As atenções dos media norte-americanos e das equipas das candidaturas republicana e democrata não tiram os olhos dos estados da Pensilvânia, da Georgia, do Arizona e do Nevada, onde tudo está a ser decidido voto a voto, numa extensão, para já de 48 horas, no mínimo, das eleições de terça-feira, 03 de Novembro.

A Pensilvânia soma 20 votos ao Colégio Eleitoral e, quando, hoje, quinta-feira, 05, perto das 10:00 de Luanda - os EUA têm nove fusos horários - estão contados 89% dos votos, Donald Trump leva uma ligeira vantagem de cerca de 200 mil votos face a Joe Biden que, contudo, tem feito uma sólida recuperação nas últimas horas devido à entrada em cena dos votos enviados pelo correio, maioritariamente democratas , e a partir dos municípios mais urbanos de Filadélfia e dos subúrbios de Harrisburg, a capital do estado.

A decisão sobre quem ganha e perde neste importante estado ainda com as contas por fechar só deverá, segundo estava a avançar a CNN, ou ao final do dia ou mesmo na sexta-feira.

Outro estado fulcral nestas contas para saber quem é o 46º Presidente da maior potência mundial tanto económica como militar, e quando em cima da mesa estão questões-chave para toda a humanidade, como é disso exemplo a manutenção ou saída, como pretende o ainda Presidente Trump, do Acordo de Paris, que tem como objectivo garantir um combate sólida e eficaz à origem das alterações climáticas nefastas, é o Arizona.

Quando estão contados 86% dos votos, o Arizona dá a vantagem, igualmente ligeira, de pouco mais de 69 mil votos, a Joe Biden, para quem os seus 11 votos para o Colégio Eleitoral poderão ser fundamentais se não conseguir inverter o rumo da contagem na Pensilvânia. Também aqui, só ao final do dia de hoje, ou mesmo na sexta-feira, se terá uma ideia consolidada de quem ganha e de quem perde.

Na Georgia, o cenário é quase uma cópia do que se passa nos restantes três estados "campos de batalha" decisivos, mas com a vantagem ligeira a pertencer a Donald Trump, onde, com 95% dos votos contados, Biden precisa de recuperar cerca de 23 mil votos para poder meter no saco os 16 votos no Colégio Eleitoral, o que se prevê difícil tendo em conta a escassa margem para que isso suceda.

Porém, os analistas admitem que ainda existe uma frecha para que essa ideia passe tendo em conta que esta recta final da contagem é de eleitorado mais urbano e, por isso mesmo, tradicionalmente mais próximo dos democratas.

Nos Estados Unidos, como todos os inquéritos de opinião demonstram, as populações mais urbanas, com mais escolaridade e etnicamente mais diversificada concentra o voto maioritariamente nos democratas, enquanto as populações mais rurais, brancas e com escasso percurso académico, vota, numa esmagadora maioria, nos republicanos de Donald Trump.

Por fim, no 4º e último estado fundamental para empurrar Biden de regresso à Casa Branca, onde já foi frequentador assíduo quando era vice-Presidente de Barack Obama, e dela expulsar ou nela manter Donald Trump, o Nevada, é Biden que já tem quase metidos no bolso os seus seis votos para o Colégio Eleitoral.

Isto, porque quando estão contados 86% dos votos deste estado, conhecido pela sua maior cidade, Las Vegas e as dezenas de casinos que a iluminam e atraem milhões de pessoas de todo o mundo, Joe Biden mantém uma liderança sólida, mesmo que pouco expressiva, e tudo indica que a vá manter porque os votos que faltam somar são, tal como nos restantes três "campos de batalha", de um eleitorado urbano e esclarecido, maioritariamente democrata.

No entanto, a margem é pequena, pouco mais de 8 mil votos, o que pode ainda deitar por terra a caminhada de Biden para a Casa Branca ou garantir que Trump vai continuar a poder sentar-se na Sala Oval.

Para já, esta corrida pelo poder nos States, promete acabar sentada... nos tribunais. Tudo, porque os republicanos já garantiram que não vão aceitar de ânimo leve uma vitória de Joe Biden, tendo, para já, exigido a recontagem dos votos no Wisconsin, onde o democrata ganhou com menos de 1% de vantagem.

A fera Giuliani salta para o meio da praça

E, mesmo que ainda não tenha sido dado esse passo, um dos principais assessores jurídicos de Trump, Rudy Giuliani, o antigo "mayor" de Nova Iorque, que o Presidente enviou para a Pensilvânia, juntamente com o seu filho Erik Trump, para garantir poder de choque jurídico, já acusou os democratas de uma "gigantesca fraude", alegando para isso que os votos por correio que estão a dar a liderança a Biden "podem ter vindo do planeta Marte ou do comité democrata".

"Nenhum republicano recebeu ou teve a oportunidade de votar por correio", alegou Rudolph Giuliani, o que é evidentemente um dado errado porque nalguns estados decisivos, os republicanos estão a somar votos provenientes de boletins enviados antecipadamente por essa via, incluindo na Pensilvânia, onde esta acusação foi feita.

Mesmo que Biden já seja o candidato com mais votos em mais de 100 anos de eleições nos EUA, com mais de 71 milhões, ultrapassando mesmo os 69,5 milhões de Obama em 2008, e, mesmo assim, a sua vitória não está garantida devido às singularidades do sistema eleitoral norte-amerciano, onde os eleitores não decidem directamente quem ganha, passando essa responsabilidade para um Colégio Eleitoral constituído com contributos dos 50 estados dos EUA, sendo que os mais populosos têm direito a mais votos para esse Colégio.

E, ainda apesar dessa votação histórica, a equipa de Donald Trump não estanca o passo e já garantiu que tudo vai ser decidido no Tribunal Supremo, alegadamente porque detectarem indícios de irregularidades na votação por correio.

Esta alegação contraria a maioria dos analistas do país e dos media que acompanham a votação município a município, porque há meses se sabia que muitos eleitores, na maior democratas, por causa da pandemia da Covid-19, estavam a optar por votar por correio ou presencialmente em urna mas de forma antecipada.

Os republicanos optaram bastante menos por esta possibilidade de enviar o voto pelo correio porque, como é conhecido sobejamente, Donald Trump tem insistido fortemente na desvalorização da Covid-19 como doença séria e perigosa, a ponto de desaconselhar mesmo o uso de máscara facial.

Todavia, numa conferência de imprensa inusitada, Rudolph Giuliani e o filho de Trump, Erik, avisaram que vão haver recurso para o Supremo e o filho mais velho do ainda Presidente disse mesmo, em forma de questão, que "os republicanos não são estúpidos" para aceitar "a fraude que está em curso".

"Eles estão a roubar a nossa vitória", acusou Erik Trump, repetidamente nesta conferência de imprensa que vai marcar definitivamente estas eleições pelo potencial que tem de prolonbar a indecisão por semanas, como sucedeu há 20 anos, entre Al Gore e George W. Bush, que só ficou esclarecido ao fim de várias semanas.

Sem mostrar qualquer evidência das acusações que fez, Giuliani teimou em afirmar que estava em curso uma fraude com os votos por correio: "Isto está muito para lá do que já alguma vez foi visto", exclamava.

No Delaware, o seu estado, Joe Biden apenas fez uma declaração, quando os dados do terreno permitiam já perceber a sua vantagem, onde afirmou que só iria declarar a sua vitória após a contagem total dos votos, como forma de respeitar todos os eleitores, mas sublinhou que a sua convicção clara e inequívoca era a de que tudo estava muito bem encaminhado para uma "vitória esclarecedora".