A poucos dias do derradeiro debate entre Biden e Donald Trump, marcado para a próxima quinta-feira, o ainda Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) foi ao Nevado para visitar uma igreja onde deixou mais uma das suas frases sem conteúdo, apenas criadas para projectar uma ideia simples e, por vezes, eficaz, entre os seus apoiantes menos exigentes: "Adoro estar em igrejas!".
Uma boa parte da campanha de Trump tem sido assente em ironia fácil sobre Joe Biden, seja pela sua avançada idade, apesar de ter apenas mais três anos que ele, 77 e 74, chamando-lhe "dorminhoco" ou "preguiçoso", bem como à sua família, à qual chama de "grupo criminoso" porque, alegadamente, segundo uma notícia do New York Post, terá sido encontrado material comprometedor num computador antigo do seu filho, Hunter Biden, devido a negócios menos claros com alguns países, incluindo a Ucrânia.
Mas esta história do Post nova-iorquino está por provar ser verídica e, inclusive, o Facebook e o Twitter decidiram restringir as partilhas de conteúdos com ela relacionados por causa das dúvidas existentes sobre a lisura de processos, não só obter os dados em questão, como igualmente a solidez da informação veiculada com o claro propósito de prejudicar o candidato democrata, a ponto de os apoiantes de Trump não se cansarem de gritar nos seus comícios "Prendam-nos, prendam-nos!!, referindo-se à família Biden.
Apesar destes ataques de fraca tessitura, Joe Biden parece não estar a perder vigor na sua campanha e as sondagens, agora, quando faltam 15 dias para a ida às urnas, a 03 de Novembro, continuam a coloca-lo folgadamente à frente, sendo que a última destas dá 54% de intenções de voto no democrata e 43% no Trump republicano.
"Ainda nada está ganho!", não se cansa Biden e a sua "entourage" de dizer aos apoiantes democratas com o objectivo de evitar a desmobilização devido à substancial vantagem mostrada pelas sondagens.
Isto, porque o complexo sistema eleitoral norte-americano permite, em circunstâncias não tão raras quano isso, eleger o candidato com menos votos, como já sucedeu algumas vezes, a última das quais há quatro anos, quando Hillary Clinton teve mais 3 milhões de votos que Trump mas este ganhou devido aos chamados grandes eleitores (colégio eleitoral), situação que resulta dos super-eleitores de alguns estados mais relevantes.
Isso mesmo deixou claro num documento revelado pelos media e escrito por Jen O"Malley Dillon , a directora de campanha de Biden, dirigido aos apoiantes democratas, ao afirmar que "Trump ainda pode ganhar porque as indicações que existem é que a decisão será produzida voto a voto", especialmente nos estados decisivos, ou "swing states".
O que quer dizer, como a própria Jen Dillon explicou, tudo se vai resumir aos resultados conseguidos nos denominados estados vacilantes, que tendem a não ser "contas seguras" para qualquer dos candidatos, que de eleição para eleição vão mudando em função do desempenho dos candidatos e das suas propostas.
"Nos estados-chave onde esta eleição vai ser decidida, a verdade é que Biden e Trump estão ombro a ombro", alertou a directora de campanha de Biden, referindo-se, entre outros, ao Ohio, Florida, Wisconsin, Pensilvânia, Carolina do Norte ou Michigan, onde, apesar de tudo, Biden leva vantagem, nalguns deles, folgada mesmo, como o Wisconsin e a Pensilvânia.
E é em alguns destes estados-chave que Donald Trump tem investido uma boa parte do seu esforço de campanha, tendo, nos últimos dois dias, estado no Wisconsin e no Michigan,
Um dos sinais considerados preponderantes no alinhamento dos dados que permitem aos analistas antecipar cenários nos EUA é a recolha de fundos que uma e outra campanha conseguem e nesse particular, os milhões não faltam nem num nem no outro lado da barricada, com os republicanos a conseguirem quase 250 milhões em Setembro, mostrando que pode conseguir ultrapassar nestes derradeiros dias os democratas que, apesar de tudo, seguem à frente neste capitulo, com 383 milhões em Setembro.
O debate, é o debate, estúpido!
Apesar da forma aguerrida com que Trump tem feito a sua campanha nos últimos dias, depois de deixar o hospital, onde esteve devido à Covid-19, apostando em enfatizar a sua postura firme com a China, país que diz estar a apoiar Biden, de dizer que Biden seria um Presidente "fraco", mostrando alguns efeitos dos esteróides que integraram o seu tratamento, afirmando a sua vontade de "beijar a multidão", apesar de não ter sequer mostrado um teste negativo a provar a sua cura da infecção... provavelmente, o mais importante está para vir.
O debate de quinta-feira, o último da campanha, depois de um dos três que estavam previstos ter sido anulado devido à infecção do Presidente, que insiste em minimizar os efeitos e consequências da pandemia, bem como do uso da máscara, pode muito bem ser o momento decisivo. Para ambos.
No primeiro debate, Trump ganhou as atenções mas perdeu eleitores ao apostar num permanente gozo com Biden, sublinhando a sua idade avançada, mais 3 anos que ele mesmo, com 74, que é um "dorminhoco", "preguiçoso", o "pior candidato democrata de sempre", acusação que não teve efeito porque fez ricochete na frase de Biden, que o tinha catalogado como "o pior Presidente de sempre".
Mas foi um estridente "mas vai-se calar ou quê!!??", atirado por Biden a Trump, que pode ter marcado o debate a favor do democrata devido à óbvia má-educação do republicano.
Para o último frente a frente da campanha, a 22 deste mês, Trump já fez saber que vai ser menos efusivo e rude com Biden, escolhendo para deixar essa informação o seu conselheiro sénior Jason Miller, que disse que o Presidente será "menos combativo nesse debate".
Citado pelo Político, Miller, a partir de uma entrevista à Fox News, admitiu que Trump "vai dar mais espaço a Biden para se explicar melhor sobre alguns assuntos importantes", explicando que esse mais espaço destina-se a que Biden fale do polémico artigo do New York Post, contendo dados alegadamente ilícitos sobre negócios envolvendo a sua família, incluindo a antiga polémica ucraniana.
O elemento mais mediaticamente polémico contra Trump é a sua ineficaz estratégia para debelar a pandemia da Covid-19 nos EUA, país que mantém a liderança em número de casos e de mortos no mundo, com a Casa Branca a ser um dos principais elementos de contravapor das medidas de confinamento, uso de mascara, etc.
Para este debate, segundo fontes do seu "staff", Trup vai apostar na economia, sublinhando o sucesso das suas políticas económicas pré-pandemia, ao que Biden tem procurado contrapor a ideia de que Trump visa em absoluto fazer colapsar o denominado Obamacare, a lei que protege os mais pobres sem acesso a seguros de saúde, em defesa do poderoso lobby da saúde privada.
Do lado de Biden, segundo alguns analistas citados nos media norte-americanos, a aposta será em vincar o caos que é a estratégia política de Trump, a sua aposta em garantir uma juíza para o Supremo em tempo de campanha eleitoral, o que nunca aconteceu por decoro quando isso dependia dos democratas, a destruição a todo o custo do Obamacare, sem esquecer a fraca eficácia da luta contra a pandemia ou a forma como o ainda inquilino da Casa Branca parece estar nas mãos e nas graças de alguns dos mais polémicos lideres mundiais, do russo Putin ao brasileiro Bolsonaro, do húngaro Orban ao filipino Duterte...
Mas há um elemento que pode revelar-se essencial nos próximos dias até ao debate, algumas ideias e frases lançadas por Trump sobre as mulheres, começando pela forma como tem estado a lançar ideias estereotipadas sobre as mulheres norte-americanas, conferindo-lhes um papel claramente secundário mas muito "seguro", e casa e nos subúrbios caucasianos das grandes cidades norte-americanas, ou ainda como procurou desvitalizar a competência da mulher que vai moderar o debate de quinta-feira na NBC, Kristen Welker, a correspondente deste canal na Casa Branca, acusando-a de ser "muito injusta", numa clara tentativa de a "obrigar" a mostrar que não o é no debate, conferindo-lhe algumas vantagens na moderação.
O que, "segundo alguns analistas, tem um forte potencial de revoltar uma importante faixa de mulheres, pelo menos as mais instruídas, beneficiando Biden, até porque a candidata a sua Vice, Kamala Harris (na foto), é uma afro-índia-americana que tem estado a ganhar densidade social e política neste campanha pela evidente vantagem discursiva que tem sobre o actual vice-Presidente de Trump, Mike Pence.