António Guterres, que é odiado pelo Governo israelita de Benjamin Netanyhau e dos seus aliados radicais dos pequenos partidos religiosos e de extrema-direita, tem sido coerente nas críticas à forma como Israel conduz a guerra em Gaza sem proteger os inocentes civis.
O português que dirige a ONU há quase seis anos, aludiu ainda à ineficácia do Conselho de Segurança na questão da guerra na Ucrânia, mas foi a questão de Gaza que mais esteve saliente na sua intervenção no Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra, na Suíça.
Para corrigir estes problemas, que resultam na inoperacionalidade do órgão mais importante das Nações Unidas, devido ao poder de veto de russos, norte-americanos, chineses, franceses e britânicos, Guterres propõe a sua reforma, na composição é no método de funcionamento.
E lembrou o recente veto, há menos de uma semana, dos EUA, quando a Argélia, em nome da Liga Árabe, apresentou uma resolução a votação onde era exigido um cessar-fogo humanitário imediato de forma a proteger civis e levar ajuda aos 2,3 milhões de pessoas cercadas em Gaza.
É, como recorda The Guardian, a 3ª vez que os Estados Unidos vetam um projecto de resolução que visavam criar condições de protecção aos civis, quando já se somam 30 mil mortos e mais de 85 mil feridos deste o início da operação militar israelita.
Operação essa que surgiu após o ataque do Hamas ao sul de Israel, a 07 de Outubro, deixando um rasto de mil mortos e 2 mil feridos, além da destruição de dezenas de habitações em aldeias e kibutzs perto da fronteira com Gaza.
A Faixa de Gaza, um território exíguo de 365 kms2, alberga 2,3 milhões de pessoas, está praticamente sem acesso a alimentos e água há três meses, os seus hospitais estão reduzidos a mínimos em seis, e a maioria (36) inoperacional e mais de 75% dos seus edifícios e habitações foram bombardeados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), por terra, mar e ar.
Um cessar-fogo é considerado por todas as organizações humanitárias como fundamental para salvar milhares de vidas mas Israel não aceita e ameaça agora entrar em Rafah, cidade junto à fronteira com o Egipto, para onde fugiram mais de um milhão de pessoas.
Se as IDF avançarem sobre Rafah, mais de 1,2 milhões de pessoas ficam sem ter para onde ir, porque ali chegaram por imposição dos israelitas no seu avanço terrestre de norte para sul, tendo já António Guterres advertido que se tal suceder, será uma tragédia inimaginável.
Entretanto, também esta segunda-feira, a Human Rights Watch (HRW), a mais imporante organização global de defesa dos direitos humanos, acusou o Governo de Netanyhau de estar a bloquear propositadamente a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
A HRW diz que Telavive está a matar palestinianos à fome propositadamente, acusando ainda Israel de não estar a cumprir uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) da ONU que é de evitar actos que se enquadrem no acto de genocídio.
Esta organização humanitária entende que os israelitas estão a matar à fome milhares de palestinianos propositadamente, ao não aplicar, como o TIJ exige, medidas imediatas que permitam a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
E isso está a ser feito com o bloqueio dos acessos dos camiões de ajuda nas fronteiras com Gaza, e ainda no acesso ao norte do território, onde está a sua capital, a Cidade de Gaza, que foi o primeiro a ser atacado e mais destruído mas onde ainda estão milhares de pessoas.
"O Governo de Israel está a deixar morrer à fome 2,3 milhões de pessoas", acusou Omar Shakir, o director israelo-palestiniano da URW, citado pelo britânico The Guardian.