Candidato do Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), uma formação política criada por um grupo de dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Umaro Sissoco Embaló foi o vencedor da segunda volta das eleições presidenciais de 29 de Dezembro.~
Depois de uma sucessão de recursos por parte do candidato derrotado na segunda volta, Domingos Simões Pereira, Embaló viu esta terça-feira confirmada a sua vitória pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau.
A decisão surgiu depois de ter voltado a fazer o apuramento nacional no âmbito do cumprimento do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, que tinha ordenado a repetição do acto na sequência de um recurso interposto pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
O candidato derrotado e líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) está em Luanda e foi recebido na terça-feira pelo Presidente da República, João Lourenço (na foto), no Palácio da Cidade Alta, onde, em declarações aos jornalistas, reafirmou a sua convicção de que as eleições presidenciais guineenses foram irregulares.
Nessas declarações, Simões Pereira acusou o Senegal de estar por detrás do esquema que o conduziu à derrota eleitoral em favor de Umaro Sissoco Embaló, argumentando com o facto de Dacar estar interessado no petróleo do mar da Guiné-Bissau, contando com a benevolência do Presidente-eleito para gerir esse recurso natural à medida dos seus interesses e não dos interesses de Bissau.
Após a audiência com João Lourenço, Simões Pereira não se poupou às palavras para expor aquilo a que chamou "evidências claras em torno do processo eleitoral na Guiné-Bissau", e lembrou que a sua candidatura deu entrada no tribunal um requerimento que contesta os dados da Comissão Nacional de Eleições sobre o apuramento de resultados subsequentes à recontagem dos votos.
"É importante que a imprensa internacional e, neste caso, a angolana, compreenda que introduzimos no Supremo Tribunal de Justiça um requerimento, porque os dados que a CNE anunciou não têm fundamentação para os apuramentos que deviam ser feitos",
"Na terça-feira (dia de Carnaval), em mais uma teatralização, a CNE convocou as partes para o apuramento mas descobriu-se que estava em falta a acta nacional e das dez regiões do país", disse Domingos Simões Pereira, que aproveitou para explicitar o óbvio: "A CNE só conseguiu apresentar actas de duas regiões administrativas e, face a isso, não consegue demonstrar a validade dessas actas".
A Guiné-Bissau vive praticamente desde o fim da ditadura de Nino Vieira, que terminou em finais da década de 1990, em permanentes crises políticas e militares, com assassínios de chefes militares, de um Presidente, o próprio Nino Vieira, sem que seja possível perspectivar o fim do pesadelo em que este pequeno país lusófono da África Ocidental vive há décadas.
Mas, para hoje está prevista mais uma tomada de posse de um Presidente que chega ao poder com o peso da dúvida nos ombros.
O novo PR
Nas redes sociais, Embaló convidou os seus compatriotas "num espírito de união e de concordância nacional", para a cerimónia da sua investidura que vai terlugar hoj em Bissau.
O novo Presidente da Guiné-Bissau diz que o seu compromisso é com o povo guineense e que "desta vez haverá solução para a Guiné-Bissau e para todos os guineenses sem exclusão" mas que exigirá "rigor e disciplina".
"A primeira coisa que temos de fazer é unir os guineenses e dar confiança aos guineenses, sem arrogância. Hoje não posso estar aqui a pensar que sou melhor que os outros. Temos de ter respeito mútuo", frisou.
O "general do povo", como é conhecido entre os seus apoiantes, tem 47 anos e prometeu que, sendo eleito Presidente da Guiné-Bissau, acumularia a pasta da chefia dos Negócios Estrangeiros.
A sua campanha ficou marcada por declarações em que defendia a pena de morte para os traficantes de droga.
"Os bandidos? Tenho lugar para eles na cadeia. Os marginais? Tenho lugar para eles na cadeia. Droga? Eu vou mesmo sugerir a pena de morte para os traficantes se for eleito. Para mim é intolerante, não podemos estar aqui a banalizar uma sociedade a traficar drogas. Aqui não é a Colômbia e a gente conhece as pessoas que traficam droga, e os que utilizam a Guiné-Bissau como passagem de droga. Haverá pena de morte para essas pessoas", afirmou.
Também a sua imagem de marca durante a campanha para as presidências, um lenço vermelho e branco que usa na cabeça, foram criticadas pelos seus adversários, que o acusam de ter um discurso étnico e religioso, ligado ao extremismo islâmico.
Às acusações dos opositores, Umaro Sissoco Embaló responde que é "um muçulmano casado com uma católica e um homem de paz" e que usa o lenço porque gosta e para se proteger do calor.
Diz que a política "é um exercício, como futebol e outros, não uma questão de vida e morte"
"Eu já vivia antes de ser político e no dia que sair da vida política vou continuar a viver", promete o novo Presidente da Guiné-Bissau.