obesos, diabéticos, e, entre outros, doentes oncológicos e renais, seropositivos e idosos.
Estes dados contrastam com as expectativas do o director do CDC África, que disse hoje estar convencido que as primeiras vacinas a chegar ao continente africano têm como perspectiva o segundo trimestre de 2021, de Março a Junho.
Face a este calendário injusto, John Nkengasong alertou as Nações Unidas para a urgência de agendar uma cimeira especial para discutir a questão da distribuição global das vacinas co ponto de vista ético e justo de forma a evitar confrontar o mundo com uma evidência que todos pretendem refutar sobre as injustiças existentes entre ricos e pobres, entre Norte e Sul, perante algo de deveria ser um "bem comum da humanidade", toda ela confrontada com o mesmo problema e urgência em resolvê-lo.
Até porque, como o Novo Jornal tem noticiado, aqui, ou aqui, por exemplo, a derrota da COvid-19, acrescentou John Nkengasong, não poderá nunca ser conseguida pelo "Ocidente" sozinho, mesmo que os países ricos estejam a armazenar antecipadamente mais vacinas do que aquelas de que precisam para as suas populações enquanto os mais pobres não têm aceso a elas.
"Enquanto os mais ricos estão a comprar mais vacinas do que aquelas que precisam, em África continuamos a lutar" para conseguir garantir as desejadas vacinas via a facilidade COVAX, uma iniciativa global, que envolve diversos organismos e fundações que tem como objectivo garantir vacinas para todos, prioritariamente para os mais desfavorecidos.
Ao que é possível antecipar por este responsável, África está longe de ter conseguido garantir vacinas suficientes para inocular 60 da sua população, considerado o número mínimo para obter a imunidade de grupo.
"Existe mesmo o risco de a Covod-19 se transformar numa doença endémica em África se não se tiver cuidado", avisou.